É acertado
afirmar que os homens que combatem a fé
em Deus, o fazem por acreditarem que é insustentável poder-se esperar
alguma coisa de coisa alguma; nas suas mentes Deus não passa do fruto da imaginação
do homem, nas suas mentes Deus é coisa que não existe senão como ideia. Assim
eles não combatem Deus – é difícil combater o que não existe – mas a ideia de
Deus. Na Religião Católica recebemos da Bíblia uma aproximação "ideal" da definição de Deus; é aceite que Ele, Deus é omnipotente, omnisciente e
omnipresente. Ora, pergunto, quem provar a impossibilidade de ser Deus
omnipotente, não provará a inexistência dessa ideia de Deus? Sim, assim creio.
E como então provaremos tal inexistência? Ora, poucos católicos negarão que o
poder existente num ser confere-lhe a faculdade de poder intervir, de alterar
algo; e manifesta-se quando na verdade altera. Assim, de que modo podemos nós
homens compreender a omnipotência e a omnisciência de um Deus que aceita ser
testemunha das dores mais agudas dos homens sem ousar manifestar-se? Os ateus
compreendem-no assim: não existe omnipotência, não existe omnisciência, não
existe Deus - é que para estes não há saber nenhum no Universo que legitime a
não ajuda, pois tal é um crime[1].
- Os religiosos defendem-se, e dizem «Só a omnisciência ininteligível de Deus
legitima a sua não intervenção». Contrapõe ali um ateu: «Até o Fox Terrier dos vizinho quando vê os donos guerrearem-se lhes ladra...» interrompe-o, um
intelectual «É o que o teu cão tem
indubitavelmente mais ciência que a omnisciência de coisa alguma».
Sim, deverá ser
isso, querem os religiosos fazer crer a ateus que quanto à omnisciência de Deus
não lhes é dado suficiente inteligência para entendê-la. Respondem os ateus
«Ficai vocês com ela. Não queremos ser abonados com uma inteligência que não
presta ajuda a quem dela urgentemente precisa. Envergonhar-nos-ia até ao tutano.»
A inexistência da
omnipotência de Deus é provada por uma só omnisciência legitimar a sua não
intervenção: a omnisciência de coisa alguma. Acrescente-se que tal omnisciência
não cabe, nem poderá nunca caber na mente de ateus humanistas. Vale.
Arthur Schopenhaeur legou-nos - acerca do panteísmo – este genial trabalho:
“A minha principal objecção ao panteísmo é que não tem significado. Chamar ao mundo Deus não é explicá-lo, mas apenas enriquecer a linguagem com um sinónimo supérfluo para a palavra mundo. O efeito é o mesmo se se disser «o mundo é Deus» ou «o mundo é o mundo». Se partirmos de Deus como aquilo que é dado e se pretende explicar, dizemos «Deus é o mundo»; depois, por certo, daríamos uma explicação, na medida em que isso seria remontar o ignotus ao notius, embora continuasse a não ser mais que uma explicação da palavra. Mas se partirmos daquilo que é realmente dado, o mundo, e dissermos «o mundo é Deus», então torna-se claro como o dia que isso nada diz, ou, no máximo, explica o ignotium pelo ignotus.
Daí que o panteísmo pressuponha a pré-existência do teísmo: pois apenas partindo de um Deus, ou seja, tendo já um e conhecendo-o, é possível vir a identificá-lo com o mundo, na verdade para o pôr delicadamente de lado. Não se parte, sem preconceitos, do mundo como aquilo que vai ser explicado; parte-se de Deus como aquilo que é dado, mas em breve, não sabendo o que fazer com ele, deixa-se o mundo tomar o seu papel. É essa a origem do panteísmo. Pois nunca ocorreria a pessoa alguma com uma visão isenta de preconceitos do mundo considerá-lo como Deus. Teria, sem dúvida, de trajar-se de um Deus muito mal-avisado, que não soubesse fazer melhor do que transformar-se num mundo como este.
O grande avanço que se supõe que o panteísmo representa sobre o teísmo é, se for tomado seriamente e não como uma simples negação disfarçada, uma transição do improvado e dificilmente concebível para o decididamente absurdo. Porque, por muito obscuro, vago e confuso que possa ser o conceito que está aliado à palavra Deus, dois predicados são, não obstante, inseparáveis dele: supremo poder e suprema sabedoria. Mas que um ser provido desses dois predicados se transferisse para uma situação como a que este mundo representa é, francamente, uma ideia absurda: porque a nossa situação no mundo é obviamente de tal ordem que nenhum ser inteligente, para não dizer omnisciente iria transplantar-se para ela.”
[1] Art. 200º
(Omissão de auxilio)
1. Quem, em caso de grave necessidade,
nomeadamente provocada por desastre, acidente, calamidade pública ou situação
de perigo comum, que ponha em perigo a vida, a integridade física ou a
liberdade de outra pessoa, deixar de lhe prestar o auxílio necessário ao
afastamento do perigo, seja por acção pessoal, seja promovendo o socorro, é
punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.
2. Se a situação referida no número
anterior tiver sido criada por aquele que omite o auxílio devido, o omitente é
punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.