A palavra vento traz-me à memória a ultima noite de Verão do ano de 1998. Fazia uma passeata perto da Bahnhof de Münster, quando, surgindo do nada, vi um indivíduo muito mal trajado vir ao meu encontro. Nessa altura eu já havia perdido os complexos de falar com os vagabundos e as prostitutas; aos primeiros, caso me pedissem algo, oferecia-lhes um pão embrulhado em palavras fraternas, às últimas falava-lhes sem vergonha alguma de ser visto na sua companhia; era ele um sem-abrigo que outrora viajara por toda a Europa. O que ele me pedira eu não tinha, mas o que eu pensava que não tinha para ele, tinha-o de facto, tempo, afecto até. Ouvia-o e falava-lhe, quando, bem perto, passou, por nós, um homem muito bem vestido - era um Sr. de negócios com a sua malinha na mão. Aproveitando a proximidade, ele pediu-lhe uma esmola, mas em em má hora o fez - O Sr. executivo nem sequer se dignou olhá-lo; foi horrível!
Apercebi-me depois, com o decorrer da conversa, o vagabundo ser pessoa sensível e inteligente; lembro-me vestiamos Tshirts de manga curta quando súbito soprou uma rajada de vento frio que me gelou os braços - senti pela expressão do vagabundo uma alteração de humor no seu estado de espírito - ficou mais apreensivo! e apercebendo-se ele que eu notara tal, explicou-se:
Há anos atrás - contou-me - num dia de Outubro, diante das águas calmas do lago senti uma rajada de vento destas levar-me a alma!...
ah pensei, «a rajada de vento frio anunciou-lhe o término definitivo do Verão.»
Há anos atrás - contou-me - num dia de Outubro, diante das águas calmas do lago senti uma rajada de vento destas levar-me a alma!...
ah pensei, «a rajada de vento frio anunciou-lhe o término definitivo do Verão.»
(...)Senti fome e voltei a casa, entrei pelas traseiras. Na cave da casa de Frau Baak havia por cima das prateleiras de muitos armários, víveres, frascos de compotas, latas de conserva, muitas das quais com mais de 20 anos, cujos prazos de validade haviam há muito expirado. Sim, já me haviam dito que Frau Baak, a septuagenária, enchera a cave de víveres com medo da fome, mas ouvir tal não me causara grande impressão; foi preciso ver, tocar naqueles frascos frios cobertos de pó...
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