… ao oitavo ano da presente década havia um homem que só tinha uma hora para almoçar. Ao meio dia desceria as escadas sem pressa e chegado à rua pensaria a qual restaurante ir, se não se houvesse dado em sua vida uma alteração comportamental: Em vez de almoçar corria para a estação de Metro mais próxima, para sair na seguinte. Atravessava depois a rua e estacava perto da porta principal do edifício do Banco, de onde àquela hora haveria de ver dezenas de pessoas sair. De todas, uma havia que o fazia estar ali… A ideia era falar-lhe, porém mal a viu sentiu-se incapaz da interpelar.
Quando o vi ali parado olhando as pessoas a sair do edifício, pensei que esperasse alguém; pareceu-me um tanto magro e era visível a mesma agitação interior dos tempos da escola...
-Que fazes por aqui amigo?
- Eu? (Surpreso...)
-Sim tu!, Que fazes por aqui?
-Aproveito a minha hora de almoço para ver quem gosto…
-E sobra-te tempo para almoçar?
-10 minutos.
-Isso é amor? Ou Loucura?
-Antes fosse loucura!
-Quem é ela?
- Se eu soubesse…
- Um dia declaras-te.
- Como amigo? Como?
- Subtilmente!
- Eu queria ser o mais explicito possível…
- Não! Fá-lo subtilmente! Sem tu próprio dares por isso…
(...)
...Ora as probabilidades de se declarar sem que ele próprio se apercebesse eram escassas! mas não impossíveis. Sabia que teria apenas de aparecer no Banco e consultar o saldo da sua conta bancária, e quiçá o futuro não lhe reservasse dizer subtilmente o que não sabia como...
E do mesmo modo que as pessoas sonham a dormir com as pessoas que há muito desejam acordados, involuntariamente, inspirado pelo contacto de vê-la e de ouvi-la, lhe saiu súbito quer das mãos quer dos lábios os actos e as palavras a declaração sublimar - subentendida - que estava a bem dizer em nota de rodapé em letrinha minúscula, mas ainda assim legível.
Uma dessas vezes, sentado, diante dela, em consequência do como a via manusear o mouse, agarrou-lho, virou-o de modo a abri-lo e limpou-o da sujidade acumulada nas rodas com esmerado cuidado. Lembrou-me o relojoeiro da vila onde cresci, que aproveitava a profissão para tocar no pulso das senhoras. Ao vê-lo limpar o mouse, ela ficou perplexa. Era a primeira vez que alguém tivera esse cuidado. Sem saber o que dizer, levantou-se da cadeira e desapareceu dali. Veio 2 minutos depois com duas folhas de papel de limpeza. Estendeu-las depois, agradecendo-lhe!
Uma outra vez, aconteceu no mesmo lugar e na mesma cadeira, de há um ano atrás, quando, lhe falou por acaso de um casaco que ela por há muito não vestir já quase esquecera…
Ele: - Lembro-me que a via muitas vezes com um casaco cinzento claroo…
- (pausa) quando ela do casaco se lembrou. Ela: – ah sim tenho sim, já está guardado a algum tempo no armário. Sim dessa cor.
Ele: - pois eu não invento!
Uma outra vez, ao passar em frente do seu Guiché para se sentar no sofá da sala de espera olhou para o local onde habitualmente ela trabalhava mas não a vira lá. Pensou "Será que hoje não veio? Não, ausentou-se por momentos..." então enquanto lia um artigo de uma revista que por ali estava, ouviu sobre os diversos sons que provinham de todo o lado uma voz que lhe soou familiar. Era a voz dela, imaterial. Ao reconhecer-lhe a voz logo soube em si a qualidade da reconhecer.
Nesse tempo ele amava-a pelo pouco que via e reconhecia nela. Das suas mãos e dedos que não tinham nem anéis nem aliança, a independência! Do modo atencioso como o tratava como cliente, a simpatia! Do seu modo de andar, a graça a feminilidade.
Mas nem sempre vê-la lhe trouxe a felicidade sonhada! Aconteceu uma vez num desses períodos de almoço adiados, a visão de algo que se pudesse teria evitado testemunhar!, à hora do almoço passou pelo Campo Pequeno e viu-a acompanhada por um homem de fato. Seria um amigo? seria se não fosse ter testemunhado enquanto subiam na passadeira rolante de acesso à entrada do Centro Comercial um beijo demorado!... o que profundamente, a pontos de se dar na sua vida uma nova alteração comportamental. Durante o tempo que se saberá agora, que foi de meio ano, não procurou voltar a vê-la.
Quando o vi ali parado olhando as pessoas a sair do edifício, pensei que esperasse alguém; pareceu-me um tanto magro e era visível a mesma agitação interior dos tempos da escola...
-Que fazes por aqui amigo?
- Eu? (Surpreso...)
-Sim tu!, Que fazes por aqui?
-Aproveito a minha hora de almoço para ver quem gosto…
-E sobra-te tempo para almoçar?
-10 minutos.
-Isso é amor? Ou Loucura?
-Antes fosse loucura!
-Quem é ela?
- Se eu soubesse…
- Um dia declaras-te.
- Como amigo? Como?
- Subtilmente!
- Eu queria ser o mais explicito possível…
- Não! Fá-lo subtilmente! Sem tu próprio dares por isso…
(...)
...Ora as probabilidades de se declarar sem que ele próprio se apercebesse eram escassas! mas não impossíveis. Sabia que teria apenas de aparecer no Banco e consultar o saldo da sua conta bancária, e quiçá o futuro não lhe reservasse dizer subtilmente o que não sabia como...
E do mesmo modo que as pessoas sonham a dormir com as pessoas que há muito desejam acordados, involuntariamente, inspirado pelo contacto de vê-la e de ouvi-la, lhe saiu súbito quer das mãos quer dos lábios os actos e as palavras a declaração sublimar - subentendida - que estava a bem dizer em nota de rodapé em letrinha minúscula, mas ainda assim legível.
Uma dessas vezes, sentado, diante dela, em consequência do como a via manusear o mouse, agarrou-lho, virou-o de modo a abri-lo e limpou-o da sujidade acumulada nas rodas com esmerado cuidado. Lembrou-me o relojoeiro da vila onde cresci, que aproveitava a profissão para tocar no pulso das senhoras. Ao vê-lo limpar o mouse, ela ficou perplexa. Era a primeira vez que alguém tivera esse cuidado. Sem saber o que dizer, levantou-se da cadeira e desapareceu dali. Veio 2 minutos depois com duas folhas de papel de limpeza. Estendeu-las depois, agradecendo-lhe!
Uma outra vez, aconteceu no mesmo lugar e na mesma cadeira, de há um ano atrás, quando, lhe falou por acaso de um casaco que ela por há muito não vestir já quase esquecera…
Ele: - Lembro-me que a via muitas vezes com um casaco cinzento claroo…
- (pausa) quando ela do casaco se lembrou. Ela: – ah sim tenho sim, já está guardado a algum tempo no armário. Sim dessa cor.
Ele: - pois eu não invento!
Uma outra vez, ao passar em frente do seu Guiché para se sentar no sofá da sala de espera olhou para o local onde habitualmente ela trabalhava mas não a vira lá. Pensou "Será que hoje não veio? Não, ausentou-se por momentos..." então enquanto lia um artigo de uma revista que por ali estava, ouviu sobre os diversos sons que provinham de todo o lado uma voz que lhe soou familiar. Era a voz dela, imaterial. Ao reconhecer-lhe a voz logo soube em si a qualidade da reconhecer.
Nesse tempo ele amava-a pelo pouco que via e reconhecia nela. Das suas mãos e dedos que não tinham nem anéis nem aliança, a independência! Do modo atencioso como o tratava como cliente, a simpatia! Do seu modo de andar, a graça a feminilidade.
Mas nem sempre vê-la lhe trouxe a felicidade sonhada! Aconteceu uma vez num desses períodos de almoço adiados, a visão de algo que se pudesse teria evitado testemunhar!, à hora do almoço passou pelo Campo Pequeno e viu-a acompanhada por um homem de fato. Seria um amigo? seria se não fosse ter testemunhado enquanto subiam na passadeira rolante de acesso à entrada do Centro Comercial um beijo demorado!... o que profundamente, a pontos de se dar na sua vida uma nova alteração comportamental. Durante o tempo que se saberá agora, que foi de meio ano, não procurou voltar a vê-la.
“Maldito o coração que assim me faz gemer...”
ResponderEliminarDiz o soneto CXXXIII, diria também o homem com tão devotado amor ao qual o texto se refere.
Que culpa ele tem de amá-la? Que culpa ela tem de não o amar?
A odisséia do amor...tantos caminhos! E quantos atalhos... Errados! Nada é em vão... nada... Por que o amor não é sempre correspondido? Por que amamos uma certa pessoa e não outra? Por que as palavras e a coragem nos faltam quando mais precisamos delas? Não saberia dizer, mas todo esse sofrimento deve ter alguma valia... e tem mesmo, valorizamos mais frequentemente o que nos exige mais. É inerente e involuntário... simplesmente é assim!
Ah! A loucura! Sim o amor é uma delas, mas não seria a sua ausência um mal ainda maior? O ideal nem sempre é alcançado, mas tirando o coração da história... o que importa não ser correspondido? Muito importa! Por tudo que não será vivido, pelas brigas não realizadas, pelas calorosas reconciliações jamais concretizadas, pelas alegrias diárias inesperadas... tanto e tanto... e entreTANTO... o que se há de fazer? Pouco, muito pouco... grave não é não ser correspondido, grave é internalizar isso como mágoa... ego ferido que em nada se assemelha ao amor... perigoso mesmo é não amar! Não querer estar em pleno êxtase, magnetizado por um ser tão frágil e absurdamente parecido consigo e ainda assim, conseguir ver a divindade que habita as pessoas. Só vemos bem, quando olhamos com amor, o amor não cega, ele revela e não revela o outro, mas a nós mesmos. Sabemos quem realmente somos quando enfim amamos...
A personagem principal simplesmente ama, religiosamente contempla e puramente venera. É uma dádiva isso ainda existir! Tudo é tão descartável... e ele rema contra a maré, aproxima-se, mas o mar é impiedoso e o devolve a margem... uma onda beija-lhe o corpo, mas não são os lábios almejados, nem era o beijo tão sonhado. Outro... há outro... sempre parece haver outro... e a vida, às vezes, torna-se escura... mas é apenas mais uma onda, ela vai recuar e mais uma vez, vai voltar. As ondas não cessam, nós é que precisamos urgentemente aprender a atravessá-las.
O que importa as horas de almoço perdidas? O tempo gasto na contemplação, veneração e devaneios? Ah! E o quanto foi ganho?! Dias mais felizes, idealizações de uma vida mais doce, serena e em paz! A dor não é de fato pelo que perdemos, mas pelo deixamos de ganhar... porque sempre, sempre queremos mais!!!
Ver alguém se apoderar do que poderia ser nosso é terrível, mas jamais ter desejado possuir algo que nos permitisse essa dor talvez fosse ainda pior.
Impressões de um Girassol
Leria um livro inteiro sem deixá-lo a partir deste texto perfeito!
ResponderEliminarEnvolvente!
Abraço Alex!