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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

leio e releio António José Saraiva, INQUISIÇÃO e CRISTÃOS NOVOS

"(...)Em 1979, António José Saraiva rompeu com o regime saído do 25 de Abril. Defendia que como não se fizera a liquidação do anterior regime e o apuramento de responsabilidades, nos crimes da PIDE, nos crimes da guerra colonial, nas suspeitas de corrupção, que o regime do 25 de Abril era uma continuação, sob outras vestes, do salazarismo e marcelismo.      
Escreveu num artigo demolidor, intitulado O 25 de Abril e a História: "Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regímen, como não se fez a descolonização. Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regímen monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente.
Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: "a longa noite fascista". Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar.
O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram "saneamentos" oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão, pelo Governo e pêlos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco." Um texto actualíssimo, como se vê.(...)"
by Paulo Gaião, In Expresso, 27 de Julho de 2012

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