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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Walt Whitman - 32

32
“Julgo que poderia mudar e viver com os animais, são tão plácidos e tão independentes,
Fico a olhar para eles um tempo infinito.
Não se cansam nem se lastimam com a sua situação
Não ficam acordados na escuridão, nem choram os seus pecados,
Não me enfadam com as suas discussões sobre os deveres para com Deus,
Nenhum se sente insatisfeito ou enlouquece com a obsessão de tudo possuir,
Nenhum se ajoelha perante outro, nem perante a sua espécie que viveu há milhares de anos,
Nenhum é respeitável ou infeliz à face da terra.
Assim mostram a relação comigo e eu aceito-os
Trazem-me testemunhos de mim mesmo, mostram claramente que deles são os possuidores.
Pergunto a mim próprio onde obtêm esses testemunhos,
Terei passado por ali em tempos remotos e tê-los-ei perdido por negligência?(…)”

domingo, 26 de setembro de 2010

Walt Whitman - Louisiana

“Vi em Louisiana um carvalho a crescer
Estava isolado e o musgo pendia dos seus ramos,
Sem um companheiro, ali crescia soltando folhas jubilosas verdes escuras…
E o seu aspecto rude, firme e vigoroso fez-me pensar em mim.
E interroguei-me como ele conseguia soltar folhas jubilosas estando ali só, sem o seu amigo, pois eu sabia que não o conseguiria.
(…) e embora o carvalho cintile lá em Louisiana solitário numa vasta planície,
Soltando jubilosas folhas toda a sua vida, sem um amigo, um amante próximo,
Sei muito bem que eu não o conseguiria.”

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

nao consigo conceber...

...um ser angelical ter que morrer!!!
...é o derradeiro objectivo válido do homem: a imortalidade da beleza, a da vida!... não vejo outro mais árduo e difícil!... julgo que a humanidade porá toda a ciência ao serviço desse objectivo! porque não há coisa que mais enoja que a condição humana, o envelhecimento do corpo, a sua decrepitude - a carne podre!... enoja principalmente a nós os que lambemos com o pensamento a sensualidade do belo...
Nós os que nascemos condenados à morte! criámos o direito ... leis para abulir a pena de morte até para com os assassinos... e então os inocentes? porque terão que morrer...? que vergonha...
...pobres mortais que aceitais a morte (para sofrerdes menos) que até chegasteis ao cumulo de dizer bem dela! decerto porque nao amais o suficiente a vida, porque não a amais ao ponto de a desejares para sempre!... A imortalidade nao assusta os Deuses, A eternidade é o seu Paraíso!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

confissoes de uma aficionada da tauromaquia...

… Qual a combinação de factores na vida de uma mulher até à prostituição?
...os factores que levaram a V. a prostituir-se foram: primeiro: a relação afectiva com um homem violento! Ainda não tinham celebrado o primeiro mês de namoro e já ela o ouvia ameaça-la de morte, - a amiga cabeleireira sua confidente escutava-a - com ódio nos olhos diz que me mata caso eu termine a relação! – ontem puxou o cortinado da janela e enrolou-mo no pescoço com violência! - chorei a minha desgraça e depois disse-lhe o que ele queria ouvir, prometi-lhe que o não deixaria!...
durante um mês, todos os dias, jurava que nunca o iria deixar! não bastou, a violência continuava... duas a três vezes por semana ele possuía-a e cinco e seis vezes por mês ele ameaçava-a…
Até quando?
… até que ele veio para Portugal trabalhar, deixando-a no Brasil grávida. Uma jovem mulher que conheceu um único amante não se liberta facilmente da carne… e grávida ainda menos, porque agora ele é será sempre o pai. A violência e o medo eram mais que razões para não ir atrás dele... Mas foi! e porquê? Porque a mãe disse-lhe que o filho tinha mudado! Todavia em Portugal a brasileira teve do brasileiro mais do mesmo! Porrada à quinta-feira quando não era à quarta e ameaças de morte à segunda-feira, quando não era Domingo… A saudade dos entes queridos, uma vida de guerra aprisionada pelo medo e a falta de amigos a quem recorrer minaram-lhe a saúde… foi ao fundo do abismo e para não enlouquecer subiu-lhe o suicídio à cabeça… pensou-o e fê-lo!, com comprimidos! O seu acto não teve uma desfecho trágico por uma unha negra, foi socorrida a tempo…
… dias depois, sem qualquer estratégia - enquanto trabalhava com o marido em cima dum andaime no 7º piso a lavar vitrinas – disse-lhe que o ia deixar. O homem reagiu como sempre reagia, mal – com ódio. Agarrou-a pelas costas e levou-a à força para a beira do andaime. Lá de cima fê-la olhar cá para baixo. Não fosse a pronta reacção de uma terceira pessoa e o seu corpo teria feito no trajecto da queda uma perfeita linha recta. Já tinha escapado da morte 3 vezes! do cortinado enrolado no pescoço, dos comprimidos misturados no estômago e de uma potencial queda do sétimo andar... então, um dia decidiu que estava disposta a tudo, esperou pela oportunidade de estar sozinha e saiu do lar das ameaças sem saber ao certo para onde… bateu em muitas portas blindadas... procurava uma nova casa, um novo trabalho, alguém que a acolhesse... e dias depois, a olhar-se ao espelho, temeu o frio de ser arrastada para baixo do limiar da pobreza... por isso, para manter a dignidade foi trabalhar para um bar de engate!,
… Os bares de engate que eu espreitei há anos atrás, eram escuros, com musica ambiente a meio som e tinham como clientes grupos de homens com as mais variadas profissões, desde mecânicos de automóveis a empresários da construção civil. Assim que eles se sentavam vinham duas ou três meninas perguntar se lhes pagavam algo de beber… elas explicavam-lhes que era a condição para poderem ficar a conversar com eles… se pagassem uma ou duas garrafas de champanhe permaneceriam com eles mais tempo… entre elas havia as que se prostituíam e as novas na profissão que o não faziam ainda…
… a decisão de trabalhar num desses bares de alterne foi um dos factores para a prostituição de facto… desse trabalho de empregada de bar de alterne até ao de se prostituir na rua foi um passo… disseram-lhe que ganhava mais...
... é cómica! quando o amigo lhe pergunta qual a posição que gosta mais, diz que é a sinto, a sinto muito! No quarto da pensão para onde leva os clientes, se lhe pedem para se pôr de quatro para mostrar o rabo, nega-se a fazê-lo – diz que não gosta de se sentir mulher objecto!, se lhe perguntam se engole, diz que sim mas só leite de vaca… não geme porque diz que é ridículo… e não goza porque não sente prazer com homens desconhecidos… se lhe dão palmadas no rabo vira-se para trás e diz ao cliente – pare com isso!
... tem um rosto belo de traços finos mas não deixa que lhe tirem uma foto... receia decerto... o quê não sei... diz como se fosse de admirar, que o pai do seu segundo filho com quem se juntou, era seu cliente!, - fala no filho com ternura - mostra as fotos dele que guarda da carteira às pessoas de quem gosta! revela sentido orgulho em afirmar que a irmã é uma mulher direita e bem casada!
… passado alguns anos neste trabalho que ela alcunha de tourada tem hoje menos pudor em confessar o que faz...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

o escritor tem uma história para vos contar…

não era uma vez um homem feliz, era um farrapo de um ser humano que vasculhava o lixo com profundidade, enfiando os braços e as mãos dentro dos contentores... quando acontecia vê-lo tinha o cuidado de ser discreto para lhe poupar a vergonha que pudesse sentir ao ver-me; notei depois o erro em ter para com ele esse cuidado, porque quando uma vez me viu foi como se eu não estivesse ali… Era imune a essa vergonha… aprendera a não esperar que não houvesse ninguém para o ver… A sua total indiferença remetia-me para a frase os outros sempre serão outros… e o desprezo que lhes dava (a quem o pudesse estar a ver) era bem patente ao continuar a vasculhar o lixo - como se não houvesse viva alma a observá-lo - em busca de algo que pudesse ter algum valor... Ao pensar que por causa da vergonha nos inibimos de agir, perdendo o valor da oportunidade, senti vontade de ter para com o mundo igual indiferença!
...Contou-me um amigo que uma vez não pediu o telefone a uma mulher que havia conhecido, e com quem conversara durante horas, por vergonha de o fazer num velório… Mas onde é que está escrito que não se pode pedir o número de telefone a uma mulher num velório?! foi o que eu lhe disse… agora ele espera o acaso de voltar a ver, apesar de dizer que tem quase a certeza de isso não vir mais a acontecer… perdeu a oportunidade e não terá outra!, é como ir atrás de uma mulher bonita e não entrar no mesmo metro!... é um fenómeno comum entre os homens, aproximarem-se de um desconhecida com ganas de a conhecer para depois recuarem… sem se conseguirem apresentar…
outro dia um politico qualquer apareceu na TV com um corte de cabelo desacertado, e ouvi o comentário do meu amigo sexagenário…
- há cada corte de cabelo, lá para os meus lados - referindo-se aos Punks - vejo cada galo de Barcelos…
Achei-lhe piada porque tenho bem presente a imagem de um galo de Barcelos e a crista enorme… enfim quando menos se espera ouve-se um dizer um comentário com piada…
Quando os oiço tento memorizá-los para depois deixá-los escritos!... é caso para dizer que a Arte é filha da memória…
Jantava outro dia um amigo meu com uma senhora que angaria para ela mesma clientes na rua, confessando-lhe ela que lhe doíam as nádegas porque caíra de bêbada numa discoteca…
- Como é que foi isso possível, não bebes um vinho maduro às refeições porque tem álcool e embebedas-te num sábado à noite…
- Dói-me isto tudo – tocando com a palma da mão nas nádegas – hoje não vou poder trabalhar…
- Ah pois não vais não!
Conta-me que lhe pergunta como é que ela foi parar àquela vida…
- Como é que vieste parar à prostituição? Conta-me!
(…)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

...de uma garrafa que deu à costa...

...escrevo criando uma atmosfera de afectos... como se houvesse de verdade e fosse real o desejo de tocar e sentir o outro... é esse fenómeno, de querer tocar e de ser tocado pelo outro - que se aproxima da paixão - na verdade raro... o mais das vezes esta ficção nao se projecta na realidade... nao passa da fase de projecto... nao passa da planta, da maquete, do esboço... nao chega a realizar-se como obra... é doloroso sentirmos como são raros os encontros íntimos a dois...
se por vezes penso que os mereceria mais por os procurar desta forma (pela escrita) mais do que a maioria... constato que a realidade é outra... e que também aqui é tudo muito fortuito... produto do acaso...
nao sei se sentes assim leitora...
fico entao à espera de que possas ter para me dizer para continuarmos o livro - a vida - a realização do amanha...
espero que nao interfira com a tua realidade emocional caso tenhas ou nao namorado, se bem que todos os namoros e namorados estejam sujeitos à influência e à atração dos seres...