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terça-feira, 22 de junho de 2010

dor de corno (é cultural)

Pretenderei falar da infidelidade imatura e ou casual, que normalmente culmina num arrependimento humilhante, e que é potenciadora de dores perturbadoras da vigília e do sono, e da oposta: a racional, não imatura, que jamais causará quer ao “infiel” qualquer sombra de arrependimento. A diferença entre elas é abismal uma vez que enquanto uma nasce da dor que engendra e cria, a outra extingue-se na dor que não causa. Quero dizer: a própria traição imatura ganha corpo através da confissão, (o próprio crê que traiu e acha-se no direito da verbalizar) Com isso, pela palavra, a infidelidade renasce ligada à dor!, já a outra, a racional, guardada pelo silêncio tenderá a extinguir-se, se é que o infiel a concebe como tal!
…estes dois modos de ver a traição divide os homens em duas facções distintas, a que pesa a nova paixão na balança moral e que a valoriza, dando-lhe grande importância, considerando-a por vezes até marginal, e a outra, oposta, que a vê para além de bem e mal, que não a pesa, que não a valoriza, que tão pouco a concebe!

O marido não liberal julga legítimo privar a mulher da liberdade, mas se pudesse, pergunto, renunciaria porventura a provar sigilosamente o sabor da mulher do vizinho... ???
Mas imaginemos duas pessoas que se gostam, casados mas não entre si. Os “prevaricadores” apesar de se aproximarem, de se tocarem, de se tornarem íntimos, podem não estarem em perfeita simbiose, porque se um deles valorizar a traição, quer dizer atribuindo-lhe um significado imoral, tenderá a ver o amor entre eles como marginal. Já o outro, desvalorizando a traição, atribuindo-lhe um significado racional, considerará o novo amor sim, mas uma bênção divina. E como todos os actos racionais que não levam ao arrependimento regra geral se repetem, a pessoa racional, tenderá a requerer a plenitude da intimidade. Porém vai querer consumá-la com a pessoa errada uma vez que a outra, por ainda pesar a traição com um valor imoral, para se desculpar, lhe dirá que foi casual, e para melhor acreditar nessa mentira, vai querer dar um fim à relação, fim este, que é sentido pelo outro como um autêntico acto de crueldade. A mulher que considere a infidelidade como imoral, achará até aceitável dizer ao amante: desculpa mas agora já não fodes mais comigo!
Mas qual deles será verdadeiramente monogâmico ou poligâmico, quando ambos desejam deixar de ser o que têm sido! O poligâmico queria estar apaixonado por um única mulher e não sofrer mais por desejar mulheres que nunca terá, já a monogâmica – cansada – desiludida com a relação - queria estar novamente perdida de amores...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

morreu mais um dos magos das palavras,
nao nascerão mais do seu corpo
morreu e com ele elas
o corpo a forma nao são imortais
tão pouco as obras universais
tudo perecerá um dia...