num dia de Outubro, cedo, pouco depois do nascer do sol, caminhava pela Hammerstr quando fui surpreendido e alegrado por um esquilo que, ágil e apressado, descia pelo tronco de uma majestosa árvore; o fruto, havia antes caído e foi rápido em linha recta que ele a ele se dirigiu. Apanhou-o com as patinhas pequenitas, levou-o aos dentes, olhou em várias direcções, depois, acto contínuo, correu para o tronco de outra árvore e subiu-o veloz. Via-o sobre um ramo com o fruto na boca meio encoberto pela ramagem. Ficou ali como que se esperasse que lhe tirassem uma fotografia, depois rápido escondeu-se. Eu perscrutava-o entre aquele emaranhado de ramos e folhas, na esperança de vê-lo. Mas nada, nem sombra.
Sem esquilo, o desalento fez-me decidir a não ficar ali especado a olhar para um esquilo que não via; depois, pensei «se continuar o meu passeio haverei de observar outros noutras árvores»; de facto as árvores eram todas grandes o suficiente para albergar muitos esquilos iguais àquele que eu tanto desejara continuar a ver... Na verdade Münster estava ornamentada de coisas que continuar a vê-las não cansava - as árvores, as aves, os esquilos, as cores das ruas...
Sem esquilo, o desalento fez-me decidir a não ficar ali especado a olhar para um esquilo que não via; depois, pensei «se continuar o meu passeio haverei de observar outros noutras árvores»; de facto as árvores eram todas grandes o suficiente para albergar muitos esquilos iguais àquele que eu tanto desejara continuar a ver... Na verdade Münster estava ornamentada de coisas que continuar a vê-las não cansava - as árvores, as aves, os esquilos, as cores das ruas...
Apresento-vos agora, Marckus Woestmann, o estudante de Filosofia de cabelo ruivo vermelho.
Eu tocara à campainha do edifício residência de estudantes Universitários dos mais variados países; procurava portugueses. E enquanto esperava que me viessem abrir a porta esta abriu-se e Marckus apareceu. Reconheci de imediato nos traços da sua fisionomia o nobre carácter, a simpatia. Falávamos um com o outro pela primeira vez, mas o modo como falávamos traduzia uma amizade de anos. Alguém que nos visse pensaria: dois velhos amigos. Disse-lhe ser português e filho da mãe Literatura. A esta confissão mostrou-se muito surpreso; perguntou «Mas porque gostas de Literatura?» para melhor lhe responder reformulei a pergunta «O que há de interessante na Literatura digna do nosso tempo?» A resposta exigia que lhe lesse todos os livros que havia lido, ou que discorresse acerca do bem dessas variadas emoções que só a leitura me proporcionara.
- A Literatura - disse-lhe - é rir, é chorar, é olhar as árvores, é descobrir, é... - Inteligente como só os raros, influiu que ia dizer… é espírito.
Perguntou-me se eu não queria dar um passeio com ele; aceitei. Fomos pelos caminhos castanhos que circundavam o lago. De vez em quando éramos ultrapassados por quem na altura concedia ao corpo o supremo bem que advém de correr.
- Correr é nobre, não achas? - perguntei.
- Sim, denota manifestamente uma preocupação com o corpo e com a mente. (...)
- A Literatura - disse-lhe - é rir, é chorar, é olhar as árvores, é descobrir, é... - Inteligente como só os raros, influiu que ia dizer… é espírito.
Perguntou-me se eu não queria dar um passeio com ele; aceitei. Fomos pelos caminhos castanhos que circundavam o lago. De vez em quando éramos ultrapassados por quem na altura concedia ao corpo o supremo bem que advém de correr.
- Correr é nobre, não achas? - perguntei.
- Sim, denota manifestamente uma preocupação com o corpo e com a mente. (...)