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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

uma VARIAÇÃO SOBRE O MESMO TEMA…

conheci-o na noite
entre as conversas ocasionais entre estranhos…
um dia ouvi-o declamar os seus poemas originais e na minha ingenuidade enlouquecido pelos sonhos disse-lhe que haveria de ser o Dostoievski lusitano – bastou. Ele admirou-me a loucura – a altura da fasquia - tornámo-nos amigos...
recordo desse tempo que ouvíamos ambos música Clássica e duas jovens alunas altas e elegantes de cinturas estreitas - que lindas eram… A menos era de pela branca e cabelo preto e havia uma vez olhado para trás quando eu subia a rua e passara por ela… … eu não era certamente o único para quem ela se virava para trás… mas que interessava isso…
enquanto eu como muitos outros não sabíamos onde elas moravam, o meu amigo apaixonadíssimo pela mais bonita de corpo e rosto - uma ruiva aloirada - já subia de elevador direitinho a casa delas, um apartamento que partilhavam. As flores, um ramo de rosas, trazias ele na mão para oferecer à ruiva aloirada… bateu com os nós dos dedos na porta e esperou… quem veio abrir-lhe a porta foi a branca de neve, que, ao vê-lo, o ramo, achou que eram para ela. Ele ficou calado e esperava que a outra aparecesse para as poder oferecer; feliz ou infelizmente a outra não estava em casa. Sozinho, diante de uma mulher perdida de amores por um ramo de rosas que não lhe estavam predestinadas sentia-se perdido... e para não ver o desgosto que lhe causaria contando-lhe para quem as rosas se destinavam, para a não a ver cair desse sonho, deu-lhas… depois ao vê-la assim alegre sem oferecer qualquer resistência deixou-se conduzir pela vontade dela, que era, em poucas palavras, tê-lo. E foi o que aconteceu.
Disse-me dias depois, “Fui comido pela branca de neve apaixonadíssimo pela ruiva aloirada…” A partir desse dia tornou-se o namorado oficial da amiga da mulher por quem se sentia verdadeiramente apaixonado. A outra quando os via ou os ouvia a namoriscarem-se nem desconfiava ser ela a razão das rosas que via no jarro e de todos aqueles beijos…
Ela a ruiva aloirada perguntava-lhe:
- Como é que vocês se apaixonaram assim tanto um pelo o outro?
- Foi um caso de sorte… Foi num dia em que tu não estavas em casa…
O olhar dele quando olhava para a amiga da nova namorada parecia os dos pombos em voltas das pombas quando arrojam com o leque aberto das penas da cauda no chão, mas a loira não vislumbrava qualquer leque no olhar do poeta…
Eles, ele e a loira, viam-se todos os dias; ele tornara-se frequentador assíduo da casa. A razão como ele dizia não eram só as noites diárias com a namorada, - não era só o usufruto do seu corpo – era também o prazer de ver a amiga loira, de sonhar com ela…
O dilema existia: deveria dizer a verdade?
Nunca revelou a verdade, senão ao vosso amigo autor, porque dizia se arriscasse contar a verdade à branca de neve perdê-la-ia… ela amuaria!... A outra talvez nem acreditasse, iria possivelmente rir-se…- costumava dizer: Candeia que vai à frente ilumina duas vezes… Mais vale um pássaro na mão que dois a voar…
Anos depois disseram-me que se tinham deixado…

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O desejo fosse quem fosse, fê-lo amargo mas tornou-o doce...

    Nada é definitivo e na vida talvez apenas e só o sentimento, esse amor que constantemente lembramos na dor da ausência prolongada. Sofremos é um facto. Revisitam-nos recordações que sabemos não poder reviver. Gostaríamos que a vida tivesse sido diferente, que nunca houvéssemos perdido as pessoas que amámos - o prazer carnal da sua companhia - e concluímos que tudo mudou, menos o amor, que sentíamos, que julgávamos perdido, encoberto por outros amores e pelas atribulações da vida… Ainda hoje me recordo de cada peito de cada mamilo de cada nádega que beijei, deles agora tenho as lágrimas... morre-me o desejo, lenta imperceptivelmente... cada ano que passa, decai do seu trono de rei soberano da vida...
Nada é definitivo nem mesmo o futuro, pensamo-lo, antevíamo-lo e ele atraiçoa-nos, ou oferece-nos o que não esperávamos. Aconteceu a um amigo. Nas noites de copos desencantou uma beleza de mulher com uma cintura de vespa e umas ancas de Deusa e vai dai por artes de mágica conhece-la, beija-a assim como quem não quer e quase sem saber como descobre onde vive e com quem, com uma outra amiga. Voltou tarde nessa noite para casa. Subiu as escadas que dão acesso à casa onde vive, que é a dos pais, e já no quarto deixou-se cair de costas na cama. Em quem pensava ele? Nela. Imaginava-a nos seus braços e para assim a ter planeara oferecer-lhe um ramo de flores…- Serão rosas! Amanhã compro-as na florista! - enquanto assim pensava, o sono e a sensação de felicidade anulavam-se mutuamente - e mal o sono o adormecia deixava de sentir-se a flutuar. A felicidade que o abandonara meses e anos dormia agora com ele. Dormia que nem um anjo para horas depois acordar como adormecera, apaixonado. Correu para o banheiro com as pestanas coladas de remela, e enquanto durou o duche cantou Paulo Gonzo - Sei de cor cada traço do teu rosto, cada sombra da tua voz e cada silencio, cada gesto que tu faças, meu amor sei-te de cor…
Já ia ele na rua quando o encontrei, contou-me o que lhe acontecera. Uma das suas mãos agarrava um arranjo de rosas…- Onde vais com essas rosas?- Vou oferecê-las…
 ele próprio confessou-me sentir curiosidade (talvez admiração) por este vosso alexnietzsche por nos meus momentos de euforia ouvira dizer-lhe - Serei o Dostoivesky português… um dia ouvi-o declamar uns versos muito belos... era leitor de Beckett e elogiava o À Espera de Godot... ouvia música Clássica e lia Literatura… depois quando ingressado nos quadros dos inspectores de P.J. começou a frequentar o ginásio de musculação... trocou os poemas declamados às donzelas por uma Tshirt justa ... mas avancemos... ao tempo a que reporta esta história era ela ainda magro... e como semanas depois me contou: com um ramo de rosas na mão tocou à campainha... quem lhe abriu a porta foi a amiga... - façamos aqui um parêntesis – a amiga não era nada de especial – devia a sua beleza à juventude e um longo cabelo preto até ao meio das costas - poderia dizer-se que era bonita como a maioria das jovens elegantes da sua idade - perdia muito em beleza para a amiga Deusa mas ganhava-lhe em simpatia – esta reconheceu-o e acolheu-o entusiasticamente, como se as rosas fossem para ela.– São para mim? - perguntou-lhe. Não eram, mas sem saber como e porquê, ele disse: - São! - mais tarde pensava «Haverei de comprar outras para a outra. Enganava-se. Não voltou a comprar outras flores… As flores passou-lhas para as mãos. Sorriram-lhe os olhos de felicidade, o destino acabara de oferecer-lhe umas rosas que não lhe estavam destinadas, e a ele uma namorada que prontamente aceitou não antes de se beijarem, não antes de haverem feito amor... sem perda de tempo ,nesse mesmo dia...
  a pressa justificava-a com a frase:  nada nos está assegurado, nem mesmo o futuro...