conheci-o na noite
entre as conversas ocasionais entre estranhos…
um dia ouvi-o declamar os seus poemas originais e na minha ingenuidade enlouquecido pelos sonhos disse-lhe que haveria de ser o Dostoievski lusitano – bastou. Ele admirou-me a loucura – a altura da fasquia - tornámo-nos amigos...
recordo desse tempo que ouvíamos ambos música Clássica e duas jovens alunas altas e elegantes de cinturas estreitas - que lindas eram… A menos era de pela branca e cabelo preto e havia uma vez olhado para trás quando eu subia a rua e passara por ela… … eu não era certamente o único para quem ela se virava para trás… mas que interessava isso…
enquanto eu como muitos outros não sabíamos onde elas moravam, o meu amigo apaixonadíssimo pela mais bonita de corpo e rosto - uma ruiva aloirada - já subia de elevador direitinho a casa delas, um apartamento que partilhavam. As flores, um ramo de rosas, trazias ele na mão para oferecer à ruiva aloirada… bateu com os nós dos dedos na porta e esperou… quem veio abrir-lhe a porta foi a branca de neve, que, ao vê-lo, o ramo, achou que eram para ela. Ele ficou calado e esperava que a outra aparecesse para as poder oferecer; feliz ou infelizmente a outra não estava em casa. Sozinho, diante de uma mulher perdida de amores por um ramo de rosas que não lhe estavam predestinadas sentia-se perdido... e para não ver o desgosto que lhe causaria contando-lhe para quem as rosas se destinavam, para a não a ver cair desse sonho, deu-lhas… depois ao vê-la assim alegre sem oferecer qualquer resistência deixou-se conduzir pela vontade dela, que era, em poucas palavras, tê-lo. E foi o que aconteceu.
Disse-me dias depois, “Fui comido pela branca de neve apaixonadíssimo pela ruiva aloirada…” A partir desse dia tornou-se o namorado oficial da amiga da mulher por quem se sentia verdadeiramente apaixonado. A outra quando os via ou os ouvia a namoriscarem-se nem desconfiava ser ela a razão das rosas que via no jarro e de todos aqueles beijos…
Ela a ruiva aloirada perguntava-lhe:
- Como é que vocês se apaixonaram assim tanto um pelo o outro?
- Foi um caso de sorte… Foi num dia em que tu não estavas em casa…
O olhar dele quando olhava para a amiga da nova namorada parecia os dos pombos em voltas das pombas quando arrojam com o leque aberto das penas da cauda no chão, mas a loira não vislumbrava qualquer leque no olhar do poeta…
Eles, ele e a loira, viam-se todos os dias; ele tornara-se frequentador assíduo da casa. A razão como ele dizia não eram só as noites diárias com a namorada, - não era só o usufruto do seu corpo – era também o prazer de ver a amiga loira, de sonhar com ela…
O dilema existia: deveria dizer a verdade?
Nunca revelou a verdade, senão ao vosso amigo autor, porque dizia se arriscasse contar a verdade à branca de neve perdê-la-ia… ela amuaria!... A outra talvez nem acreditasse, iria possivelmente rir-se…- costumava dizer: Candeia que vai à frente ilumina duas vezes… Mais vale um pássaro na mão que dois a voar…
Anos depois disseram-me que se tinham deixado…
Deveras inusitada a frase:
ResponderEliminar"A outra quando os via ou os ouvia a namoriscarem-se nem desconfiava ser ela a razão das rosas que via no jarro e de todos aqueles beijos…"
Cômico, malicioso e triste esse fragmento. Fico me perguntando quantas vezes algo parecido não acontece pelo mundo afora todos os dias... infinitas talvez, mas o fato é q os sentimentos sucumbiram aos sentidos. Uma lástima... ou não... td é uma questão de ponto de vista...ahh, mas cofesso, esse poeta me decepicionou.. como logo o poeta cedeu ao q parecia mais fácil, menos metafórico??? A sua escolha foi tão óbvia q eu particularmente esperaria isso d um engenheiro, médico, economista, advogado, bancário e afins, mas não de um POETA.
[Poeta: ser sintetizador e explorador dos sentimentos e expressões humanas (ou não) q geralmente escapam ao olhar do senso comum.]
E q dissimulada essa Branca de Neve, hein??? O universo feminino é uma caixinha de surpresas e elas nem sempre são boas. Ao q me parece Branca de Neve possivelmente deveria nutrir algum tipo de competição secreta com a amiga e percebendo o interesse do poeta pela ruiva, tratou logo de desviar a sua atenção e intenção... algoz e vítima ao mesmo tempo, é assim q ela me aparece, logo ela q parecia ser a menos interessante nessa história... pois nem era a mais bonita e nem era a personagem principal, rouba a cena, as flores e o pretendente! E, mais uma vez, o naturalismo invade a cena da vida cotidiana e nessa história apenas as flores no jarro me parecem inocentes.