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terça-feira, 11 de março de 2014

Os melhoradores da Humanidade, por Nietzsche

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Em todos os tempos se quis «melhorar» os homens: a isto sobretudo foi a que se deu o nome de moral. Porém sob a própria palavra escondem-se as tendências mais díspares. Tanto a domesticação da besta homem como a criação de uma determinada espéçie de homem foram chamadas «melhoramentos»: só estes termini zoológicos expressam realidades, - realidades, certamente, das quais o «melhorador» típico, o sacerdote, nada sabe - nada quer saber.. Chamar à domesticação de um animal o seu «melhoramento» é algo que a nossos ouvidos nos soa como uma ironia. Quem sabe o que acontece nos circos de feras põe em dúvida que neles a besta seja «melhorada». É debilitada, é feita menos perigosa, é convertida, mediante o efeito depressivo do medo, mediante a dor, mediante as feridas, mediante a fome numa besta enfermiça. - O mesmo acontece com o homem domado que o sacerdote «melhorou». Na Alta Idade Média, quando de facto a Igreja era sobretudo um circo de feras, dava-se caça em todas as partes aos mais belos exemplares da «besta loura» - «Melhoraram-se», por exemplo, os aristocráticos germanos. Porém, que aspecto oferecia logo esse germano «melhorado», levado enganosamente para o mosteiro? O de uma caricatura de homem, o de um aborto: havia sido convertido num «pecador», estava metido na jaula, havia sido encerrado entre conceitos todos eles terríveis... Ali jazia agora, enfermo, murcho, odiando-se a si mesmo; cheio de ódio contra os impulsos que incitam a viver, cheio de suspeitas contra tudo o que continuava a ser forte e feliz. Em suma, um «cristão»... Dito fisiologicamente: na luta com a besta o pô-la enferma pode ser o único meio de debilitá-la. A Igreja entendeu isto: deitou a perder o homem, debilitou-o - porém pretendeu tê-lo «melhorado»...

3.
Tomemos o outro caso da chamada moral, o caso da criação de uma determinada raça e espécie. O mais grandioso exemplo disto oferece-no-lo a moral hindu, sancionada como religião no «Código de Manu» . A tarefa aí exposta consiste em criar ao mesmo tempo nada menos que quatro raças: uma sacerdotal, outra guerreira, uma de comerciantes e agricultores, e finalmente uma raça de servidores, os sudras. É evidente que aqui não nos encontramos já entre domadores de animais: uma espécie cem vezes mais suave e racional de homens é o pressuposto para conceber sequer o plano de tal criação. Vindo do ar cristão, um ar de enfermos e de cárcere, respira-se aliviado ao entrar neste mundo mais são, mais elevado, mais amplo. Que miserável é o «Novo Testamento», comparado com Manu, que mal que cheira! - Porém também esta organização tinha necessidade de ser terrível, - desta vez não na luta com a besta, mas sim com o seu conceito antitético, com o homem-não-de-criação, o homem-mestiço, o chandala. E, de novo, essa organização não tinha nenhum outro meio para fazê-lo inócuo, para torná-lo débil, que pô-lo enfermo, - pois era a luta com a «maioria». Talvez nada choque mais a nossa sensibilidade que estas medidas preventivas da moral hindu. O terceiro edicto, por exemplo (Avadana-Sastra I), o de «os legumes impuros», prescreve que o único alimento permitido aos chandalas sejam os alhos e as cebolas, em atenção a que a Escritura Sagrada proíbe dar-lhes grão ou frutos que tenham grãos, dar-lhes água ou fogo. Esse mesmo edicto estabelece que a água de que necessitem não a tomarão nem dos rios nem das fontes nem dos tanques, mas unicamente dos acessos aos charcos e dos buracos feitos pelas pisadas dos animais no chão. Do mesmo modo se lhes proíbe lavarem as suas roupas e lavarem-se a si mesmos, posto que a água que generosamente se lhes concede só é lícito utilizarem-na para aplacar a sede. Finalmente, proíbe-se às mulheres sudras assistirem no parto às mulheres chandalas, e ainda se proíbe a estas últimas assistirem-se mutuamente em tais circunstâncias... - O êxito de tal política sanitária não tardou a fazer-se sentir: epidemias mortíferas, doenças sexuais terríveis, e, em consequência disso, de novo, «a lei do cutelo», que prescreve a castração para os rapazinhos, a amputação dos lábios menores da vulva para as meninas. O próprio Manu disse: «os chandalas são fruto do adultério, incesto e crime (- esta é a consequência necessária do conceito de criação). Como vestidos terão só os trapos dos cadáveres, como vasilha, potes rachados, como adorno, ferro-velho, como culto, só os espíritos malignos; vaguearão sem descanso de terra em terra. É-lhes proibido escrever da esquerda para a direita e servir-se da mão direita para escrever: o emprego da mão direita e da escrita da esquerda para a direita está reservado aos virtuosos, às pessoas de raça».

A moral da criação e a moral da domesticação são completamente dignas uma da outra nos meios para se imporem: é-nos lícito assentar como tese suprema que, para fazer moral, é preciso ter a intenção firme do contrário. Este é o grande problema, o inquietante problema atrás do qual eu andei durante mais longo tempo: a psicologia dos melhoradores da humanidade. Um facto pequeno e, no fundo, modesto, o da chamada pia fraus proporcionou-me o primeiro acesso a este problema: a pia fraus, património de todos os filósofos a sacerdotes que «melhoraram» a humanidade. Nem Manu, nem Platão, nem Confúcio, nem os mestres judeus duvidaram jamais do seu direito à mentira. Não duvidaram dos seus direitos completamente diferentes… Expressando-o numa fórmula seria lícito dizer: todos os meios com que pretendeu até agora tornar moral a humanidade foram radicalmente imorais. "
 Nietzsche, in CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS

segunda-feira, 3 de março de 2014

Os Russos que amo e desprezo!

A luta pelo poder retratou a luta pela vida, sem qualquer critério ético ou moral, sem qualquer valor pela vida do outro. Mas entre os homens civilizados ela não tem mais lugar!... e será perseguida pela lei!! jamais a desumanidade para com o próximo ilibará líder politico algum dos seus crimes!...  Acreditemos em futuros julgamentos como os houve em Nuremberg... façamos por eles!!
A minha admiração pelos Russos começou com Gogol e Dostoievski, o meu desprezo com Estaline e todos os seus seguidores!!...
Quanto mais se avança no relógio da História maior deveria ser o avanço ético moral no que concerne à vida do outro, o bem supremo, o bem comum!, por isso mais custa perdoar os algozes de hoje que os do passado! - a Justiça tarda!!