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segunda-feira, 28 de julho de 2014

A mandioca, o Carnaval e os anjos celestiais!!

      A professora pedira aos meninos para ler em casa um texto alusivo ao Carnaval e, para incentivá-los ao cumprimento desse dever, o da leitura, dissera-lhes que quem lesse o texto até ao fim acharia nele uma recompensa; ficaram por isso os meninos intrigados sobre qual seria.
- Srª Professora diga-nos. Qual é a recompensa?
- Ai isso é que não vos digo!, se vos digo perde a graça e vocês já não leriam!
- Leríamos sim!
- Meus queridos, saberão todos que ler já por si é uma recompensa, na medida em que é um exercício racional, mas quanto a este texto garanto-vos que vão ter uma outra acrescida! Entenderam?
- Um dos meninos - o Luis - disse que sim, mas um outro disse:
- Não.
- O Luís entendeu, e vai fazer o favor de te explicar por outras palavras…
 (Luís virado para o Pedro)
- Pedro, ler faz-nos bem como jogar à bola! É um exercício! A outra recompensa deve ser marcar um golo! (riu-se)
- É mais ou menos isso! Quem ler tudo até ao fim vai achar a outra recompensa. Agora não me perguntem qual?...
Os catraios (os guris) estavam verdadeiramente intrigados a olhar para as duas folhas A4 cheias de palavras; eu mesmo também fiquei intrigado… mas, quando cheguei a casa, atirei a mala para cima da cama e nunca mais me lembrei do dever escolar… 
Aconteceu  que no dia seguinte, em consequência do meu completo esquecimento, ser um dos poucos a não saber nada sobre a recompensa! Ouvia os meus colegas falarem uns com os outros referindo-se à recompensa, rindo-se…
- Leram o texto?
- Lemos sim! – gritaram os meus colegas no meio de muitas risadas
- Quem é que não leu?
Eu levantei o braço!...
- Quem mais não leu?
Levantaram o braço mais uns tantos!...
 - Vamos então ler em voz alta, para todos ouvirem. João retire a mão da cara, olhe a postura! Sente-se direito. Faça-nos o favor de ler. Em voz alta. Leia o título também.
O João não lia mal; tinha o costume de pigarrear a voz antes de ler ...
QRQRQRRRRR QRQRQRRRR
« O DISFARCE!
O professor havia pedido aos seus alunos disfarces de Carnaval, e ficara combinado deixarem-nos dentro de uma caixa de papelão; por isso o barulho e a azáfama em volta da caixa era grande; queriam ser os primeiros a deixar na caixa o seu disfarce e a ver os dos outros.
- Vá chega!, Vão sentar-se! – ordenou o professor, incomodado pela gritaria infantil!
De imediato todos procuraram o lugar para se sentar. Todos menos Edú Nassim, o guineense; ele aproveitara a confusão para informar o professor sem ser ouvido pelos outros…
- Esqueci-me de trazer a fantasia de Carnaval
- Não faz mal Edú. Vai para o teu lugar!
  O esquecimento de Edú tinha uma razão. Os pais tinham vindo da Guiné Bissau, e passavam por algumas dificuldades… Um kilo de farinha de mandioca para os pais de Édu tinha prioridade sobre qualquer disfarce…»

 Os alunos atentos à história riram-se; perguntaram depois o que era uma mandioca, e dois houve que por estarem distraídos perguntaram ao colega do lado sobre o quê que riam…

O professor explicou que uma mandioca era uma raiz muito maior que uma cenoura com uma casca castanha escura e toda branca por dentro. Depois, elogiou a dicção do pequeno leitor e pediu a um outro aluno para ler a parte que faltava… (continua…)

«A mãe de Edú pensara comprar-lhe uma coroa de rei para fazer jus ao nome Nassim, mas não passou dai, do pensamento…

O professor poderia aproveitar-se da desculpa de Edu para dar uma lição de moral sobre o esquecimento, mas não o fez, seria imoral, não acham?
Com 3 grandes passos chegou-se perto da caixa e enfiou os braços que desapareceram no meio dos disfarces; agarrou em todos de um vez e pô-los sobre duas mesas. Havia disfarces e máscaras para todos os gostos. Havia um alusiva ao livro do Alexandre Dumas, Os três Mosqueteiros, outra ao famoso cavaleiro da Triste Figura, uma com uma mascarilha e uma capa negra era a do Zorro, havia a dum coelho – o da Alice no pais das Maravilhas – havia a do pirata da barba Azul, e a do Capitão Ahab, mas de todas, a mais cobiçada pelos rapazes foi a do Homem Aranha… todos estavam muito animado, menos Edú, ele continuava sentado, sem querer participar na distribuição das fantasias…
 Vendo-o cabisbaixo, o professor chamou-o.
- Vem cá Édu.
O Édu levantou-se relutante, como se fosse pedir sopa uma segunda vez!»

- Sopa?? – questionou um aluno
- É referente ao Oliver Twist, não é professor?
- Sim é. Alude a uma das passagens mais famosas do Oliver Twist. (virando-se para o leitor) Continua!
«Queria escapulir-se, receava o pior!, estava naquela escola fazia pouco tempo e ainda não se habituara a estar no meio dos branco.
 A máscara a capa e o chapéu do Zorro está fora de questão, pensou o professor, perder-se-ia o efeito do contraste.
 - Quem quer ser o Zorro?
 - Eu não me importo de fazer de Zorra! – disse a Carminda; ela sabia aproveitar as deixas…
    Com o olhar na caixa, antes que as fantasias fossem todas distribuídas e o Édu ficasse sem uma, o professor, retirou umas asinhas acinzentadas, de penas ganso, procurou ainda a aljava e a flecha mas delas nem a sombra. A ideia era que Edu se tornasse um orgulhoso cupido guineense!, mas gorada essa hipótese esperava que com as asinhas o vissem anjo, disfarçado de anjo!!   Vestiu-lhes as asas!! e perguntou à turma:
- Digam-me o que é que o Édu vos faz lembrar, não vos parece mesmo um… digam, digam!
  Edu chateado achou por bem mover os braços, as asas mexeram-se por isso um pouco!
 Carminda viu e disparou!
-  Um morcego!!!
Toda a turma riu!
- Ahhhah ahahaha Edú parece mesmo um morcego!!
- Bate as asas Edú, sais pela janela!!»

Eu conjuntamente com os meus colegas, rimos, depois, fez-se me luz, ah agora sei, era esta a recompensa!