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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Marcel Proust 2, por Alexnietzsche

"(...)Quando Françoise, à noite, se mostrava gentil comigo, e me pedia licença para se sentar no meu quarto, parecia-me que seu rosto se tornava transparente e que nela eu lia a bondade e a franqueza. Mas Jupien, (...) revelou-me posteriormente que ela dizia que eu não valia a corda para me enforcar e que procurara lhe fazer todo o mal possível. Estas palavras de Jupien mostraram-me logo (...) que não é só o mundo físico que difere do aspecto sob o qual o vemos; (...) fiquei aterrorizado. E, só se tratava de Françoise, a criada, com quem pouco me preocupava. Seria assim em todas as relações sociais? E até que desespero poderia isso levar-me um dia, se o mesmo ocorresse no amor? Por enquanto apenas se tratava de Françoise. (...) O fato é que percebi a impossibilidade de saber de modo direto e seguro se Françoise me amava ou detestava. E assim, foi ela a primeira a me dar a ideia de que uma pessoa não é, como o acreditara, nítida e imóvel diante de nós com suas qualidades, seus defeitos, seus projetos, suas intenções para connosco (...) e sim uma sombra onde jamais podemos penetrar, para a qual não existe conhecimento direto, a respeito de quem formamos numerosas crenças com o auxílio de palavras e até mesmo de ações, umas e outras nos dando apenas informações insuficientes e, aliás, contraditórias, uma sombra onde podemos alternadamente imaginar, com a mesma verosimilhança, o ódio e o amor."
Marcel Proust, in O Caminho de Guermantes

... e porquê falar agora de Münster?, porque foi a cidade onde li e sublinhei esta página, saudades de Proust e de Münster invadem-me não raro o coração!!!