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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

a surpresa o drama a tragedia o horror

… ao oitavo ano da presente década havia um homem que só tinha uma hora para almoçar. Ao meio dia desceria as escadas sem pressa e chegado à rua pensaria a qual restaurante ir, se não se houvesse dado em sua vida uma alteração comportamental: Em vez de almoçar corria para a estação de Metro mais próxima, para sair na seguinte. Atravessava depois a rua e estacava perto da porta principal do edifício do Banco, de onde àquela hora haveria de ver dezenas de pessoas sair. De todas, uma havia que o fazia estar ali… A ideia era falar-lhe, porém mal a viu sentiu-se incapaz da interpelar.
Quando o vi ali parado olhando as pessoas a sair do edifício, pensei que esperasse alguém; pareceu-me um tanto magro e era visível a mesma agitação interior dos tempos da escola...
-Que fazes por aqui amigo?
- Eu? (Surpreso...)
-Sim tu!, Que fazes por aqui?
-Aproveito a minha hora de almoço para ver quem gosto…
-E sobra-te tempo para almoçar?
-10 minutos.
-Isso é amor? Ou Loucura?
-Antes fosse loucura!
-Quem é ela?
- Se eu soubesse…
- Um dia declaras-te.
- Como amigo? Como?
- Subtilmente!
- Eu queria ser o mais explicito possível…
- Não! Fá-lo subtilmente! Sem tu próprio dares por isso…
(...)
...Ora as probabilidades de se declarar sem que ele próprio se apercebesse eram escassas! mas não impossíveis. Sabia que teria apenas de aparecer no Banco e consultar o saldo da sua conta bancária, e quiçá o futuro não lhe reservasse dizer subtilmente o que não sabia como...
E do mesmo modo que as pessoas sonham a dormir com as pessoas que há muito desejam acordados, involuntariamente, inspirado pelo contacto de vê-la e de ouvi-la, lhe saiu súbito quer das mãos quer dos lábios os actos e as palavras a declaração sublimar - subentendida - que estava a bem dizer em nota de rodapé em letrinha minúscula, mas ainda assim legível.
Uma dessas vezes, sentado, diante dela, em consequência do como a via manusear o mouse, agarrou-lho, virou-o de modo a abri-lo e limpou-o da sujidade acumulada nas rodas com esmerado cuidado. Lembrou-me o relojoeiro da vila onde cresci, que aproveitava a profissão para tocar no pulso das senhoras. Ao vê-lo limpar o mouse, ela ficou perplexa. Era a primeira vez que alguém tivera esse cuidado. Sem saber o que dizer, levantou-se da cadeira e desapareceu dali. Veio 2 minutos depois com duas folhas de papel de limpeza. Estendeu-las depois, agradecendo-lhe!
Uma outra vez, aconteceu no mesmo lugar e na mesma cadeira, de há um ano atrás, quando, lhe falou por acaso de um casaco que ela por há muito não vestir já quase esquecera…

Ele: - Lembro-me que a via muitas vezes com um casaco cinzento claroo…
- (pausa) quando ela do casaco se lembrou. Ela: – ah sim tenho sim, já está guardado a algum tempo no armário. Sim dessa cor.
Ele: - pois eu não invento!

Uma outra vez, ao passar em frente do seu Guiché para se sentar no sofá da sala de espera olhou para o local onde habitualmente ela trabalhava mas não a vira lá. Pensou "Será que hoje não veio? Não, ausentou-se por momentos..." então enquanto lia um artigo de uma revista que por ali estava, ouviu sobre os diversos sons que provinham de todo o lado uma voz que lhe soou familiar. Era a voz dela, imaterial. Ao reconhecer-lhe a voz logo soube em si a qualidade da reconhecer.

Nesse tempo ele amava-a pelo pouco que via e reconhecia nela. Das suas mãos e dedos que não tinham nem anéis nem aliança, a independência! Do modo atencioso como o tratava como cliente, a simpatia! Do seu modo de andar, a graça a feminilidade.
Mas nem sempre vê-la lhe trouxe a felicidade sonhada! Aconteceu uma vez num desses períodos de almoço adiados, a visão de algo que se pudesse teria evitado testemunhar!, à hora do almoço passou pelo Campo Pequeno e viu-a acompanhada por um homem de fato. Seria um amigo? seria se não fosse ter testemunhado enquanto subiam na passadeira rolante de acesso à entrada do Centro Comercial um beijo demorado!... o que profundamente, a pontos de se dar na sua vida uma nova alteração comportamental. Durante o tempo que se saberá agora, que foi de meio ano, não procurou voltar a vê-la.