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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Consciência Social...

 agora, o teu olhar, sempre distraído em pensamentos e vagueações, focou aqui... e no interior do mistério dos nossos hemisférios...
começamos a partilhar ...
um médico meu conhecido há uns 14 anos, cumprimenta-me afavelmente com um sorriso... e pela qualidade desse cumprimento quase diria que simpatiza deveras comigo... digo diria porque certezas não tenho de agradar-lhe de verdade!, além do mais ele é médico de clínica geral habituado a sorrir para a maioria dos seus pacientes... e o seu sorriso tem decerto um cariz profissional,... contudo, parece-me o seu sorriso por minha causa, mais largo e duradouro... de quando em vez, a despedir-mo-nos, conjuntamente com o sorriso dá-me umas palmadas nas costas sobre as quais questiono a intenção... se as dá afectuosas ou para marcar bem o inicio da despedida, para eu ter essa noção, e me apressar a sair...
Eu por hábito mais calado que falador, no seu consultório, diante dele, falo-lhe com toda a eloquência dos meus sintomas,... ouve-me enquanto escreve com lentidão no teclado olhando o monitor... a sua longa experiência acumulada de anos a exercer clínica geral poderia adivinhar-se no cabelo pintado em casa... mas mais muito mais pelos seus diagnósticos... uma vez levei-lhe uma paciente de pele morena por sua pele andar a clarear em pequenas manchas umas aqui outras acolá que de dia para dia se alastravam... ele, aparentemente calmo, perguntou à paciente se frequentava praias e areias... Afirmativo, respondi-lhe... Depois disse ele - Não se amedronte, não tem nenhuma doença grave na pele... aliás não tem qualquer doença de pele, apanhou foi um fungo!! ... e sem se demorar escrevinhou no papel a receita para comprar na farmácia... uma pomada antifúngica...
... enquanto não chego ao final da história do meu pequeno conto, apraz-me ver ou melhor saber que quem me lê resiste à tentação de ir fazer qualquer outra coisa possivelmente bem menos interessante que a de continuar na companhia deste ilustre autor de prosa com sentido! propósito! finalidade! objectivo, fito e escopo!
Escopo, que reencontro maravilhoso! Há anos que não acontecia um, com esta palavra difícil!,.. Dizia-se no tempo dos meus avós sobre as palavras difíceis, pouco usadas, serem palavras de sete e quinhentos, como hoje se diz palavras de ten dollars, sabiam?... mas continuemos!, falava-vos do médico, um dos meus médicos mais consultados!,... pois bem no consultório, sentado, diante dele desabafava sobre uma questão polémica que é a da desigualdade social... falei-lhe que os Juizes deste pais onde habito terem ganho um aumento mensal de 1000 euros... duas vezes superior ao ordenado mínimo ... retrucou-me ele de chofre!
- Estudasses!
... ouvi e calei, por gratidão e ser uma pessoa respeitadora dos mais idosos, pois ao contrário de tantos médicos snobs e indiferentes, este médico sempre se mostrou próximo e interessado em efectivamente auxiliar quem o procura!, mas agora que ele não me ouve, eu dir-lhe-ia, com desagrado, haver-me dado uma resposta muito infeliz!, e terminaria dizendo que a natureza é parca na distribuição igualitária das capacidades naturais, dos dons e dos talentos, e injusta em dar inteligência a poucos e muita falta dela a muitos!, promovendo assim a desigualdade logo à nascença! e, em virtude de assim suceder, ser o dever do homem social procurar, por meio da aplicação de leis sociais, suavizar essas abismais diferenças!
 - em vez disso, calei-me e disse para os meus botões, olhando-o com tristeza:
- consciência social? Zero!


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Diderot e Voltaire...

acordei em sobressalto na cama, com um pigarro na garganta querendo expulsar os bofes para fora, querendo mas contendo-me numa tosse presa, por não haver por perto para onde; pigarreava e tossia com os lábios cerrados - quem visse pensaria: sufoca - cerrados até expulsar um aglomerado de saliva, num volume por demais anormal para um balde meio de água; seria no relógio 5 minutos antes da uma da manhã; estivera as duas horas anteriores a dormir profundamente; acordara de um sono profundo, à hora habitual de cerrar os olhos; quiçá por isso, recordei com imensa clareza a agoniante sensação de haver passado todo o dia sem nada escrever, somente lendo aqui e ali, algumas páginas de Diderot e outras sobre Voltaire e Proust; e foi garanto-vos no preciso momento em que tinha a boca cheia de saliva por não ter para onde expulsá-la que a inspiração veio clarear a matéria a escrever; eu senti o ímpeto de escrever sobre a razão de não escrever mais…
  (dias depois...)
    pois é senti, passado; passaram-se muitas horas...
    agora, presente, confesso a inspiração foi-se! naquele momento lembro-me foi o cansaço e o sono os culpados de não ter continuado a escrever... interrompi o processo de escrita pensando retomá-lo no dia seguinte... acontece que deixei passar mais que dois dias... e o que agora sei é que o que acabo de escrever não era o que dias atrás sentia...
    porém noto agora que sem ter acordado essa impressão sentida da razão de não escrever mais, escrevi uma outra! o cansaço e o sono!, pois bem lembrei agora o que eu pretendia dois dias atrás; escrever sobre a razão de sentir cansaço e sono depois de escrever algumas poucas horas...
... quem sabe um dia me debruce sobre a razão destas razões...
... até lá será sempre assim - o meu metabolismo acelerado, escreva eu muito ou pouco, depois de duas horas se tanto, faz-me levantar da cama ou da cadeira à procura do que comer…
... fortunas não herdei por isso criadas Celestes que me leve um Croissant à cama, depois de eu fazer tocar duas vezes a campainha, é sonhar
… mas continuando, seria indelicado falar-vos que li um pouco de Diderot e sobre Voltaire e Proust  sem dizer mais… penso assim porque eu, se me dissessem o mesmo, logo desejaria saber sobre eles! … de Diderot li o começo do Jacques o Fatalista de onde sublinhei uma frase que nestes conturbados tempos de escassez de ética judicial, de insolente corrupção politica, de diminuta consciência social, vem até a propósito,  «toda a bala que sai de uma arma tem o seu destino»; li esta frase e perguntei. A quem deveria ser endereçada, a frase? Perguntei e respondi: A todos aquele que usam e abusam de prepotência, protegida por influência do poder dos seus altos cargos políticos e judiciais; em prejuízo da qualidade de vida do próximo, do contribuinte, do réu e do arguido!...

Mas passemos para outro génio, Voltaire! e reparei bem nestes feitos “A partir de 1762 dedica-se energicamente a reabilitar algumas vítimas de erros judiciários. O Sr. Calas, negociante protestante de Toulouse, executado pela suposta morte do seu filho convertido ao catolicismo; Sirven, outro protestante de Castres refugiado na Suiça, depois do acusarem ter assassinado a filha que fugira para um convento; o cavaleiro La Barre, decapitado por ter insultado uma procissão; Lally Todendal, governador de possessões francesas na Índia, acusado de haver traído o rei e condenado à morte sem se poder defender.”… isto eu lia com o coração, sem saber da sua luta contra estes erros judiciários,,,, soube agora!... e mais apaixonado por Voltaire estou!, aliás, só podia, foi Nietzsche que mo deu a conhecer elogiando-o. Sim, eu teria lido toda a correspondência de Voltaire, em número superior a 10 mil cartas!


... sobre Proust! - primeiro eu não sabia nada! quando me aconselharam a ler a obra dele nem o nome dele sabia!, lembro-me quem foi e que no dia seguinte procurava-o na biblioteca!, fiquei admirado pela dimensão do livro!, enorme! depois, bem depois eu nunca mais parei do ler...
Há muito poucas alusões de Proust na "Procura" a Diderot e a Voltaire!, sobre Diderot  diz alguém na "Procura" que é superior a Homero!...