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terça-feira, 30 de setembro de 2014

a beleza avistada por um observador em movimento e o humor de Marcel Proust, por Alexnietzsche

"O carro da Sra. de Villeparisis ia depressa. Mal me dava tempo para ver a menina que vinha em nossa direcção; e, contudo, como a beleza das criaturas humanas não é igual à das coisas, e sentimos muito bem que pertence a uma criatura única, consciente e de livre vontade, enquanto a sua individualidade, alma vaga, vontade desconhecida, se pintava em imagem prodigiosamente reduzida, mas completa, no fundo de seu distraído olhar, imediatamente (...) sentia em mim o embrião vago, minúsculo também, do desejo de não deixar passar aquela menina sem que seu pensamento tivesse consciência da minha pessoa, sem impedir que seus desejos se dirigissem a outro homem, sem que eu entrasse nessas ilusões e me assenhoreasse de seu coração. Enquanto isso, o carro afastava-se, a rapariga ficava para trás, e como carecia a meu respeito de quaisquer das noções que constituem uma pessoa, os seus olhos, que mal me tinham visto, já me haviam esquecido. Parecera-me acaso tão linda por tê-la visto assim tão fugazmente? Em primeiro lugar, a impossibilidade de nos determos junto de uma mulher, o risco que corremos de nunca mais tornar a encontrála, dão-lhe repentinamente o mesmo encanto que a determinado país a doença ou falta de recursos que nos impede visitá-lo,(...) os atractivos de uma mulher que vemos passar costumam estar em relação directa com a rapidez da sua passagem. (...)
Se eu pudesse descer do carro e falar com a moça que passava, talvez me houvesse desiludido qualquer imperfeição de sua pele, que não se poderia ver do carro. (...) Talvez uma só palavra sua, um sorriso, me tivessem dado uma chave ou código inesperado para compreender a expressão de seu rosto ou de seu porte, que imediatamente já me pareceriam banais. É muito possível, porque nunca na minha vida encontrei moças tão deliciosas como naqueles dias em que estava com uma pessoa muito grave, de quem não podia separar-me apesar dos mil pretextos que inventava; em Paris, alguns anos depois da minha primeira viagem a Balbec, ia eu de carro com um amigo de meu pai quando vi uma mulher andando muito depressa na escuridão da noite; ocorreu-me que seria tolice perder por uma questão de cortesia a minha parte de felicidade na única vida que sem dúvida existe; desci sem desculpa alguma e lancei-me em busca da desconhecida; perdi-a num cruzamento de ruas, dei com ela no seguinte, e afinal, sem fôlego, me vi cara a cara com a velha sra. Verdurin, da qual eu sempre fugia, e que me disse, muito contente e admirada:
 - Que amabilidade a sua, correr para vir cumprimentar-me!"
Proust, in Tomo II, EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

JUDEUS o povo perseguido

Com ou sem grandes conhecimentos Históricos dá para concluir que o povo judeu tem sido ao longo da sua História culpabilizado, escorraçado, perseguido, aprisionado e mais macabro ainda, executado; há poucos séculos atrás os Tribunais do Santo Ofício da Inquisição não brincavam em serviço, torturavam-os nos interrogatórios, acusavam-os de judaizarem (de praticarem em segredo a religião dos seus antepassados) e servindo-se das alianças com os Reis Católicos puniam com requintes de malvadez os judeus com a pena de morte... imagine os carrascos a garrotarem o seu pescoço apertando um pouquinho mais a cada meia volta... ou então imagine-se acobardado a assistir a tudo conjuntamente no meio do povo, sentindo asco de si mesmo e da multidão cúmplice... Mas para quê ir tão atrás no tempo, ainda bem mais recente houve o horror indescritível documentado e fotografado do Holocausto... Como conseguiram fazer isto ao Povo judeu? eu respondo-vos - por ser fácil - já não seria fácil se o povo judeu se valesse do direito de entrar em guerra! Ora nem se podiam valer, precisariam, para isso, de um exército! acontece que agora presentemente o povo judeu já o tem!!!, e ainda bem! Tardava!! já não era sem tempo! Vã glória terem precisado da ajuda de quem lhe fez um caminho por entre as águas salgadas.. eram mesmo uns sonsos, uns sem sal... ahahha hoje canta outro galo!! hoje eles devolvem cada pedrada... e quem nao gosta que não lhes atire pedras!! Muito bonzinhos são os israelitas, porque se fosse o nosso 1º rei Dom Afonso Henriques e em vez de espadas e mocas tivesse os recursos bélicos dos Israelitas,...

leio e releio António José Saraiva, INQUISIÇÃO e CRISTÃOS NOVOS

"(...)Em 1979, António José Saraiva rompeu com o regime saído do 25 de Abril. Defendia que como não se fizera a liquidação do anterior regime e o apuramento de responsabilidades, nos crimes da PIDE, nos crimes da guerra colonial, nas suspeitas de corrupção, que o regime do 25 de Abril era uma continuação, sob outras vestes, do salazarismo e marcelismo.      
Escreveu num artigo demolidor, intitulado O 25 de Abril e a História: "Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regímen, como não se fez a descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regímen monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente.
Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: "a longa noite fascista". Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar.
O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram "saneamentos" oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão, pelo Governo e pêlos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco." Um texto actualíssimo, como se vê.(...)"
by Paulo Gaião, In Expresso, 27 de Julho de 2012

sábado, 27 de setembro de 2014

CARTA DE AMOR 1 com Prólogo

 Introdução - explicação ao leitor.

... só aqui estou eu, sentado, a escrever, para si...
... o que me trouxe foram as cartas de amor; senti, ao lê-las, não ter nunca lido nenhumas mais inspiradas... as minhas ouso dizer são as mais belas cartas de amor da língua portuguesa... quem não acredite que mo prove... semanalmente comprometo-me a editar um ou duas... tenho a certeza que nunca haveis lido cartas de amor mais belas ... publicarei aqui as ditas sem qualquer ordem cronológica... faço-o por considerá-las dignas de vós... apreciadores de arte!

"Ler pode tornar o Homem perigosamente humano."
Guiomar de Grammon


... é bem diferente ler o que eu escrevi para o mundo e ler o que eu escrevo para si - o que é para o mundo é para todos, o que é para si é para ser seu !, porque as palavras devem voltar ao ser de onde partiram!
A S., sem querer, fê-las nascer pelo gesto simples de me olhar e cumprimentar!... então de imediato tudo o que foi emoção - os seus olhos a olhar nos meus - num vislumbre lento - a sua expressão cândida e alegre - contrastante  com a sua fisionomia de normal mais séria - tudo, toda a emoção - tudo!, se quis em palavras!, eu dizia depois de nos vermos «vou escrever-lhe!»... 
Sem dúvida estas palavras vieram-me inspiradas de si!, é normal então voltarem para si!... 
 minutos depois passava segunda vez pela mesma entrada do edifício onde nos cruzamos- como o carteiro que toca sempre duas vezes - mas já lá não estavas!, foi bom na mesma, porque passei pelo mesmo sitio onde a vira!... depois em silêncio revivi a imagem que retive de si quando nos olhámos! mais que as suas roupas de cor preta, os seus sapatos pretos e a sua mala preta, eu vi os seus olhos! Se eu fosse pintor ou mesmo não fosse, mas soubesse pintar, eu poderia pintá-los para poder voltar a vê-los - numa tela!, mas como não sou nem sei quando, ou mesmo se, voltarei a vê-los, recorro-me do fraco talento para a escrita, de modo a que estas palavras sempre mos possam lembrar...



quarta-feira, 10 de setembro de 2014

se não chegar uma página, tome 1/4 de livro...

Há estados de alma doentes de melancolia; nota-mo-la nos outros e em nós, e não raro aconselhamos ou aconselham-nos: - Vá! Sai dessa apatia, vai dar um passeio!... – porém, não obstante concordarmos com o conselho, quantas vezes não nos deixamos estar presos, dias, semanas, à cómoda inactividade física?... às vezes anos… parados!!… um dia é porque chove!  no outro é por que faz frio. Pois bem, peço-vos, deixai-vos de desculpas. Sabei! até no Inverno deverias preferirdes salpicar-vos de chuva a estardes debaixo das nuvens negras da melancolia. E quando o estado do tempo se agrava?, e a caminhada se torne lamacenta, impraticável, perigosa? Bem, jamais desejaria que corresses perigo de vida - prescrevo-vos então a outra caminhada… Qual? A que podereis fazer pelas páginas dos livros, frase após frase, num passo de leitura ora vagaroso, ora ritmado; para não vos demorardes demais nas paisagens salutares da arte, das ideias, dos valores nobres. No caminho das páginas havereis de ver, de parágrafo em parágrafo, enseadas com muito vento, planícies imensas a perder de vista; tereis a impressão de terdes subido a miradouros e a verdes mais longe!, - e enquanto pelo objecto da leitura caminhardes lereis muitas coisas. Descobrireis até frases terapêuticas com princípios activos mais benfazejos para a alma que os dos fármacos. Poderia citar-vos algumas!, mas melhor não, Curar-vos-ia de toda a melancolia, e isso eu não quero! Onde depois iria eu achar leitores melancólicos? Se vos apraz, sabei que Aristóteles afirmou que por regra os homens inteligentes são melancólicos! Eu fui-o muito! Sou-o ainda. Sei por conhecimento próprio o quanto aborrece ao próprio a melancolia! Hoje conheço-a mais e por isso convivo com ela melhor!, e às vezes, concluo, sou Melancólico, logo existo!,
Ler é bom remédio! As leituras, em semelhança com os passeatas a pé, por havermos despendido velhas energias e adquirido novas, fazem sentirmo-nos vivificados!...

Seria pedir muito à vossa melancolia, agarrar em livros dos mais variados autores, socorrer-se da sua companhia, e calcorrear o salutar caminho das palavras?