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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

silêncio total - o forcado fala (1ª Parte)

… um dos objectivos estava alcançado, há mais de um mês que confessara a um dos amantes a existência do outro. Faltava agora informar o “desconfiado”, e contar ao agora soubera que ainda não dissera a verdade ao outro; não seria fácil mas ainda considerava útil contar-lhe …
- sabes tenho uma coisa para te falar… sobre a minha relação…
- Qual?... Tu tens duas…
- A relação com ele. Sabes, é uma relação aberta de uma omissão, ainda não lhe disse que andamos…
- ???? ah não?!, e quando é que lhe vais dizer…?
- ???
- Sim, quando?
- porque és assim mau? Porque me pressionas? Careço de meios materiais… Se soubesses o quanto sofro… pensas que é fácil, pensas?…

… faltava pois, para se sentir mais segura, e não perder os mimos dos amantes por um mal entendido, dizer ao João - em abono da verdade o João chegara primeiro à sua vida e tinha por isso ganho o estatuto do primeiríssimo!
… enquanto assim pensava tocou no telemóvel polifónico a fuga de Bach…
- Não atendes a chamada?
- É ele, o João! Por favor, cala-te agora ! Vou atender…
- Esta? Está? sim sou eu, quem querias que fosse?
- Não te estava a ouvir…
- Nem eu. É da ligação, está péssima… Porque ligaste?
- Para saber se estás bem?
- Estou bem, estou muito bem. (rindo-se para o outro)
- Pois ainda bem!,
- Olha podes ligar mais tarde, estou-te a ouvir mal…
- Está bem! Vem cedo para casa, olha que hoje é o dia da Tourada no Campo Pequeno!
Já adquiri os bilhetes…

O João fora-lhe apresentado dois anos atrás por uma das suas melhores amigas. depois da conhecer não parara mais de lhe enviar smss, tentara até por mais que uma vez roubar-lhe um beijo!, dizia dele - é persistente! o maior chato que conheci! e ainda por cima é forcado!...
- e que mal tem em ser forcado? Ora, se ele gosta de ti…
- Não. Ele diz que gosta mas o que ele quer é ter um caso…
-e tu não queres?
- Eu a ter um caso prefiro uma casa.
- pois filha homens a viver sozinhos com casa desocupadas são muito raros… Ainda vive com os pais?
- Já não vive. Ele tem casa. Mas só a tem para ter casos… canso-me de lhe dizer que me esqueça!,… mas ele insiste!
- como é que ele arranjou o teu número?
- Fui eu que lho dei, maldita a hora…

(...) / ( em elaboração - nota do autor)
Nesse dia em vez de se ligarem por telemovel combinaram encontrar-se, e quando o forcado lhes apareceu à frente, a que o conhecia apresentou-o à amiga!
- É ele? É o João?
- É!

Sentados à mesa, o forcado, a heroína desta história e a amiga, conversavam sobre não sei o quê… onde estavam, do outro lado da esplanada tendo como fundo o palácio Galveias e alguns pavões, não dava para os escutar, mas li-lhes os pensamentos:
Os da heroína: ele não tira é os olhos de cima de mim!
Os do forcado: vai me calhar em sorte!, (ria-se).
Os da amiga: Os homens são todos iguais! Não pára de olhar para ela…
… 4 meses depois… aconteceu! Aqueles que haviam sido apresentados, apareceram-lhe à frente de mão dada.
- Foste tu que nos apresentaste… Lembras-te?
- Lembro-me…
- Estamos muito felizes! (fim da 1ª Parte)

1 comentário:

  1. Caro Sr. Difamador,

    Há uma espécie de descrição psicológica, não segue uma linearidade (cronológica, mais comum) e as idéias se desorganizam na minha mente, mas aí está a metalingüística do texto! Quem sabe, você nem a tenha imaginado assim, mas a ordem fora do esperado é reflexo contextualizador do próprio enredo.

    Leia fora do esperado como surpresa por ser a mulher a protagonista e por ser ela quem tem duas relações aparentemente abertas.

    Há uma frase peculiar nesse texto:

    “...Porque me pressionas? Careço de meios materiais…” Não é bem feminina essa frase, mas existe de tudo nesse mundo, no entanto insisto não é bem feminina. Veja bem, a mulher numa situação semelhante geralmente apelaria para o tribunal das lágrimas e se faria de vítima da situação... poderia até começar como propõe o diálogo, mas exageraria... por que não o fez? Talvez para não parecer exatamente exagerado e passar um ar de desconfiança... e por que? Porque pecamos no excesso quando de fato tentamos demonstrar o que não sentimos. Sim... estou dizendo que ela não está sendo sincera! E ela é perfeita! Ela tem os seus interesses... e não são nobres, mas são seus.

    Sigamos lendo a sua mente:

    “...Eu a ter um caso prefiro uma casa...”

    Incrivelmente atrevida! Engana-se com ela quem quiser! Isso é tentador, dissecar esse coração... será que diz a verdade? Será que blefa? Faz parte do seu jogo de sedução? Quem precisa saber das respostas, quando ela é capaz de provocar tais perguntas? De fato ela gosta de quem ou do quê? Do primeiro? Do segundo? Dela ou do conforto? Quem sabe do próprio jogo e da vaidade de se sentir tão desejada!

    Ela joga alto... confunde o parceiro de cena e me confunde. Isso não é delicioso? Acredito que ela goste do outro, pois teme lhe dizer sobre o outro caso... e por que temeria se é uma relação aberta? Quem sabe, só queira dizer quando estiver com a escritura da casa... Algo me diz que o outro (o da cena)é um passatempo, um diário de alcova... ela se abre para ele... não há o mistério que envolve comumente os amantes. Não vejo, nesse caso, como cumplicidade, pois ela não o escuta, mas tenta manipular... veja as palavras que seguem:

    “Ele tem casa. Mas só a tem para ter casos… canso-me de lhe dizer que me esqueça! ... mas ele insiste!”

    Há uma revelação, ele tem a tal casa... que com sorte poderia ser tão dela... Mas uma triste constatação, é um local para ter casos, talvez como o que ele mantém com ela. Não é uma relação aberta, é uma relação insatisfeita! Ela diz que pede que ele a esqueça... será? Se realmente quisesse acabar com isso bastaria dizer-lhe do outro parceiro... pelo visto ele não gostaria de saber (já que não revelou ainda o fato). Ela é vaidosa... ambiciosa... quer ser perdidamente amada, para sentir segurança e exigir tudo que puder de um relacionamento. Ela deve saber o que um homem apaixonado é capaz de fazer para satisfazer a mulher amada... mas ela parece esquecer que ele é um toureiro... ele é o seu desafio.

    Note que de repente, ela lembra da presença do parceiro “diário de alcova” e diz “...mas ele insiste!” numa frase quase adolescente, explicando que ele é quem a corteja, mesmo o desdenhando... como se ela fosse amais inesquecível das espécies... não parece ser bem assim...

    E o que será que o toureiro sente por ela? Como será a sua reção ao saber que ela é tocada e convive com outro homem? Vai importar-se? Vai aceitar bem e estipular um calendário semanal para não haver choques de horários? Só a mente do nobre escritor poderá revelar.

    Inusitado... espero que a protagonista tenha uma profundidade existencial complexa, exagerada, dissimulada e forte na sua fragilidade sedenta por amor como toda mulher de verdade.

    P.S.:Sempre há redenção quando há amor... que pelo menos um deles viva essa verdade!

    Opiniões de um Girassol

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