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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Nietzsche e o amor!

"As paixões se tornam más e pérfidas quando são consideradas com maldade e perfídia. Foi assim que o cristianismo chegou a fazer de sublimes forças capazes de idealidade, de Eros e de Afrodite, génios infernais e espíritos enganadores, criando na consciência dos crentes, a cada excitação sexual, remorsos – que a alguns levaram até a loucura. Não é espantoso transformar sensações necessárias e normais em fonte de miséria interior; e assim, voluntariamente, tornar a miséria interior necessária e normal em todos os homens? Além disso, essa miséria permanece secreta, mas ela não tem senão raízes mais profundas: pois, nem todos têm, como Shakespeare em seus sonetos, a coragem de confessar a tristeza provocada pelo cristianismo nesse domínio.
(...)Tem-se o direito de chamar inimigo a Eros? As sensações sexuais, da mesma forma que as sensações de piedade e de adoração, têm de particular que o homem, ao experimentá-las, faz o bem a outro por seu prazer — não se encontra muitas vezes na natureza disposições tão benfazejas! E é justamente uma delas que é caluniada e que é corrompida pela má consciência! — Mas essa demonização de Eros acabou por ter um desfecho de comédia: o “diabo” Eros se tornou aos poucos mais interessante para os homens do que os anjos e os santos, graças aos boatos e as disposições misteriosas da Igreja em todas as questões eróticas: é graças a ela que as histórias de amor se tornaram o único interesse verdadeiramente comum a todos os meios — com um exagero que pareceria incompreensível à antiguidade — e que um dia não deixará de provocar a hilaridade. (Já provoca!) Todo o nosso pensamento, do mais elevado ao mais baixo, estão marcados e mais que marcados pela importância excessiva que se confere aos comportamentos relacionado com o amor, apresentado sempre como acontecimento principal. Talvez por causa desse juízo a posteridade haverá de encontrar em toda a herança da civilização cristã alguma coisa de mesquinho e de maníaco. “
Nietzsche, in Obras Completas de Nietzsche –
Texto revisto por Alexnietzsche, no intuito de melhorar um bocadinho o português das traduções, sem desvirtuar o original.