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sábado, 22 de outubro de 2011

Anne Frank, obrigado pelo teu legado.

... querida Anne Frank espanta-me que hajas conseguido escrever tão bem à idade que tinhas!, eu mesmo que persigo esse objectivo como a um ideal não teria escrito melhor! – Sei que não me podes escutar, mas eu falo para todos os que ouvem por ti! Que haveria pergunto, no teu eu que tanto desejava a imortalidade da tua obra? – tu sabes, eu sei, todos nós os teus leitores sabemos! O bem!

06/03/1944
“Leio no rosto de Peter que pensa tanto em mim como eu nele. Ontem à noite aborreci-me terrivelmente quando a Srª van Daan disse, toda trocista:
-Olhem o grande pensador!
O Peter corou, ficou encavacado, e a mim apeteceu-me saltar à cara da senhora.
Porque é que falam sem ser preciso? Não calculas como sofro por vê-lo assim tão só. Compreendo-o como se fosse eu própria a viver a sua vida, sinto-lhe o desespero quando discutem e se zangam junto dele, noto o vazio em que ele mergulha. Pobre Peter! Como tu necessitas de amor!
Disse-me que não precisava de amigos: ainda trago nos ouvidos a dureza dessas palavras. Como está enganado! (…)
Oh, Peter, se me deixasses ajudar-te! Os dois juntos vencíamos a nossa solidão.
(…) Ainda bem que os van Daans não têm uma filha! A minha conquista não seria tão difícil, tão bela e tão esplêndida se não fosse a atracção pelo sexo oposto.

7/03/1944
(…) Se o Peter diz que tenho «charme» talvez não tenha bem razão. Os professores gostavam era das minhas respostas vivas, das minhas observações cómicas, da minha cara sempre a sorrir… (…) Nunca impedia que alguém, fosse quem fosse, copiasse os meus exercícios. (…) E eu nunca tinha mau génio ou má disposição.”

Anne morreu em Março de 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen, dois meses antes da libertação da Holanda do jugo do Estado Nazi.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

- apresento-me!

O mundo é cheio de belezas, das que existem nos livros, e num sentido mais profundo, cheio das belezas que se encontram nas palavras!... gosto de as escutar em silêncio quando as leio - são quase reais - como se estivesse a ouvi-las no ar - e ao mesmo tempo dentro de mim! . e gosto de ouvi-las vibrar quando oiço alguém que sabe verdadeiramente falar... Uma palavra pode ser encantadora e se a ela se juntam outras, numa combinação magistral, orquestrada pela inspiração podem fazer-nos experimentar um êxtase profundo!... relembro as de Martin Luther King no célebre discurso:
I have a dream
that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood.
I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.
I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

à esterilização eu digo um não peremptório

... o Sol quando nasce é para todos!, e o pobre por mais que possamos pensá-lo distante - nas antípodas da nossa vida abastada - está próximo - e não falo do pedinte que do lado de lá, ao frio e ao sol, nos pede a esmola que lhe negamos dar, do lado de cá, no interior climatizado do carro enquanto aguardamos o sinal verde - não, não falo desses pobres - em relação a esses não temos como sentir-lhes as dores - falo-vos do seu parente mais distante, do estranho mais próximo, falo-vos de nós!, porque bem vistas as coisas o que é nos difere do pobre para o considerarmos um não igual?, não possui ele mãos e pernas iguais? não fará amor da mesma maneira? permitam-me até questioná-los - o 69 do pobre não é igual ao do rico? - É!
Todavia negligente e despreocupadamente por não sentirmos as dores dos pobre descartamo-los esquecendo, ao invés, sentirmos profundamente as nossas. Assim, como posso não estar certo de querer evitar o mal aos outros?! - Quando luto contra aqueles que querem fazer aos outros o mal que não querem que lhes façam a eles estou a proteger-me que amanha mo queiram fazer a mim! E vós se assim o não fizerdes, estais a abrir precedentes e caminhos para destruírem o que em vós há de mais belo, o dom da vida!
Jamais esterilizaria a vida dos pobres por mais mal que a pobreza causasse ao mundo - esterilizaria sim a falta de estilo - a idiotice de pensar que somos superiores aos outros - dignos de poder dispor das suas vidas como se deuses omnipotentes fossemos! E se querem que vos choque mais, por tanto me ter chocado estas ideias estéreis, inclusive partilhadas pela ideologia Nazi- a ser obrigado a dar o meu assentimento à esterilização de algum pobre, diria - preferiria vê-lo a comer uma mulher rica! no Tube8 ou no Xvideos!

sábado, 8 de outubro de 2011

um pedaço gostosíssimo do Capitulo XXV - parágrafos antes da carta de Dom Quixote a Dulcineia

... para uma viúva, mais importante que ser linda, jovem, descomprometida e rica é já não estar triste com a sorte, o destino, o malfadado fado, numa palavra é estar desenfadada...
Ass. Alexnietzsche

"— Certa viúva formosa, moça, livre e rica, e ainda por cima desenfadada, se enamorou de um rapaz tosquiado, roliço e de boa presença. O irmão mais velho dela, descobrindo aquela inclinação, disse-lhe um dia a modo de advertência fraternal:
“Maravilhado estou, senhora, e com bastante razão, de que mulher tão principal, tão formosa e tão abastada como Vossa Mercê, se haja enamorado de um homem tão soez, tão baixo e tão idiota, como é Fulano, sendo esta casa frequentada por tantos padres-mestres, apresentados e teólogos, por onde Vossa Mercê poderia fazer melhor escolha, como em bandeja de peras, e dizer: Este serve-me; aquele não presta.”
Ao que ela respondeu com grande chiste e despejo:
“Vossa Mercê, senhor meu, está muito enganado e pensa muito à antiga, se cuida que elegi mal em Fulano, por lhe parecer idiota, porque para o que eu o quero tanta filosofia sabe como Aristóteles, e até mais.”
in Dom Quixote

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Uma pessoa? Não! Sou um objecto!

… tomar biberão até à idade de 9 anos condiciona; chega-se à idade adulta e sente-se o desconforto de não ter o biberão por perto!, ainda mais quando longe o biberão demora de escrever cartinhas - então por causa da falta, desse sentido desconforto – do “abandono” do biberão – o que é que se aconselha? – contemporizar, imaginar como estará a ser a vida de um biberão solitário – diante de um monitor – teclando com pessoas que lhe são estranhas – porém que o ajudam a passar as horas acordado, apesar de coberto por uma cortina de sono – com os olhos a fecharem-se, doridos pela luz branca – adormecendo e acordando - entre partidas de xadrez de 3 minutos que perde – desculpando-se dos seus atrasos em responder com puras invenções – e isto tudo à espera da boca on-line!, - porque tu sabes que todos os biberões foram feitos para uma boca! – ora as horas passam e a boca não chega!, poderia pensar o biberão? será que a boca anda a mamar noutro biberão!, mas não!, desliga o computador e deixa-se cair na cama já sem forças sequer para ligar o telelé ao carregador – falta grave!, o telelé não o poderá acordar de manhã!, acorda por si mesmo já perto das 10 quando é às 9 a entrada no trabalho! – chega ao trabalho e diz que o carro estava sem “bateria” – os olhares inquisidores dos colegas silenciam-no - senta-se à secretária e encolhe-se para que o esqueçam depressa e o atraso - depois liga o computador e lê no e-mail as palavras como se as ouvisse dizer da boca! – Criticas e mais criticas que raiam por pouco a fronteira para o insulto… o biberão sempre quentinho, esfria, resvala, cai e quase se estilhaça no chão!... desequilibrando-se da cadeira!
… a boca que dantes exigia leite agora exige cartas ao biberão!, e quando as não recebe lembra-o que o biberão é escritor! e como tal mais razão tem para as requerer e receber! esquece a boca que o biberão mais que escrever cartas gosta de fazer arte! e a arte não se faz à uma da manhã a morrer de sono! a essa hora e nesses condições simples frases escritas a estranhos não exigem tanto!... além de que arte para nascer tem caprichos, como um ser vivo, precisa quase sempre de um período de gestação, de condições boas ao longo da gravidez, até imagine-se da benigna influência lunar, - além de que o biberão tem que ter dentro de si algum leite, se ele se houver esgotado – pode até nem conseguir pensar em estar de pé! para nada!...
acresce que o biberão solitário tem a sua vida particular, uma casa para cuidar, e mil e um afazeres relacionados com preservação dos seus bens pessoais, já sem falar nos direitos e deveres relativos aos familiares e amigos! – pobre biberão que nem tempo lhe sobra para ler!, - compreende o biberão a insegurança sentida pela sua boca pelo receio de haver em volta do biberão outras bocas!, claro que as há, mas com muita pena do biberão cheio de leite, só para lhe falar.
… mas em vão, um biberão não tem ouvidos e é muito altivo!
Quer a boca saber se o biberão leva outras bocas ao planetário ver as estrelas, enfim que dizer? bocas indiscretas perguntas directas!... ora ora biberão que é biberão tem mil anos de perdão!