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domingo, 27 de dezembro de 2009

Um homem perdido

O médico já o havia aconselhado a comer chocolate… sinto em si uma tristeza despropositada para a época, estamos na primavera, e os motivos que me contou por si só não são suficientes, Se fosse a si testava o chocolate e para lhe adoçar a vida tenha sempre mel em casa… dissera-lhe o médico... Ouvira-o mas porque não lhe dera nenhum crédito, limitara-se no trajecto para casa a comprar uma caixa de aspirinas. Na sala ampla sentara-se diante da janela e sem olhar para o que quer que fosse recomeçara a pensar na vida; se olhasse teria reparado na aranha a descer pelo seu fio e poderia ter-se lembrado da sua infância passada na casa de campo dos avós onde abundavam aranhas, moscas e formigas… Mas não, nada via senão aquela ideia sinistra que há muito o assediava como se fosse a melhor solução para todos os seus tremores, sentia-se acossado por todos os lados e haveria de fazer como o escorpião – atentar contra a sua própria vida!
A mulher uma fundamentalista cristã odiava-o desde daquele Domingo quando ele irado de ciumes, por não suportar as suas contínuas ausências, fez a porta da igreja abrir-se estrondosamente com um pontapé enquanto se celebrava a missa e, penetrando no seu interior, irrompeu aos gritos: - Onde é que está a Antónia?!, Onde é que está a Antónia!, - pobre mulher por pouco não desmaiara de tanta vergonha...
A filha também o odiava. Desde aquela vez em que ele pai sabendo que a filha estava com o namorado, por ser contra o namoro, abriu-lhes a porta do quarto de rompante propositadamente para os apanhar em flagrante acto; escutou-os primeiro para se certificar que os apanharia… sem lhes dar tempo de poderem disfarçar abriu a porta … a filha estava de joelhos mãos atrás da costas como uma escrava sujeita ao jugo sexual… - foi para isto que eu te pus a estudar? é todos os dias esta pouca vergonha… Andas com esse parvo para teres isso na boca… até tenho nojo de voltar a dar-te um beijo!!! – quanto ele se arrependera depois destas palavras – a filha há mais de 1 ano que não voltara a beijá-lo, tão pouco o olhava, e pior não voltara a dirigir-lhe a palavra… a filha mais meiga, que se sentava no seu colo…
- Blafesmava - Raios estou cansado de pagar as contas, vivo entre gente ingrata que vive à custa do meu suor… querem-me todos ver pelas costas… só me deixam estar nesta casa para pagar as contas… mas isso vaia acabar, á vai! vai!! (continua)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Drageias coloridas para vidas cinzentas...

…do banco da carruagem do metro onde estou sentado costumo ver uma jovem atraente retirar da malinha uma pequena caixa de plástico transparente, contendo  drageias coloridas. Com cuidado agarra-as com a ponta dos dedos leva-as aos lábios, ajeita-as na boca e engole-as uma a uma sem água….
Ela está ali mas não está; não sente o mundo que a rodeia, não o vê, não o ouve; tão absorta e alheada está da vida ao seu redor... os passageiros olham para ela, mas ela olha para o chão… ou melhor não olha, tem apenas a cara virada para baixo…
Se o destino quisesse que eu a ajudasse a reerguer-se decerto que a ajudaria, mas uma barreira invisível de receio e timidez separa-nos como um vidro e sinto que para lhe tocar precisaria do saber quebrar com subtileza – mas como? se ela está ali como se não estivesse – para falar-lhe precisaria primeiro de a acordar e isso seria notado por todos!, - ela assustar-se-ia, faria aquela cara de estupefacção – ou pior ainda - apontar-me-ia o dedo e diria: - Vejam não o conheço e o louco ousa falar-me!!!
... e Eu?  imobilizado, penso, não consigo deixar de pensar, preso da fobia do estranho tímido... doloroso querer tanto falar-lhe... insuportável a tensão crescente, até perder a vontade de estilhaçar as vidraças negras da apatia; derrotado, olho-a uma vigésima vez...
...penso «o inferno são os outros, eu falar-lhe-ia se estivéssemos a sós… »
ajudá-la a ser era ajudar-me a ser também… os pensamento nesse sentido confrontam-se com as forças das mil correntes que me atam de mãos e pés…
se ao menos ela levantasse os olhos…
dez minutos passaram, ela nem os moveu…
a espessura do vidro aumentou - é insuportável o fracasso…!, não irei nunca ajudá-la, ela seguirá a sua vida e eu a minha… mais dia menos dias voltará à consulta com o Psiquiatra – ele não saberá explicar-lhe a solução para o mal de que padece porque de igual mal nunca padeceu - deveria mostrar-lhe um espelho e dizer-lhe : veja para ali, é você! - viu!? a dimensão do seu alheamento!? – mas não! do espelho só existe mesmo o medo ao espelho -
Se ela interagisse com o mundo o mundo a salvaria – mas o Psiquiatra não a ajudará a conseguir esse feito – não a ensinará a dar por ela própria esse pequeno passo – antes lhe prescreverá mais consulta e muitas drogas - em forma de drageias coloridas - e ela vai tomá-las uma a uma!
leva o tratamento à risca, ao segundo, chega àquela hora esteja onde estiver abre a mala, tira a pequena caixinha, e com a ponta dos dedos leva as drageias à boca e engole-as todas, sentada no banco da carruagem do Metro, sem reparar em mais nada...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Carta a um amigo doente

Caro amigo
… não estranhes esta carta inesperada, as razões são muitas, mas a primeira deriva de te saber a penar pelo vale das sombras sem saúde - a que nos possibilita vencer! Ora bem, admitamos que sei o bastante do teu debilitado estado para te ajudar. Do que perguntei e tentei saber acerca de ti disseram-me que estavas a lutar com uma depressão – que possivelmente andas a ser medicado – e que por isso estás como um navio parado no estaleiro para conserto – de navios pouco sei – mas sei muito sobre depressões… e é este saber que quero transmitir-te para que o uses em teu benefício… há depressões que vão e há depressões que vêm… são assim como os pensamentos que pensamos quando estamos sós no silêncio da noite horizontal… ora como eu sei que são os pensamentos a matéria prima das depressões eu aconselho-te a que não penses… não deve ser fácil para ti… os grandes pensadores pensam… e o que é pensar? – vou-te explicar com as minhas palavras… pensar é estar sem estar… ou seja é não estar na acção do presente… é teres o teu corpo aqui e a tua mente lá longe no passado ou então algures num futuro longínquo… por isso traz-te para o presente para o aqui e o agora onde é saudável estar! – falar é exactamente isso, é o aqui e o agora! por isso amigo aproxima-te das pessoas que sentes que te entenderão e fala-lhes, mesmo que te seja difícil achar assunto – diz-lhes qualquer coisa! – a palavra te salvará – e não só a palavra, o movimento – move-te amigo – não receies nada, sai de casa, vem ter com os teus amigos, que são mais do que os que tu contas! – tenho a certeza que não tens razão alguma para sentires vergonha de te apresentares doente – sabias que se aparecesses em minha casa mesmo para me dares uma grande coça no Xadrez me encherias de satisfação – pergunta ao Rudolfo quantas vezes eu já fui a casa dele – inúmeras e pensas que me fez mal visitar o nosso amigo Rudolfo? – pelo contrário! – fui a casa dele para não me deixar ir para o passado para a alienação do medo… e falei e ele ouviu-me…
Sei que sentes medo - eu conheço por experiência própria a depressão, ela é essencialmente o medo na sua face mais cruel! bloqueia-nos e paralisa-nos! corta-nos os elos com o nosso próprio ser! – por isso amigo sai mais vezes de casa gasta mais dinheiro a telefonar para combinar e falar com os teus amigos – vem a minha casa ou a casa de qualquer um dos teus amigos ensinar-lhes um pouco do teu saber – o xadrez salva! –
mas olha amigo – todos os teus medos não passam de sombras e fantasmas… que te atacam… olha amigo sai à rua e muda de estratégia… estás a jogar contra essas sombras e fantasmas à defesa… se fosse a ti jogava ao ataque!... age! Sê agressivo contra a tua fraqueza… levanta-te da cama cedo, mesmo que não tenhas ideias do que fazer, toma um banho e telefona aos teus amigos e passa o tempo com eles, e só regresses a casa tarde quando não aguentares de cansado! e vais ver que depressa largas a medicação e voltas a subir ao ringue para mais um combate! –
sai da concha, deixa o covil e a toca, a vida é cá fora!!! - inicia-te no que nunca fizeste – um ginásio por exemplo – descobre coisas novas – vai ver o AVATAR – vem conhecer o meu bairro – vê os filmes que te dei – 2 – eu sei perfeitamente o que se sofre com uma depressão – por isso ataca! ATACA!... o homem é a guerra!
e fala! Fala! verbaliza os teus medos! e eles te deixarão em paz!
Vou-te deixar com o que li na parede da garagem do meu mecânico, julgo que foi escrito por um emigrante brasileiro que veio ganhar a vida para este Portugal cruel
- quando um homem perde os seus bens, perde muito
- quando perde um amigo, perde mais
- quando perde a coragem, perde tudo!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

confissões de um trevo

cresci entre dois azulejos e por isso nunca passei dum trevo raquitico, não obstante sempre fui muito elogiado. Diziam: olha aqui um trevo!, que corajoso! Nunca se deixou cair! Cresceu contra todas as probabilidades! O local nem vos conto: numa parede no interior de uma sala de um pequeno restaurante onde as pessoas se sentavam para almoçar, ai escutei as mais pitorescas conversas. Um dia entrou um senhor grande e corpulento que quase me arrancou da parede, bem tentou mas nao conseguiu. Ele fez força mas eu fiz mais força ainda. As minhas raizes quase cederam... É uma das recordações terríveis que eu tenho. A verdade é que sempre estive muito exposto...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

do livro para todos e para ninguém

(...)
E quando exclamo: «Amaldiçoai todos os demónios cobardes que trazeis em vós, esses demónios sempre prontos a gemer e adorar!» eles clamam: «Zaratustra é ímpio!»
São sobretudo os pregadores da resignação que dizem tais coisas, e é justamente a esses que me apraz gritar ao ouvido: «Sim, eu sou o Zaratustra o ímpio!»
Os pregadores de resignação! Em todos os cantos onde se anicham a mesquinhez, a doença, a tinha, insinuam-se como piolhos…
Pois bem! eis o sermão que dedico aos seus ouvidos: eu sou Zaratustra, o ímpio que diz: «Quem é mais ímpio do que eu, para me matricular na sua escola?»
Eu sou Zaratustra, o ímpio; onde encontrarei o meu semelhante? Os meus semelhantes são todos os que se agarram à vontade por si próprios e se desprendem de qualquer resignação.
Eu sou Zaratustra, o ímpio. Ponho todos os acasos a coser na minha própria panela. E quando estão bem cozidos, declaro que são excelentes, porque são pratos da minha cozinha!
E na verdade, mais de um acaso me abordou com arrogância, mas a minha vontade respondeu-lhe com mais arrogância ainda (…)
Mas para quê dizer estas palavras se ninguém tem, para me ouvir, ouvidos? Por isso os meus gritos a todos os ventos:
- Estais a encolher a olhos vistos, vós humildes! Estás-vos a desintegrar, gente acomodatícia!
- E terminareis por ir a pique com a vossa pesada infinidade de pequenas virtudes, à força de pequeninas maldades, à força de minguada resignação! (…)
A vossas lacunas se misturam e incorporam na teia do futuro dos homens, até o vosso vazio é uma teia de aranha que se nutre do sangue do futuro.(…)
«Tudo se arranja.» Eis mais uma máxima da vossa resignação. Mas eu vo-lo digo, almas delicadas: «Tudo se desarranja, e tudo vos perturbará cada vez mais.»
(…) Amai o próximo como a vós mesmos, se tal vos aprouver; mas sabei primeiro amar-vos a vós mesmos, amar-vos com grande amor, amar-vos com grande desdém!» Assim falava Zaratustra, o ímpio.
Mas para que falar quando ninguém tem ouvidos para me entender? Ainda é muito cedo para o meu tempo.
Eu sou entre esta gente o meu próprio precursor, o canto do galo que anuncia a chegada da minha nova aurora para esta ruelas obscuras…
Mas um dia a minha hora chegará! De hora a hora se tornam mais mesquinhos, mais miseráveis, mais estéreis – pobre vegetação, miserável plebe…
Breve os verei parecidos com a erva seca da estepe, e verdadeiramente cansados de si mesmos, aspirando mais ao fogo do que à água.

Assim falou Zaratustra!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

uma VARIAÇÃO SOBRE O MESMO TEMA…

conheci-o na noite
entre as conversas ocasionais entre estranhos…
um dia ouvi-o declamar os seus poemas originais e na minha ingenuidade enlouquecido pelos sonhos disse-lhe que haveria de ser o Dostoievski lusitano – bastou. Ele admirou-me a loucura – a altura da fasquia - tornámo-nos amigos...
recordo desse tempo que ouvíamos ambos música Clássica e duas jovens alunas altas e elegantes de cinturas estreitas - que lindas eram… A menos era de pela branca e cabelo preto e havia uma vez olhado para trás quando eu subia a rua e passara por ela… … eu não era certamente o único para quem ela se virava para trás… mas que interessava isso…
enquanto eu como muitos outros não sabíamos onde elas moravam, o meu amigo apaixonadíssimo pela mais bonita de corpo e rosto - uma ruiva aloirada - já subia de elevador direitinho a casa delas, um apartamento que partilhavam. As flores, um ramo de rosas, trazias ele na mão para oferecer à ruiva aloirada… bateu com os nós dos dedos na porta e esperou… quem veio abrir-lhe a porta foi a branca de neve, que, ao vê-lo, o ramo, achou que eram para ela. Ele ficou calado e esperava que a outra aparecesse para as poder oferecer; feliz ou infelizmente a outra não estava em casa. Sozinho, diante de uma mulher perdida de amores por um ramo de rosas que não lhe estavam predestinadas sentia-se perdido... e para não ver o desgosto que lhe causaria contando-lhe para quem as rosas se destinavam, para a não a ver cair desse sonho, deu-lhas… depois ao vê-la assim alegre sem oferecer qualquer resistência deixou-se conduzir pela vontade dela, que era, em poucas palavras, tê-lo. E foi o que aconteceu.
Disse-me dias depois, “Fui comido pela branca de neve apaixonadíssimo pela ruiva aloirada…” A partir desse dia tornou-se o namorado oficial da amiga da mulher por quem se sentia verdadeiramente apaixonado. A outra quando os via ou os ouvia a namoriscarem-se nem desconfiava ser ela a razão das rosas que via no jarro e de todos aqueles beijos…
Ela a ruiva aloirada perguntava-lhe:
- Como é que vocês se apaixonaram assim tanto um pelo o outro?
- Foi um caso de sorte… Foi num dia em que tu não estavas em casa…
O olhar dele quando olhava para a amiga da nova namorada parecia os dos pombos em voltas das pombas quando arrojam com o leque aberto das penas da cauda no chão, mas a loira não vislumbrava qualquer leque no olhar do poeta…
Eles, ele e a loira, viam-se todos os dias; ele tornara-se frequentador assíduo da casa. A razão como ele dizia não eram só as noites diárias com a namorada, - não era só o usufruto do seu corpo – era também o prazer de ver a amiga loira, de sonhar com ela…
O dilema existia: deveria dizer a verdade?
Nunca revelou a verdade, senão ao vosso amigo autor, porque dizia se arriscasse contar a verdade à branca de neve perdê-la-ia… ela amuaria!... A outra talvez nem acreditasse, iria possivelmente rir-se…- costumava dizer: Candeia que vai à frente ilumina duas vezes… Mais vale um pássaro na mão que dois a voar…
Anos depois disseram-me que se tinham deixado…

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O desejo fosse quem fosse, fê-lo amargo mas tornou-o doce...

    Nada é definitivo e na vida talvez apenas e só o sentimento, esse amor que constantemente lembramos na dor da ausência prolongada. Sofremos é um facto. Revisitam-nos recordações que sabemos não poder reviver. Gostaríamos que a vida tivesse sido diferente, que nunca houvéssemos perdido as pessoas que amámos - o prazer carnal da sua companhia - e concluímos que tudo mudou, menos o amor, que sentíamos, que julgávamos perdido, encoberto por outros amores e pelas atribulações da vida… Ainda hoje me recordo de cada peito de cada mamilo de cada nádega que beijei, deles agora tenho as lágrimas... morre-me o desejo, lenta imperceptivelmente... cada ano que passa, decai do seu trono de rei soberano da vida...
Nada é definitivo nem mesmo o futuro, pensamo-lo, antevíamo-lo e ele atraiçoa-nos, ou oferece-nos o que não esperávamos. Aconteceu a um amigo. Nas noites de copos desencantou uma beleza de mulher com uma cintura de vespa e umas ancas de Deusa e vai dai por artes de mágica conhece-la, beija-a assim como quem não quer e quase sem saber como descobre onde vive e com quem, com uma outra amiga. Voltou tarde nessa noite para casa. Subiu as escadas que dão acesso à casa onde vive, que é a dos pais, e já no quarto deixou-se cair de costas na cama. Em quem pensava ele? Nela. Imaginava-a nos seus braços e para assim a ter planeara oferecer-lhe um ramo de flores…- Serão rosas! Amanhã compro-as na florista! - enquanto assim pensava, o sono e a sensação de felicidade anulavam-se mutuamente - e mal o sono o adormecia deixava de sentir-se a flutuar. A felicidade que o abandonara meses e anos dormia agora com ele. Dormia que nem um anjo para horas depois acordar como adormecera, apaixonado. Correu para o banheiro com as pestanas coladas de remela, e enquanto durou o duche cantou Paulo Gonzo - Sei de cor cada traço do teu rosto, cada sombra da tua voz e cada silencio, cada gesto que tu faças, meu amor sei-te de cor…
Já ia ele na rua quando o encontrei, contou-me o que lhe acontecera. Uma das suas mãos agarrava um arranjo de rosas…- Onde vais com essas rosas?- Vou oferecê-las…
 ele próprio confessou-me sentir curiosidade (talvez admiração) por este vosso alexnietzsche por nos meus momentos de euforia ouvira dizer-lhe - Serei o Dostoivesky português… um dia ouvi-o declamar uns versos muito belos... era leitor de Beckett e elogiava o À Espera de Godot... ouvia música Clássica e lia Literatura… depois quando ingressado nos quadros dos inspectores de P.J. começou a frequentar o ginásio de musculação... trocou os poemas declamados às donzelas por uma Tshirt justa ... mas avancemos... ao tempo a que reporta esta história era ela ainda magro... e como semanas depois me contou: com um ramo de rosas na mão tocou à campainha... quem lhe abriu a porta foi a amiga... - façamos aqui um parêntesis – a amiga não era nada de especial – devia a sua beleza à juventude e um longo cabelo preto até ao meio das costas - poderia dizer-se que era bonita como a maioria das jovens elegantes da sua idade - perdia muito em beleza para a amiga Deusa mas ganhava-lhe em simpatia – esta reconheceu-o e acolheu-o entusiasticamente, como se as rosas fossem para ela.– São para mim? - perguntou-lhe. Não eram, mas sem saber como e porquê, ele disse: - São! - mais tarde pensava «Haverei de comprar outras para a outra. Enganava-se. Não voltou a comprar outras flores… As flores passou-lhas para as mãos. Sorriram-lhe os olhos de felicidade, o destino acabara de oferecer-lhe umas rosas que não lhe estavam destinadas, e a ele uma namorada que prontamente aceitou não antes de se beijarem, não antes de haverem feito amor... sem perda de tempo ,nesse mesmo dia...
  a pressa justificava-a com a frase:  nada nos está assegurado, nem mesmo o futuro...

sábado, 26 de setembro de 2009

Um caso real de desejo.

Ele e ela.
...eram quase vizinhos - viviam em casas quase próximas... A consequência desta relativa proximidade e os horários de trabalho semelhantes levava-os a verem-se diariamente quando acontecia deslocarem-se a pé pelas mesmas ruas em direcção ao Metro, na ida para o trabalho e no regresso a casa. Uma vezes caminhavam dir-se-ia lado a lado, outras, um no encalço do outro e a consequência destes coincidentes trajectos tornaram-se: para ele, o êxtase visual por excelência, justificado pelos encantos visíveis dela estarem mais descobertos que insinuados pela roupa justa; o prazer de saber onde ela tomava o café da manhã, e de reconhecer-lhe o sonoro tok tok dos seus saltos altos; e, por ultimo, a dor dolorosa de um desejo transbordante de vontade da conhecer
 - a imagem dela entranhara-se e andava com ele para onde quer que fosse! Lembrava-se dela nos locais mais inusitados, desde casas de banho de maternidades a salas de crematórios... Chegou mesmo por causa da paixoneta a mudar os hábitos; ao ter constatado que ela vestia muito roupas castanhas começou a preferir vestir roupas com os mesmos tons.. Mas nada resultava, ela nem para ele parecia olhar; desprezava-o quanto mais lhe desvendava o desejo nos olhares.... Quando ele se aproximava meio encoberto pela multidão, ela assim que o notava, afastava-se. Apercebia-se ele disso mas em vez de ficar triste pesaroso e cabisbaixo, animava-se, proferindo a frase, que para ele era um divisa motivadora: Se o desejo é o Inferno que me leve o demónio!Já ela por ser uma mulher muito assediada aprendera cedo a reconhecer os homens a evitar, bem como a rotular a maioria, pela insistência dos olhares, de tarados. Adquirira muita prática nesses apressados juízos de valor e não supunha que pudesse uma ou outra vez enganar-se. Avaliava todos pela bitola mais baixa e para evitar aproximações evitava ao máximo deixar-se apanhar a olhar para um homem. Quem a conhecesse diria dela: uma mulher cheia de curvas, muito recta. Na verdade não dava confiança aos homens, nem aos tímidos nem aos ousados... passaria despercebida não fosse a acção das curvas de fogo... e o seu vizinho não era excepção... esta brasa de mulher inspirava nele desejos iguais aos da maioria, mas porque a via mais que os restantes experimentava por ela um misto de adoração e de repulsa, sentimentos estes aparentemente antagónicos - quanto mais ele se mostrava interessado mais ela o ignorava e desprezava…

Um dia acordou com tosse seca. A desgraça chegara, ia de mal a pior. Andara anos triste por se achar pobre e agora que pensava que ia ser promovido, auferir um pouco mais, continuar a pagar o empréstimo da compra da casa, comprar um novo carro, acreditar finalmente na conquista da mulher dos seus sonhos, fora chamado ao gabinete do chefe.
- Entre. Chegue aqui. Aqui! Olhe para ali para o quadro, está ver esses pioneses espetados no mapa da empresa? Retire o do meio, está a mais, já não nos faz falta…
- Que quer dizer chefe?
- Não percebeu, esse que tem na mão é você!, Está despedido!
- Estou despedido? (com o pionés na mão? olhando para o chefe e depois para o pionés)
- Sim homem! Está despedido! Mas não se sinta excluído! Os seus colegas irão a seguir!, vai devagarinho! um a um! Está a ver? Não queremos despedir em massa! Mas tem que ser! Comprámos umas máquinas! Na linha de montagem, uma, só uma faz o trabalho de 10! E ehehehe e não engravida!!! Esta teve graça!!! eu quase que morro com as minhas próprias piadas!! de tanto rir!...
Olhou para o chefe! Um louco a olhar para o outro louco e saiu como se anestesiado, por onde entrara sem bater com a porta.
Já cá fora, a sós, voltou a olhar para o pionés e viu o quanto era insignificante.
- Anos e anos e não passei disto! - dizia.
Lamentava-se: Adeus emprego!, casa!, carro!, mulher!

Nesse dia poderia ter recomeçado a beber! e ou a fumar, mas não, o apelo dum instinto mais forte levou-o a desfolhar as páginas dum jornal diário. Lera “Casa de massagens. 7 Meninas. Damos-lhe duas e paga uma! 961234512"; pegou no telemóvel!
- Sim o senhor está onde?... Está perto! Sim pode vir por essa rua, quem sobe! É no número 467, 4º Drt. Quando chegar toque à campainha. Tem elevador…
À porta do edifício o homem desempregado sentiu a diferença, habituado aos prédios antigos do Intendente, às escadas íngremes de madeira. Lembrou-se com saudade do tempo em que as jovens nigerianas do Intendente o costumavam assediar. Uma delas - lembrou-se – inclusive, chamou-o da varanda para descaradamente lhe mostrar o que tinha para lhe oferecer, levantando a mini-saia… Alegrou-se de ter recordado esse episódio... Ainda hoje se perguntava porque é que não aceitara o convite... foi lá dias depois, mas ela - disseram-lhe - tinha ido para Espanha...
Carregou no botão do elevador e apreciou a suavidade da ascensão, sentia-se subir para o céu…
TRIMMMM
TRIMMMMMM!!!!
Uma senhora corpulenta na ternura dos quarenta veio abrir-lhe a porta, pareceu-lhe ser a patroa. Vestia um roupão vermelho, apertado à cintura por um cinto da mesma cor.
- Vim por causa do anúncio
- E fez muito bem em vir… Faz favor de entrar… Esteja à vontade... Pode sentar-se no sofá… Quer beber alguma coisa?...
- Não vim propriamente beber… - disse num tom de voz sorridente…
- Eu sei eu sei, veio ver as meninas. Vejo que vem bem humorado… Certamente, a vida corre-lhe bem… Olhe está com sorte, estão cá as meninas todas e nenhuma está ocupada… Até me admirei de hoje não me pedirem uma folga… São excelentes profissionais, gostam do que fazem…
- É bom! é bom! E os preços…
- 40 euros tudo, uma hora no quarto.
- Óptimo!
- Quer ver as meninas uma de cada vez ou prefere que venham todas juntas?
- Todas juntas!
- Então espere aqui um bocadinho, vou buscá-las …
Durante a espera o nosso homem sentado no sofá, questionava-se «Serão novas? Serão todas boas? Quanto é que me importará um show lésbico?»
Súbito vê entrar na sala a patroa.
- Elas já vão desfilar, espero que lhe agradem… Entrem meninas, entrem!
O homem recostou-se para trás e endireitou as costas…
Uma a uma viu-as entrarem na sala muito bem vestidas. A de fato era a executiva, fazia-se passar por advogada… A que vinha de branco era a enfermeira… uma terceira vinha vestida com uma farda da P.S.P…. outra de coelhinha da Playboy… e súbito o homem teve como que um desfalecimento, turvou-se-lhe a vista… sem querer acreditar viu, entre as cinco, a vizinha – não podia ser verdade, mas era - estava vestida de freira… e não havia dúvidas, ela também o reconheceu…
O nosso homem podia ter-se acabrunhado, mas não se acabrunhou. Apontou para a vizinha e disse alto para a madre superior:
- QUERO AQUELA!
A vizinha ainda esboçou um olhar de clemência, ou melhor de dispensa, para a madre superior! que sempre sentia prazer em obrigá-las a trabalhar... De nada lhe valeu. A patroa dirigiu-se a ela, agarrou-a pela mão e levou-a a ele…
- Aqui a tem! … Durante uma hora é sua. Olhe que o tempo passa depressa! Desfrute-a! Em caso de algum descontentamento tem direito a escrever no livro amarelo – depois segredou-lhe ao ouvido «Não vai escolher outra?! olhe que tem direito a duas! paga o mesmo!»
- Não. Esta chega-me!
- Escolheu bem! Essa é uma.... profissional!»

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sermão retirado do filme DOUBT

Uma mulher espalhou boatos sobre um homem que mal conhecia.Sei que nenhum de vós jamais fez tal coisa...E nessa noite teve um sonho. Uma enorme mão surgiu e um dedo apontou para ela. E imediatamente sentiu-se dominada por uma sensação de culpa. No dia seguinte foi confessar-se. Calhou-lhe o velho prior, o Padre O'Rourke. Ela contou-lhe tudo e no fim perguntou-lhe"Dizer bisbilhotices é pecado?"Aquela mão apontando para mim era a de Deus Todo-Poderoso?"Devo pedir a absolvição?"Diga-me, fiz alguma coisa mal feita?"
"Fez sim - respondeu-lhe o Padre O'Rourke."Fez, sua criatura ignorante e criada a ter mau fundo. "Proferiu falsos testemunhos contra o seu semelhante. "Arruinou sem qualquer motivo a boa reputação dele e deve sentir-se muitíssimo envergonhada."
A mulher disse estar arrependida e pediu o perdão do padre.
"Mais calma aí - disse O'Rourke; "vá para casa, pegue numaalmofada e leve-a ao telhado. "E espete-lhe uma faca e depois volte cá."
A mulher foi para casa, tirou uma almofada da cama, uma faca da gaveta,subiu ao telhado pela escada de incêndio e esfaqueou a almofada.
E depois voltou à igreja, como o padre tinha mandado.
"Abriu a almofada à facada?" - perguntou-lhe ele.
"Abri, Sr. Padre."
"E com que resultado?"
"Penas" - disse ela.
"Penas?" - repetiu ele.
"Penas por todo o lado."
"Pois agora quero que volte e que recolha todas as penas que o vento levou."
"Isso é impossível de fazer"- disse ela, - sei lá onde estão as penas. O vento espalhou-as todas."
"Pois é esse o resultado - disse o Padre O'Rourke - DA BISBILHOTICE!!!"

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

a cópula só lhe trouxe problemas...

…sobre a inutilidade da cópula nunca li nada, pelo que, concluo, ser meu dever abordar o assunto – não só por o considerar de utilidade pública como também, perdoem-me a modéstia, ter grandes conhecimentos sobre o tema. Preparo inclusive sobre esta recente teoria uma tese de doutoramento, para futura publicação nas revistas da especialidade. Sem dúvida, é ousado nos dias de sexo que correm dizer-se da inutilidade de uma coisa tão boa, para a qual não há mesmo palavras. É melhor que vinho, é melhor que mel, porém, ouso afirmar, inútil. E, é isso, exactamente isso que eu quero provar-lhes. Assim, para o efeito, recorrerei a uma história verídica que guardei na memória por lhe achar graça. Trouxe-a meu pai para casa - julgo que a cortou com uma tesoura de um jornal diário, por tanta graça lhe achar…
- Lembro-me de ler no artigo algo cujo teor não se afastava muito do que passarei a escrever…
de algures para um Hospital de uma cidade Romena uma mulher jovem foi levada de ambulância; pouco trabalho deu aos médicos, que em pouco tempo, logradas as tentativas de a fazerem voltar à vida, sem sinais vitais que se declarassem, foi por consenso decretada morta; lençol branco e morgue. Acontece muito nos Hospitais… Vai na maca a infeliz cadáver e quem a leva para a morgue é um jovem enfermeiro. A morgue é, costuma ser, uma ampla sala onde existem cadáveres, mas nesse dia, não havia lá nenhum. O enfermeiro ao constatar que estava só com a jovem, animou-se por ver que não havia quem o pudesse impedir de tornar o ambiente romântico... Não se deve deixar um homem a sós com uma mulher… - e eu acrescento – nem mesmo morta. E, contava, vendo ele que não havia quem os pudesse importunar, tira-lhe o lençol e vê-a nua. «Que linda!» exclamou o enfermeiro. Aproxima-se mais, toca-lhe e ao senti-la gelada dá um passo atrás; foi como se ela lhe dissesse «Chega-te para lá, não me toques!…» mas isso ele não ouviu nem poderia ouvir mesmo, tão dominado estava pela beleza mortal da mulher… não por ela ser apenas jovem e bela, mas principalmente por ter tudo no sítio e muito mais, fartos seios, ancas largas cintura fina, (reparai nas medidas 89 50 92) digo-vos, uma autêntica Vénus cadáver… vendo-se só e vendo que ela não lhe oferecia resistência… ocorreu-lhe pensar se não poderia o espírito dela sentir igual vontade…
  ...despiu-se pois o homem com relativa pressa, e logo fez o que todo o homem faria a uma Vénus! investiu nela que nem um garanhão no cio - ou por outras palavras entregou-se de corpo e alma ao trabalho! Tão bem o fez que o calor dele misturado ao suor passou para a morta! - tanto que para seu grande espanto e maior o susto conseguiu fazê-la espevitar... o primeiro sinal da ressuscitação veio dos seus olhos fechados... perto muito perto do término da cópula «ela abriu-os!» e...
...  um grito de terror ecoou por todo o Hospital…
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