- permite... ?
- sim claro - assentiu o velhote nonagenário sentado no banco do jardim.
sentado no banco de jardim eu já não via oliveiras às dezenas, nem uma para lembrança; absolutamente todas sem excepção haviam sido arrancadas à terra por ordem de um plano superior de Urbanização; o terreno dador de negras e reluzentes azeitonas, dá agora relva, flores e árvores altas com os troncos inclinados pelo vento, tudo isso e mais, para todos verem, além claro de bancos de jardim.
Sentei-me num, ao lado desse respeitável Sr.
...então o que aconteceu e nunca houvera acontecido, foi uma conversa na qual acabei colhendo matéria/substância de aproveitar para escrever o que ainda nunca houvera escrito...
Mas antes de lembrar o que ele contou, quero falar-vos dum erro ortográfico...
ouvia-se dizer... que no dia da inauguração do Jardim houve um momento caricato que envergonhou os representantes da câmara Municipal por a placa inaugurativa, de mármore branco, ter sido gravada com um erro ortográfico subtil. Tão subtil que passou por todas as leituras, imagine-se, durante meses, até ao festivo dia, sem ser revelado, nem pelo jardineiro, nem pelo filho, também jardineiro; cujos os olhos bem próximos da placa chegaram, quando lhe tomaram o peso e a fizeram descer da carrinha da Câmara, e depois mais próximos ainda ao aparafusarem-na ao suporte; o erro ortográfico, só foi apanhado/descoberto pelo olhar atento, mas míope, dum puto do 1º Ciclo, a avaliar pelas lentes dos seus óculos muito graduadas, de fundo de garrafa...
depois de descoberto o erro, ou melhor a correcção do erro, obrigou a mandar gravar-se uma nova placa de mármore, mas, diga-se, em má hora, pois presentemente com o novo acordo ortográfico a palavra estaria bem escrita...
voltando ao banco de jardim...
era o dia do 25 de Abril de há poucos anos atrás e em vez de ter apanhado o comboio até Lisboa para ir aturar a rabugice dos colegas, sentei-me ao lado do velhote a desfrutar a tarde soalheira do feriado. Conhecia-o ainda ele era de espinha dorsal e esqueleto direito, de dizer bom dia e boa tarde, e agora via-o de costas e pernas muito arqueadas... Iniciamos a conversa falando do Rui, o neto; um rapaz da minha idade, com quem sempre o via e agora raramente... explicou-me que ele tinha ido viver para Coimbra.
- falava com clareza, com boa dicção e ouvia igualmente bem, a pele com algumas rugas não denunciavam a avançada idade... por simpatia disse-lho
- Sabe está muito bem conservado, ninguém lhe dá os anos que tem.
- Sim, sim, ninguém me dá mas também ninguém me-os tira.
Depois voltamos ao assunto do dia que era o antes e o depois do 25 de Abril...
Sobre o depois do 25 de Abril pouco disse... mas sobre o antes falou assim:
- sim claro - assentiu o velhote nonagenário sentado no banco do jardim.
sentado no banco de jardim eu já não via oliveiras às dezenas, nem uma para lembrança; absolutamente todas sem excepção haviam sido arrancadas à terra por ordem de um plano superior de Urbanização; o terreno dador de negras e reluzentes azeitonas, dá agora relva, flores e árvores altas com os troncos inclinados pelo vento, tudo isso e mais, para todos verem, além claro de bancos de jardim.
Sentei-me num, ao lado desse respeitável Sr.
...então o que aconteceu e nunca houvera acontecido, foi uma conversa na qual acabei colhendo matéria/substância de aproveitar para escrever o que ainda nunca houvera escrito...
Mas antes de lembrar o que ele contou, quero falar-vos dum erro ortográfico...
ouvia-se dizer... que no dia da inauguração do Jardim houve um momento caricato que envergonhou os representantes da câmara Municipal por a placa inaugurativa, de mármore branco, ter sido gravada com um erro ortográfico subtil. Tão subtil que passou por todas as leituras, imagine-se, durante meses, até ao festivo dia, sem ser revelado, nem pelo jardineiro, nem pelo filho, também jardineiro; cujos os olhos bem próximos da placa chegaram, quando lhe tomaram o peso e a fizeram descer da carrinha da Câmara, e depois mais próximos ainda ao aparafusarem-na ao suporte; o erro ortográfico, só foi apanhado/descoberto pelo olhar atento, mas míope, dum puto do 1º Ciclo, a avaliar pelas lentes dos seus óculos muito graduadas, de fundo de garrafa...
depois de descoberto o erro, ou melhor a correcção do erro, obrigou a mandar gravar-se uma nova placa de mármore, mas, diga-se, em má hora, pois presentemente com o novo acordo ortográfico a palavra estaria bem escrita...
voltando ao banco de jardim...
era o dia do 25 de Abril de há poucos anos atrás e em vez de ter apanhado o comboio até Lisboa para ir aturar a rabugice dos colegas, sentei-me ao lado do velhote a desfrutar a tarde soalheira do feriado. Conhecia-o ainda ele era de espinha dorsal e esqueleto direito, de dizer bom dia e boa tarde, e agora via-o de costas e pernas muito arqueadas... Iniciamos a conversa falando do Rui, o neto; um rapaz da minha idade, com quem sempre o via e agora raramente... explicou-me que ele tinha ido viver para Coimbra.
- falava com clareza, com boa dicção e ouvia igualmente bem, a pele com algumas rugas não denunciavam a avançada idade... por simpatia disse-lho
- Sabe está muito bem conservado, ninguém lhe dá os anos que tem.
- Sim, sim, ninguém me dá mas também ninguém me-os tira.
Depois voltamos ao assunto do dia que era o antes e o depois do 25 de Abril...
Sobre o depois do 25 de Abril pouco disse... mas sobre o antes falou assim:
- «nesses anos de ditadura, já nem me lembro se trabalhava como motorista ou nos Caminhos de Ferro, já tenho 90 anos, está a ver?! a memória já me falha - mas lembro-me bem - quer como motorista quer como operário da C.P., ambos os meus chefes pertenciam à P.I.D.E. ou melhor colaboravam com ela, que é a mesma coisa, não acha? Um deles, julgo que o da C.P. uma vez convidou-me a ir a Lisboa com ele para fazermos um trabalho, dizia que eu era de confiança, vamos e voltamos no mesmo dia - é só um biscate, um extra, para ganharmos uns cobres - olhe amigo não era servirmos como testemunha acusatória para denunciarmos alguém - havia grupos de informadores para isso - era muito pior - quer saber qual era o trabalho? - ir à torturas para realizá-las - cheguei a ver fotos deles a retirarem informações pela dor infligida aos presos políticos - não aceitei o convite -também não aceitei o convite para ser motorista de um dos chefes da P.I.D.E. - fiquei logo marcado - na lista negra - por essa razão reformei-me mais cedo - vi-os a destruírem muitas famílias - dizia para os meus botões - um dia serão castigados - pelo mal que fizeram...»
... depois falamos mais um pouco e acabei dizendo-lhe que infelizmente depois do 25 de Abril bem poucos foram os que deveriam ter sido castigados... por ter-me lembrado dum artigo entrevista que lera no Expresso ao António José Saraiva...
http://www.odifamadordacopula.blogspot.pt/2014/09/blog-post.html
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