A professora pedira aos meninos para ler em casa um texto
alusivo ao Carnaval e, para incentivá-los ao cumprimento desse dever, o da
leitura, dissera-lhes que quem lesse o texto até ao fim acharia nele uma
recompensa; ficaram por isso os meninos intrigados sobre qual seria.
- Srª Professora diga-nos. Qual é a
recompensa?
- Ai isso é que não vos digo!, se vos digo
perde a graça e vocês já não leriam!
- Leríamos sim!
- Meus queridos, saberão todos que ler já
por si é uma recompensa, na medida em que é um exercício racional, mas quanto a
este texto garanto-vos que vão ter uma outra acrescida! Entenderam?
- Um dos meninos - o Luis - disse que sim,
mas um outro disse:
- Não.
- O Luís entendeu, e vai fazer o favor de
te explicar por outras palavras…
(Luís virado para o Pedro)
- Pedro, ler faz-nos bem como jogar à
bola! É um exercício! A outra recompensa deve ser marcar um golo! (riu-se)
- É mais ou menos isso! Quem ler tudo até
ao fim vai achar a outra recompensa. Agora não me perguntem qual?...
Os catraios (os guris) estavam
verdadeiramente intrigados a olhar para as duas folhas A4 cheias de palavras; eu
mesmo também fiquei intrigado… mas, quando cheguei a casa, atirei a mala para
cima da cama e nunca mais me lembrei do dever escolar…
Aconteceu que no dia seguinte, em
consequência do meu completo esquecimento, ser um dos poucos a não saber nada
sobre a recompensa! Ouvia os meus colegas falarem uns com os outros
referindo-se à recompensa, rindo-se…
- Leram o texto?
- Lemos sim! – gritaram os meus colegas no
meio de muitas risadas
- Quem é que não leu?
Eu levantei o braço!...
- Quem mais não leu?
Levantaram o braço mais uns tantos!...
- Vamos então ler em voz alta, para
todos ouvirem. João retire a mão da cara, olhe a postura! Sente-se direito.
Faça-nos o favor de ler. Em voz alta. Leia o título também.
O João não lia mal; tinha o costume de pigarrear
a voz antes de ler ...
QRQRQRRRRR QRQRQRRRR
O professor havia pedido aos seus alunos
disfarces de Carnaval, e ficara combinado deixarem-nos dentro de uma caixa de
papelão; por isso o barulho e a azáfama em volta da caixa era grande; queriam
ser os primeiros a deixar na caixa o seu disfarce e a ver os dos outros.
- Vá chega!, Vão sentar-se! – ordenou o
professor, incomodado pela gritaria infantil!
De imediato todos procuraram o lugar para
se sentar. Todos menos Edú Nassim, o guineense; ele aproveitara a confusão para
informar o professor sem ser ouvido pelos outros…
- Esqueci-me de trazer a fantasia de
Carnaval …
- Não faz mal Edú. Vai para o teu lugar!
O esquecimento de Edú tinha uma
razão. Os pais tinham vindo da Guiné Bissau, e passavam por algumas
dificuldades… Um kilo de farinha de mandioca para os pais de Édu tinha
prioridade sobre qualquer disfarce…»
Os
alunos atentos à história riram-se; perguntaram depois o que era uma mandioca,
e dois houve que por estarem distraídos perguntaram ao colega do lado sobre o
quê que riam…
O professor explicou que uma mandioca era
uma raiz muito maior que uma cenoura com uma casca castanha escura e toda
branca por dentro. Depois, elogiou a dicção do pequeno leitor e pediu a um
outro aluno para ler a parte que faltava… (continua…)
«A mãe de Edú pensara comprar-lhe uma
coroa de rei para fazer jus ao nome Nassim, mas não passou dai, do pensamento…
O professor poderia aproveitar-se da
desculpa de Edu para dar uma lição de moral sobre o esquecimento, mas não o fez,
seria imoral, não acham?
Com 3 grandes passos chegou-se perto da caixa
e enfiou os braços que desapareceram no meio dos disfarces; agarrou em todos de
um vez e pô-los sobre duas mesas. Havia disfarces e máscaras para todos os
gostos. Havia um alusiva ao livro do Alexandre Dumas, Os três Mosqueteiros,
outra ao famoso cavaleiro da Triste Figura, uma com uma mascarilha e uma capa negra
era a do Zorro, havia a dum coelho – o da Alice no pais das Maravilhas – havia
a do pirata da barba Azul, e a do Capitão Ahab, mas de todas, a mais cobiçada
pelos rapazes foi a do Homem Aranha… todos estavam muito animado, menos Edú,
ele continuava sentado, sem querer participar na distribuição das fantasias…
Vendo-o cabisbaixo, o professor chamou-o.
- Vem cá Édu.
O Édu levantou-se relutante, como se fosse
pedir sopa uma segunda vez!»
- Sopa?? – questionou um aluno
- É referente ao Oliver Twist, não é
professor?
- Sim é. Alude a uma das passagens mais
famosas do Oliver Twist. (virando-se para o leitor) Continua!
«Queria escapulir-se, receava o pior!,
estava naquela escola fazia pouco tempo e ainda não se habituara a estar no
meio dos branco.
A
máscara a capa e o chapéu do Zorro está fora de questão, pensou o professor,
perder-se-ia o efeito do contraste.
- Quem
quer ser o Zorro?
-
Eu não me importo de fazer de Zorra! – disse a Carminda; ela sabia aproveitar
as deixas…
Com o olhar
na caixa, antes que as fantasias fossem todas distribuídas e o Édu ficasse sem
uma, o professor, retirou umas asinhas acinzentadas, de penas ganso, procurou ainda
a aljava e a flecha mas delas nem a sombra. A ideia era que Edu se tornasse um orgulhoso
cupido guineense!, mas gorada essa hipótese esperava que com as asinhas o vissem
anjo, disfarçado de anjo!! Vestiu-lhes as asas!! e perguntou à turma:
- Digam-me o que é que o Édu vos faz
lembrar, não vos parece mesmo um… digam, digam!
Edu chateado achou por bem mover os braços, as asas mexeram-se por isso
um pouco!
Carminda viu e disparou!
- Um
morcego!!!
Toda a turma riu!
- Ahhhah ahahaha Edú parece mesmo um
morcego!!
- Bate as asas Edú, sais pela janela!!»
Eu conjuntamente com os meus colegas, rimos, depois, fez-se me luz,
ah agora sei, era esta a recompensa!