estava a andar e avistei um papagaio verde sobre um poleiro perto
dum kioske – havia duas oliveiras e um palmeira ao redor e o papagaio
pareceu-me atractivo – ainda dei dois passos na direcção que levava – os
seguintes já foram na direcção do papagaio e estranho seria se assim não fosse
- é que eu gosto de animais e tenho um fraquinho por aves! - já é de família!
Até nos pombos da cidade eu reparo!,
Surpreendeu-me esta semana ver três pombos agachados em
três sítios inusitados, em locais diferentes contudo similares, refiro-me à altura.
Um estava imóvel sobre a relva do Parque Eduardo VII, outro à sombra, atrás de
um pilar dum prédio de habitação, e o terceiro igualmente agachado sobre o
primeiro degrau no acesso à porta de uma casa na Av. Almirante Reis. Pensei «estes
pombos pousados no chão ou estão a mudar de comportamentos ou estão doentes sem
forças para voar para lugares mais altos, - são presas fáceis e estão vivos! é
estranho não serem caçados pelos gatos vadios na cidade! ah não admira – os gatos castrados não se reproduzem!... »
… mas chega, não
quero falar-vos mais de pombos nem de gatos castrados – prefiro retomar ao episódio do papagaio,
que foi o que me trouxe aqui!...
passos depois da minha mudança de direcção já eu tentava
apresentar-me à ave de penas verdes!, não é tarefa fácil. Se tentarmos
tocar-lhe corremos o risco de levar uma bicada… A plumagem, reparei, não a
tinha muito cuidada, deveria ser um cinquentão! Mirava-me ora com um olho ora com o outro. A cabeça revirada para trás, alardeando alguns gritos
assustadores. – Percebia-os – provinham do medo do meu tamanho e de lhe ser
estranho! O instinto fizera-o gritar, e ele gritou durante um breve espaço de
tempo. Depois deve ter pensado «não surte efeito, o homem não se afasta! está aqui
mesmo ao lado!, devo estar-lhe a parecer um louco!» e calou-se. As penas no
cimo da cabeça eriçadas baixaram e começou a olhar-me de outra maneira. Estava
a estudar-me! Amigo ou inimigo? Quanto a isso eu não queria que ele tivesse dúvidas!
Então peguei numa das sementes de girassol que estavam no chão do seu ninho
metálico e tratei de lhe mostrar que lha queria dar no bico. O comportamento
dele gerido por um instinto inteligente mudou de imediato, pensou «quer me dar
comida boa, deve ser amigo!» todavia rejeitou a semente, nem tentou pegá-la com
os dedos da pata! Já não era o mesmo papagaio de há pouco, baixou a guarda e
depois a cabeça! Eu ainda receei que ao aproximar a mão me bicasse, mas
incrível ele fechava os olhos inteiramente confiante…
mais importante, do que a comida que ele tinha como
garantida, queria que eu lhe tocasse!, baixou a cabeça aproximando assim o
pequeno penacho. Com a unha do dedo indicador como se fosse um bico dum seu
semelhante fui tocando-lhe nas penas da cabeça…. pela imobilidade a expressão
dos olhos semi-fechados – notei - estava deleitado… cheguei mesmo a tocar-lhe
perto dos olhos e no bico… expondo o meu dedo ao golpe, qual domador a meter a
cabeça dentro da boca do leão… a ponta do dedo ali ao perigo no meio do bico…
que arrepios … nada fez… revirou um pouco a cabeça baixando-a mais… levei de
novo o dedo ao cimo da sua cabeça e lento e suavemente massajei-lhe a pequena plumagem, começaram-se
a passar minutos, e eu queria ir, ir à minha vida, mas o prazer do papagaio era
tão visível tão palpável!!!
quem lhe faria festas? Só os estranhos!
por isso me demorei para ele e com ele, sim confesso, deu-me muito prazer dar-lhe festas! Entendi-o melhor que ninguém quando ele me disse:
sinto inveja dos macacos no Zoo, são mais tocados e acarinhados que eu!
… os olhos dele estavam tão fechados e o corpo tão imóvel
que até me pareceu que adormecera… estava ali somente ali… sem passado sem
futuro…
… a dona do Kioske já olhava... eu não podia ficar ali o dia todo e interrompi o
contacto, o papagaio continuava com os olhos fechados sentindo o contacto prazeiroso. Olhei-o uma ultima
vez, virei costas e fui-me embora…
… nem perguntei como ele se chamava… não foi preciso!
pois amigos adoraria
ficar aqui a falar-vos de macacos e papagaios e outros mais... mas tenho que ir, provir ao meu sustento… não me
pagam para escrever… mas quem me lê, lê-me até ao fim…