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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

As últimas palavras sempre são do homem: Sim Senhora!


… a praça, um espaço largo com árvores e algumas mesas, com pessoas de pé assistindo 4 indivíduos a jogar Truco, foi abalada pela voz estridente da mulher:
- Eurico!!! Vem cá!!
- Já vou.
Mas Eurico continuava absorvido no jogo das cartas e deixava passar o tempo sem se levantar do banco de pedra…
- EURICO!!! VEM CÁÁAA!!!!
- JÁ VOU MULHER!!!! Que coisa!!!
- Vem cá ajudar a depenar o frango!!!
- Eurico vá, páre de gritar para a sua mulher!!
- URICO!!!!!!!
- Vou já, Bosta!! – resmungava Eurico!!
O certo é que Eurico adorava jogar Truco, muito mais que depenar frangos.
E a mulher de Eurico? Ela detestava odiava o jogo do Truco, mas acima de tudo ela abominava ainda mais uma coisa – esperar!!
- URICOOOO!!! Ou você vem ou vou eu ai!!
- Eurico vá homem vá depressa ou a sua mulher vem buscá-lo por uma orelha!! Ahahah
Eurico enfurecido levantou da cadeira com raiva, arremessou o baralho de cartas sobre o tampo da mesa, e ameaçou: ela vai apanhar ai ai vai,  se ouvirem barulho  e gritaria não acudam!  Mulher que abusa, merece é receber cabresto!!!
- Eurico vá lá homem, sua mulher está mandando!
- Vou ver o que ela quer!!! –disse ele afastando-se da praça…
- Sabiam que a mulher de Eurico quando quer comprar um electrodoméstico vende a bunda ao marido? E diz que mulher que dá de graça é besta!!  Ahahahahah
- É mesmo? Ahaha kkkk kkkkkk kkkkkk
E depois de alguns comentários e risadas em torno da pessoa de Eurico e da mulher, já ninguém lembraria deles não fosse vir do fundo da rua uma grande gritaria!, que foi aumentando a pontos de alarmar todo o mundo!!
Ouviam-se os cães de Eurico ladrar, sons de tachos de pratos de cozinha se quebrando, e frangos e galinhas que passeavam pela cozinha saiam agora apavorados pela janela largando as penas …
- O povo todo correu uns atrás dos outros e a praça ficou vazia…  estavam alarmados e receavam o pior… todos riam do Eurico e da mulher mas na verdade todos gostavam muito de Eurico, um daqueles homens raros de bondade… e claro ninguém queria ver o Eurico na cadeia…  
Aproximando-se todos da entrada da casa ouviram Eurico gritar EU TE MATO, a porta de entrada estava encostada e todos os que puderam entraram de rompante. Eurico estava no chão, a mulher tinha um joelho pressionando a garganta do homem, puxando-lhe os cabelos!
- olhem Eurico está apanhando da mulher!!! Ahahah kkkkkkkkk kkkk
e dois amigos de Eurico acudiram, arrancando-o dos braços da mulher, disseram-lhe, viu Eurico no que deu enfurecer sua mulher!!! – a expressão de Eurico dizia, errei!! não devia ter abandonado o jogo! 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

adivinhem qual é o meu penacho


 estava a andar e avistei um papagaio verde sobre um poleiro perto dum kioske – havia duas oliveiras e um palmeira ao redor e o papagaio pareceu-me atractivo – ainda dei dois passos na direcção que levava – os seguintes já foram na direcção do papagaio e estranho seria se assim não fosse - é que eu gosto de animais e tenho um fraquinho por aves! - já é de família!
Até nos pombos da cidade eu reparo!,
Surpreendeu-me esta semana ver três pombos agachados em três sítios inusitados, em locais diferentes contudo similares, refiro-me à altura. Um estava imóvel sobre a relva do Parque Eduardo VII, outro à sombra, atrás de um pilar dum prédio de habitação, e o terceiro igualmente agachado sobre o primeiro degrau no acesso à porta de uma casa na Av. Almirante Reis. Pensei «estes pombos pousados no chão ou estão a mudar de comportamentos ou estão doentes sem forças para voar para lugares mais altos, - são presas fáceis e estão vivos! é estranho não serem caçados pelos gatos vadios na cidade! ah não admira – os gatos castrados não se reproduzem!... »
 … mas chega, não quero falar-vos mais de pombos nem de gatos castrados – prefiro retomar ao episódio do papagaio, que foi o que me trouxe aqui!...
passos depois da minha mudança de direcção já eu tentava apresentar-me à ave de penas verdes!, não é tarefa fácil. Se tentarmos tocar-lhe corremos o risco de levar uma bicada… A plumagem, reparei, não a tinha muito cuidada, deveria ser um cinquentão! Mirava-me ora com um olho ora com o outro. A cabeça revirada para trás, alardeando alguns gritos assustadores. – Percebia-os – provinham do medo do meu tamanho e de lhe ser estranho! O instinto fizera-o gritar, e ele gritou durante um breve espaço de tempo. Depois deve ter pensado «não surte efeito, o homem não se afasta! está aqui mesmo ao lado!, devo estar-lhe a parecer um louco!» e calou-se. As penas no cimo da cabeça eriçadas baixaram e começou a olhar-me de outra maneira. Estava a estudar-me! Amigo ou inimigo? Quanto a isso eu não queria que ele tivesse dúvidas! Então peguei numa das sementes de girassol que estavam no chão do seu ninho metálico e tratei de lhe mostrar que lha queria dar no bico. O comportamento dele gerido por um instinto inteligente mudou de imediato, pensou «quer me dar comida boa, deve ser amigo!» todavia rejeitou a semente, nem tentou pegá-la com os dedos da pata! Já não era o mesmo papagaio de há pouco, baixou a guarda e depois a cabeça! Eu ainda receei que ao aproximar a mão me bicasse, mas incrível ele fechava os olhos inteiramente confiante…
mais importante, do que a comida que ele tinha como garantida, queria que eu lhe tocasse!, baixou a cabeça aproximando assim o pequeno penacho. Com a unha do dedo indicador como se fosse um bico dum seu semelhante fui tocando-lhe nas penas da cabeça…. pela imobilidade a expressão dos olhos semi-fechados – notei - estava deleitado… cheguei mesmo a tocar-lhe perto dos olhos e no bico… expondo o meu dedo ao golpe, qual domador a meter a cabeça dentro da boca do leão… a ponta do dedo ali ao perigo no meio do bico… que arrepios … nada fez… revirou um pouco a cabeça baixando-a mais… levei de novo o dedo ao cimo da sua cabeça e lento e suavemente massajei-lhe a pequena plumagem, começaram-se a passar minutos, e eu queria ir, ir à minha vida, mas o prazer do papagaio era tão visível tão palpável!!!
quem lhe faria festas? Só os estranhos!
por isso me demorei para ele e com ele, sim confesso, deu-me muito prazer dar-lhe festas! Entendi-o melhor que ninguém quando ele me disse: sinto inveja dos macacos no Zoo, são mais tocados e acarinhados que eu!
… os olhos dele estavam tão fechados e o corpo tão imóvel que até me pareceu que adormecera… estava ali somente ali… sem passado sem futuro…
… a dona do Kioske já olhava... eu não podia ficar ali o dia todo e interrompi o contacto,  o papagaio continuava com os olhos fechados sentindo o contacto prazeiroso. Olhei-o uma ultima vez, virei costas e fui-me embora…
… nem perguntei como ele se chamava… não foi preciso!

 pois amigos adoraria ficar aqui a falar-vos de macacos e papagaios e outros mais... mas tenho que ir, provir ao meu sustento… não me pagam para escrever… mas quem me lê, lê-me até ao fim… 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

uma loira excepcionalmente acelerada


 … via-se a léguas que a loira tinha bastante pedalada – quase arrancava a bicicleta do chão do ginásio… ninguém sabia onde ela ia buscar forças para passar 2 horas a pedalar…
- Está? olá Alex,…(a voz da fonte emissora era a de uma senhora na casa dos 50 anos a quem eu volta e meia telefonava…)
- lembra-se de lhe falar da minha amiga que conheci no ginásio? Você não imagina como é aquela mulher!, eu já lhe disse que ela andava com o Personal Trainer? Sim? Ah pois já lhe contei!, sabe como eu soube? Veio-me pedir emprestado o apartamento, por uma noite! Mas não sabe a melhor, além do marido e do P T ainda anda com um colega lá do trabalho. Olhe emprestei-o. Não acha que fiz bem? Tem dias, diz, que avia os 3, já viu? Se você visse como eles me revolveram o quarto. Ui … tive que chamar a empregada de limpeza! Sabe o que ela me contou?, oiça, não tenha pressa Alex, não desligue! Disse-me que não sabia como devia depilar a coisa… e que lembrou-se de pedir conselho aos três. O P T queria-la toda depilada!, o marido mais conservador queria-la normal mais cabeluda, e o colega também. Imagine! Olha sabe a quem fez a vontade? Ao marido??!! Acha??? O Alex é tão ingénuo. Foi ao Personal Trainer, e sabe porquê? Porque é ele que a come melhor, disse! Ahahah ela é demais… e sabe o melhor, o marido dela anda com uma brasileira, e que foi o próprio que lhe contou, ai o mundo anda perdido!!! não sei o que é que os homens vêem nas brasileiras? – até sei… dizem têm um mamar doce!, têm Alex? – então não me  responde? - Quem é que me disse que as portuguesas estão consideradas as mulheres da Europa mais difíceis de levar para a cama?? Ah já sei foi um surfista! Outra muita engraçada dela foi esta, conto-lhe já! Disse que no antigo trabalho tinha um colega lindo, todo bom com um sinalzinho sobre o lábio! - está a ver ela a contar-me e a morder os lábios e a fechar os olhos – Quando estava a sós com ele dizia-lhe muitas vezes «se não fosse casada, dava-te muitos beijinhos no sinal.»  E quando fala dos dois filhos? «O meu mais novo não fala com ninguém tem um feitiozinho de merda. Ainda bem que a minha sogra diz que eles são a cara do filho! o meu mais velho nasceu com um sinal sobre o lábio igualzinho; quando a enfermeira mo deu acabado de nascer e lho vi, lembrei-me logo do meu colega!» ahahah ela é toda acelerada, disse-lho outro dia – pois sou! como não haveria de ser? O meu pai sempre diz – foste feita em cima de uma mota, guria!... num pinhal!!... Alex até lha apresentava, mas é melhor não, o Alex merece umas amigas mais cultas!...
mas conte sobre ela:
para o Alex eu conto sim:
- essa minha amiga quando ouvia o pai dizer "o meu maior pesadelo foi feito em cima do meu maior sonho" até exclamava para si própria admirada «O meu pai surpreende, afinal é cabeça!!!» - e foi assim durante anos sempre que dizia a frase ia adensando cada vez mais o misterioso mistério... um dia chegou a casa bêbado - chegava quase sempre, mas desta vez um pouco mais bêbado do que o costume - e voltou a repetir a frase para a filha... ela de tão intrigada vendo-o falador achou a altura certa para desvendar o mistério:  deixou passar uma meia hora e falou-lhe assim: meu pai você nunca me falou dos seus sonhos, qual foi o seu maior sonho diga para a sua filha: 
- Uma mota!!! que eu comprei e que hoje já nao tenho!
- E o que voce fez em cima dessa mota? - 
- Comi a sua mãe!!!
olhou para o pai sem querer acreditar 
agora entendi.... essa sua frase...
qual frase filha???
a frase que voce sempre repete

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

é para ler se faz favor

 … é preciso repensar as culturas, conhecer muitas, para, depois das relativizar, tirar proveito desse conhecimento!, outro dia escutei que na cultura ocidental o trabalho é um castigo – relembrei ainda que estávamos no Éden e súbito, por causa de havermos cometido o pecado original, a cópula, fomos dele expulsos…

… sempre detestei o império romano! Usavam o "tripalium", um instrumento de tortura, como uma cadeira de três pés ('tri') ou varas (“palium”) para amarrar os escravos e açoitá-los! - Ora de um instrumento de tortura não pode advir nada de bom! Só dor, sofrimento e morte!, e da palavra que o designa também não! – As tarefas dos escravos dominados pelos romanos só poderiam ser cruelmente exaustivas para estes as associarem ao martírio da tortura no “tripalium” - na verdade a cultura ocidental ainda não se livrou do mal que essa tortura causou! – entenderemos assim se pensarmos na palavra que por associação de conceitos derivou do tripalium romano – trabalho! - o qual era e continua a ser encarado como um castigo... não admira que em consequência disso haja quem veja o trabalho como um meio para causar sofrimento ao trabalhador! - para essa gente um dos maiores prazeres da vida é humilhar os seus semelhantes!, - é gente com quem não me dou - atiro-lhes à cara! ironizando!, - uns gostam de foder o próximo, outros a próxima!
Mas comparai a nossa cultura com a japonesa! enquanto para nós os latinos o trabalho é um castigo, para eles é o caminho para o Paraíso!...
É por isso eles não se atrasam, a chegar ao trabalho!

Voltando lá acima. Estávamos no Éden e súbito, por causa de havermos cometido o pecado original, a cópula, fomos dele expulsos…
Mas que ideia absurda a do pecado original!!!
Pecado o caralho!! Pecado o caralhinho!!!...
… deixai-me gritar por favor!!
- Não houve pecado nenhum ó filhos da puta!!, oh grandessíssimos filhos da p…!!! Agarrem-me! antes que cometa um crime! Quem inventou o sexo fez mais vida!! Ouviram??? Larguem-me!! Podem-me largar se faz favor!, Que imbecilidade, que falta de bom senso! Dá vontade de ordenar: tragam-me os culpados pela historieta do pecado original!!!... que comédia! Ó Nietzsche! 

terça-feira, 24 de julho de 2012

O cão ladra, Deus consente!


É acertado afirmar que os homens que combatem a fé em Deus, o fazem por acreditarem que é insustentável poder-se esperar alguma coisa de coisa alguma; nas suas mentes Deus não passa do fruto da imaginação do homem, nas suas mentes Deus é coisa que não existe senão como ideia. Assim eles não combatem Deus – é difícil combater o que não existe – mas a ideia de Deus. Na Religião Católica recebemos da Bíblia uma aproximação "ideal" da definição de Deus; é aceite que Ele, Deus é omnipotente, omnisciente e omnipresente. Ora, pergunto, quem provar a impossibilidade de ser Deus omnipotente, não provará a inexistência dessa ideia de Deus? Sim, assim creio. E como então provaremos tal inexistência? Ora, poucos católicos negarão que o poder existente num ser confere-lhe a faculdade de poder intervir, de alterar algo; e manifesta-se quando na verdade altera. Assim, de que modo podemos nós homens compreender a omnipotência e a omnisciência de um Deus que aceita ser testemunha das dores mais agudas dos homens sem ousar manifestar-se? Os ateus compreendem-no assim: não existe omnipotência, não existe omnisciência, não existe Deus - é que para estes não há saber nenhum no Universo que legitime a não ajuda, pois tal é um crime[1]. - Os religiosos defendem-se, e dizem «Só a omnisciência ininteligível de Deus legitima a sua não intervenção». Contrapõe ali um ateu: «Até o Fox Terrier dos vizinho quando vê os donos guerrearem-se lhes ladra...» interrompe-o, um intelectual  «É o que o teu cão tem indubitavelmente mais ciência que a omnisciência de coisa alguma».
Sim, deverá ser isso, querem os religiosos fazer crer a ateus que quanto à omnisciência de Deus não lhes é dado suficiente inteligência para entendê-la. Respondem os ateus «Ficai vocês com ela. Não queremos ser abonados com uma inteligência que não presta ajuda a quem dela urgentemente precisa. Envergonhar-nos-ia até ao tutano.»
A inexistência da omnipotência de Deus é provada por uma só omnisciência legitimar a sua não intervenção: a omnisciência de coisa alguma. Acrescente-se que tal omnisciência não cabe, nem poderá nunca caber na mente de ateus humanistas. Vale.

Arthur Schopenhaeur legou-nos - acerca do panteísmo – este genial trabalho:
“A minha principal objecção ao panteísmo é que não tem significado. Chamar ao mundo Deus não é explicá-lo, mas apenas enriquecer a linguagem com um sinónimo supérfluo para a palavra mundo. O efeito é o mesmo se se disser «o mundo é Deus» ou «o mundo é o mundo». Se partirmos de Deus como aquilo que é dado e se pretende explicar, dizemos «Deus é o mundo»; depois, por certo, daríamos uma explicação, na medida em que isso seria remontar o ignotus ao notius, embora continuasse a não ser mais que uma explicação da palavra. Mas se partirmos daquilo que é realmente dado, o mundo, e dissermos «o mundo é Deus», então torna-se claro como o dia que isso nada diz, ou, no máximo, explica o ignotium pelo ignotus.
Daí que o panteísmo pressuponha a pré-existência do teísmo: pois apenas partindo de um Deus, ou seja, tendo já um e conhecendo-o, é possível vir a identificá-lo com o mundo, na verdade para o pôr delicadamente de lado. Não se parte, sem preconceitos, do mundo como aquilo que vai ser explicado; parte-se de Deus como aquilo que é dado, mas em breve, não sabendo o que fazer com ele, deixa-se o mundo tomar o seu papel. É essa a origem do panteísmo. Pois nunca ocorreria a pessoa alguma com uma visão isenta de preconceitos do mundo considerá-lo como Deus. Teria, sem dúvida, de trajar-se de um Deus muito mal-avisado, que não soubesse fazer melhor do que transformar-se num mundo como este.
O grande avanço que se supõe que o panteísmo representa sobre o teísmo é, se for tomado seriamente e não como uma simples negação disfarçada, uma transição do improvado e dificilmente concebível para o decididamente absurdo. Porque, por muito obscuro, vago e confuso que possa ser o conceito que está aliado à palavra Deus, dois predicados são, não obstante, inseparáveis dele: supremo poder e suprema sabedoria. Mas que um ser provido desses dois predicados se transferisse para uma situação como a que este mundo representa é, francamente, uma ideia absurda: porque a nossa situação no mundo é obviamente de tal ordem que nenhum ser inteligente, para não dizer omnisciente iria transplantar-se para ela.”


[1] Art. 200º
(Omissão de auxilio)
1. Quem, em caso de grave necessidade, nomeadamente provocada por desastre, acidente, calamidade pública ou situação de perigo comum, que ponha em perigo a vida, a integridade física ou a liberdade de outra pessoa, deixar de lhe prestar o auxílio necessário ao afastamento do perigo, seja por acção pessoal, seja promovendo o socorro, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.
2. Se a situação referida no número anterior tiver sido criada por aquele que omite o auxílio devido, o omitente é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Alfredo Marceneiro, revisitado

... a andar pelas ruas de Lisboa, desde a Rua do Carmo até à estátua do Pessoa, notei o que já não sentia há anos, o prazer de olhar para a diversidade das pessoas e dos seus rostos… subia num passo lento e vagaroso quem sabe para ver com mais atenção quem por ali andava, quando oiço alguém em lugar discreto a cantar baixinho ali perto… olhei para a direita e ouvi uma sexagenária encostada a uma parede a cantar um fado… apesar da idade a voz era límpida!, e disse-lhe – canta muito bem! – continuei a andar para não lhe incomodar o canto…… um minuto depois vinda de trás diz-me ela em voz alegre ao passar - obrigado, pelo seu elogio!-Olho-a com atenção e penso, “esta mulher tem muito para dizer - vou falar com ela!” –  alcanço-a em poucas passadas e ela vendo-me dispara a falar: - Olhe foi muito bom saber que gostou de me ouvir. Sabe, cantar é o meu destino, mas cantar não foi o meu destino, e se eu lhe dissesse que aos 24 anos cantei no Coliseu, fiquei em 6º lugar pela Moraria!, mas naquele tempo custava-me tanto cantar em público, tinha tanta vergonha!, Ainda pensei voltar a cantar, depois de ter o meu filho! Mas já trabalhava! Fui administrativa! Os meus irmãos tantas vezes me pediam – Vai cantar!! Ai tinha tanta vergonha. Como eu mudei! Agora não tenho! Canto na rua! Não me importo que pensem que sou louca, quem pensa que sou é que é louco! Eu venho para aqui mesmo porque gosto de cantar! Quando canto vivo o momento! Depois puxou-me por um braço para uma rua menos iluminada e disse-me:- tenho 68 anos mas a minha voz não o diz!, não lhe parece que tenho uma voz mais nova? - parece sim!- sabe porquê? por três coisas! Não fumo! Não bebo e não faço noitadas. Escute. Veja se conhece este fado do Alfredo Marceneiro.- depois voltando a agarrar-me o braço encetou a cantar estes desconhecidos versos...


Fui de viela em viela
Numa delas dei com ela
E quedei-me enfeitiçado
Sob a luz dum candeeiro
Estava ali o Fado inteiro
Pois toda ela era fado

Arvorei um ar gingão
Um certo ar fadistão
Que qualquer homem assume
Pois confesso que aguardei,
Quando por ela passei,
O convite do costume

Em vez disso, no entanto,
No seu rosto só vi pranto
Só vi desgosto e descrença
Fui-me embora amargurado
Era fado, mas o fado
Não é sempre o que se pensa

Ainda recordo agora
A visão que ao ir-me embora
Guardei da mulher perdida
A pena que me desgarra
Só me lembra uma guitarra
A chorar penas da vida

assim que acabou de cantar passou a explicar-mo a canção - e referindo-se à letra disse - ela que ele encontrou era uma mulher da vida... " aguardei...  O convite do costume"... já entendeu? - e continuou explicando-me com um entusiasmo raro cada verso da letra - versos que nunca ouvira - mas como haverei de vos dizer, a arte mais cedo ou mais tarde vem ter com os artistas...
 
 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

posso jogar?


… outro dia cruzei-me com um garoto de etnia cigana, olhou-me fixamente durante longos segundos e quiçá por pressentir que não lhe faria mal ou, ao invés, que poderia constituir uma ameaça à sua integridade física, súbito, ouvi-o alvejar-me com uma palavra.
- Careca!!
… eu pensei «olha a ousadia do miúdo! não teme chamar um nome a um estranho com uma estatura que faz o dobro da dele»… e então para que ele sentisse o quanto me elogiava decidi dar-lhe o devido troco…
- Gordinho!
… chamei-o assim decerto devido à minha educação de fundo literário que até quando tenta ofender não consegue deixar de ser simpática – algumas pessoas a quem contei este episódio disseram-me que fui muito brando… que o que se impunha chamar-lhe era gorduxo ou até mesmo gordo.
     O ciganito voltou à carga!
     - O que é que disseste CARECA?
     - Que és GORDINHO!
… percebendo ele a ofensa e sentindo-se escudado no seu território pela relativa proximidade da sua mãe, que a um grito seu ocorreria à janela, vociferou sem medo:
     - Vai-te foder!
     Ouvi e ignorei; continuei no caminho querendo mostrar total indiferença, mas a verdade é que continuava a ouvir as palavras do gorduxo!, e pensei «o miúdo a continuar assim arrisca um tabefe de um adulto…»
     Com o passar dos dias já deveria ter esquecido o episódio com o ciganito gordo não fosse tê-lo visto segunda vez…
     Foi a um Domingo. Estava o meu filho a sofrer a última meia hora o jogo do final da Taça, por o Sporting Clube estar a perder com a Académica de Coimbra, e disse-lhe:
     - Andrew, não vale a pena apoiares nem sofreres por causa do futebol, olha o pai, que adora jogar futebol, nunca sofreu por nenhum clube! – e, para ele ver mais razão no que lhe dizia, perguntei-lhe:
     - O Sporting por acaso dá-te alguma coisa para te importares e sofreres assim?
     Ele ficou uns segundos a pensar, olhou para a televisão, e depois virou os olhos para os meus e respondeu num tom de voz alegre que revelava a plena satisfação de ter descoberto a resposta certa.
     - Dá-me vitórias!
     O meio-irmão riu-se e disse-lhe…
     -Vê-se! a perder com a Académica!!
     - Não acredito! Já vai acabar – disse bufando para o ar e levando a mão à testa em desespero.
O árbitro soprou no apito e fez parar o cronómetro de pulso. Depois, assim que o comentador disse “A Taça de Portugal voltou para a Académica 73 anos depois” e o meu filho repentinamente mudou de humor
- 73 anos depois, ahahaha que vergonha! 73 anos!!!, mano.

Depois desejando eu passar mais algum tempo com ele convidei-o para um desafio de futebol. Alegrou-se com a ideia e foi procurar a bola debaixo da cama…
- Ó mano viste a Jabulani?
- Está debaixo da cama!
- Já a vi! Viste os meus ténis Adidas?
Saímos para a rua e fomos jogar para um pequeno pátio de chão calcetado com tijoleiras, exactamente no mesmo local onde me havia cruzado com o ciganito gordo.
Com os 4 vasos de plástico que trouxera debaixo do braço fiz os postes das duas balizas, a minha um pouco maior para respeitar a lei da proporcionalidade. Quando começamos o jogo não havia ninguém por perto, mas passado um quarto de hora apareceram do nada 3 miúdos ciganos, dois muito magros e mal vestidos. O mais alto e gordo deles era da altura do meu filho Andrew... 
Pensei «Será que vai ousar chamar-me de novo careca?»
Se ousasse tal, muita retórica teria de usar para lhe fazer entender que chamar nomes para vexar e envergonhar alguém é um sinal claro de incivilidade e de escassez de inteligência…
Continuei a jogar com o meu herdeiro; pelo canto do olho notava o olhar do ciganito a observar-me, e pela atitude cautelosa e apreensiva influi que se lembrava muito bem da nossa altercação… Continuou a olhar-me… depois apercebendo-se que não iria molestá-lo, aproximou-se e pediu-me se podia jogar connosco.
- Espera um pouco. – Disse-lhe
Passados 10 minutos voltou a pedir-me.
- Espera mais um pouco…
- Pai, deixa ele jogar. – pediu-me o Andrew.
E eu pensei quem sai aos seus não degenera…
E por que propósito pensei eu isto?
… no intuito de responder peço ao leitor desculpas por cortar o curso da acção para afixar aqui no papel umas considerações afeitas às reacções humanas face à manifestação voluntária da vontade do próximo…
… aquele quadro rectangular que tantas vezes contemplei quer fora quer dentro, de 10 ou mais indivíduos divididos em dois grupos rivais a disputar a posse de uma bola, inspirava-me a escrever sobre a ética!, preferencialmente quando alguém – um potencial jogador desconhecido – lhes pergunta «Posso jogar convosco?»
As reacções individuais a esta pergunta por tê-las tantas vezes testemunhado posso afirmar-vos são distintas, e reveladoras do carácter de cada indivíduo.
A reacção mais comum é a mais imediata, fingem que não ouvem, revelando indiferença, esperando que o jogador que lhes pede para jogar desista da ideia. Se ele insiste e interpela directamente alguém, é comum responderem-lhe «Não sei, não sou eu que mando.»… ou então «Já somos 10!»… (continua)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

… para deixar de beber diga alto:

… numa aldeia do estado da Bahia um homem grande saia do trabalho e ia direito à taberna para beber com os “amigos”. Bebia um, bebia dois, bebia três, copos de cachaça até ficar sem conseguir andar direito. Saia depois da taberna em estádio cambaleante até ao jumento. A filha, anos depois contava, rindo-se – quem o levava para casa era o Jegue! um pequeno burro. Era um jegue muito inteligente - conseguia trazer o meu pai! cheio de nódoas negras, no corpo nos braços e até na pernas, porque nos caminhos mais inclinados caia de cima do Jegue. Inevitavelmente quando caia para a frente era calcado pelos calços do jumento. Foi assim durante 2 anos, até que um dia o meu pai disse bem alto: Chega de ser pisado pelo Jegue!, - depois desse dia o meu pai nunca mais bebeu.

domingo, 29 de janeiro de 2012

citações, boas tiradas e respostas espirituosas

… ao passar perto escutei um homem a conversar com uma mulher
- Acho que a tua amiga teve sempre um fraquinho por mim! – 
- Ela sempre foi forte a ter fraquinhos... por homens! - Apercebendo-se da graça riu baixinho!

 na mesma toada, de frases com sentido, um amigo quis dizer-me uma frase que lera, de uma autora; fez um esforço para se lembrar e segundos depois citou-ma – “O tempo não cura, apenas afasta o incurável do centro das nossas atenções!” – ambos achámos a frase interessante e digna de ser citada!, e foi por isso que no dia seguinte a almoçar com um outro colega mais velho quis dizer-lha; escute. Um amigo disse-me esta frase, “ o tempo não cura, apenas afasta o incurável do centro das nossas atenções!” que acha? perguntei contanto que ia receber uma ovação!, mas o seu sentido critico surpreendeu-me.
- Errado, o tempo arquiva e depois como acontece com os processos, prescreve!, esse seu amigo se acredita nisso, que o tempo não cura é um homem que está com problemas!...

 ainda na mesma toada, este sábado almocei com um casal de velhotes jovens meus conhecidos – uma senhora de cabelos brancos que não se contem nunca de fazer um comentário critico afiado a ninguém e muito menos ao marido, do género (em tom severo, de repreensão) - Artur!! Não estejas a oferecer pão ao Alexandre, se ele o quiser tira-o!, agora é que estás a oferecer queijo ao Alexandre, agora depois de ele comer a fruta?!!!!
O marido nem reagiu, estava mais que habituado, e eu, para o animar, disse-lhe:
- Você tem uma mulher de ouro! Faz-lhe o almoço!
 A mulher, a Dona Judite riu-se, do que ouvira e do que ela mesmo ia dizer:
- Pois tem,  mas ele não sabe!
E respondeu-lhe ele
- Pois mas ela também não sabe que tem um marido de diamante!
Riram-se ambos e ela retorquiu
- Ah de diamante! Onde está o marido de diamante??? O Alexandre, vê algum?
- O Sr, Artur!
- Esse? É é de pechisbeque! de fantasia!
 Ele levantou um pouco a cabeça olhou-me e riu-se!

  Depois enquanto levantava a mesa, com pressa incontida para que mais ninguém atacasse no queijo de cabra, contou-nos que nesse manhã ouviu o filho da vizinha da porta ao lado, a criticar a mãe por andar a namorar um homem 15 anos mais novo; e imitou-os, ao filho e a mãe, nestes termos:
- A mãe namora o Antoninho para quê?, diga-me, para quê?
- Por que eu gosto dele e ele gosta de mim!
- Pois, mas a mãe devia namorar era um homem velho e rico!
- Ah ah, queres um homem rico na família?! pois, então pede à tua namorada que arranje um!
....
 rimo-nos todos de novo...
 e depois Dona Judite, conte, o que é que a filha lhe retorquiu...???
- Nada. Calou-se! toda a manhã!

domingo, 15 de janeiro de 2012

considerações sobre a cópula

...o sexo e a morte sempre intrinsecamente ligados - sendo a prática sexual um dos maiores prazeres da vida, é a oposição à morte! O sexo honra a vida! celebra-a! - e quando com paixão é feito invade-nos uma sensação de poder - plena de prazer! - o sexo é uma junção de vontades! - afasta-nos de sentir a ideia da nossa finitude!...
podemos afirmar: - quem faz sexo não está morto! goza a vida!
... uma senhora viúva na terceira idade sentada no banco de espera de um hospital dizia para quem a ouvia: - No dia em que o meu marido morreu despediu-se de TUDO!