Um olhar azul claro e expressivo, de estatura pequena, quase franzina, cabelo loiro escasso, entrava na sala de aula, depois sentava-se em cima do tampo da mesa, cruzava as pernas e olhando os presentes fazia-nos entender querer o silêncio; e assim que este então se fazia ouvir interrompia-o - começara a dar a aula…
Na primeira aula se bem recordo, para se apresentar disse-nos que o seu maior defeito era a sua maior virtude - e vendo-nos com cara de querermos desvendado o mistério - revelou-o - Falo demais! De facto falava! Duas ou mais horas seguidas, que passavam depressa. Cedo em toda a Universidade o elegi como um dos meus professores preferidos – A sua eloquência, o seu vasto saber, o seu bom gosto eram admiráveis. E com o tempo somando momentos e visitas fui tornando-me próximo. Era uma pessoa pouco dada a demonstrações de afectividade, mas tinha um riso franco. Recordo-me de uma vez, subíamos um dos corredores da UTAD, ele dizer-me que eu lhe havia dado um dos melhores elogios que um professor pode receber, que assistir às suas aulas mais do que transmitir-nos o saber aumentava-nos a inteligência.
Por essa altura, eu contava uma anedota que havia lido num pequeno livro acerca de música, escrito pelo Maestro Vitorino de Almeida. Num fim de tarde contei-lha e tive pela primeira vez a satisfação de o ter feito rir. Em poucas palavras posso também contá-la a vós. Não sei se já viram pautas de música. Talvez já tivessem reparado existir nessas pautas palavras como, piano, pianíssimo, forte, fortíssimo! Pois é acerca delas, do significado delas, apesar de claro, poder ser erradamente interpretado a razão do riso desta anedota real. Aconteceu de facto algures numa sala com boas qualidades acústicas. Enquanto a orquestra ensaiava, o maestro que a dirigia interrompeu e exclamou: Forte! – Pediu depois que retomassem. Bateu com a batuta, os músicos encheram o peito e recomeçaram a tocar. Quando chegaram ao trecho onde tinham sido interrompidos, o Maestro voltou a interrompê-los e exclamou: Desculpem, parece que não entenderam, eu disse Forte! Fez-se silêncio. Os músicos olharam todos uns para os outros e tacitamente concordaram em mostrar ao Sr. Maestro o quanto o tinham entendido bem!, e todos se compenetraram. O maestro levantou a batuta e quando passaram pelo mesmo trecho os músicos tocaram com o máximo de força e fôlego. Todavia o maestro interrompeu de novo e de novo exclamou: Meus caros eu disse FORTE!, Desta vez um dos músicos indignado ousou responder ao maestro: Mas maestro nós já não conseguimos tocar mais Forte!, e responde-lhe o maestro: Eu pedi forte porque logo no início vocês tocaram fortíssimo.
O meu professor preferido rira-se desta anedota, e se bem recordo disse-me uma vez que já conhecia muitas pessoas e que não via grande razão em querer conhecer mais. Foi uma exclamação que batia de frente com os meus ideais. Sou daqueles seres, quiçá estranhos, que adora conhecer pessoas, por inúmeras razões… Mas porque me veio esta lembrança à memória? Por viver num mundo onde há tantas pessoas que fazem enorme questão em afastar da sua vida esta ou aquela determinada pessoa, e por ler um jornal esta entrevista com Helen Browns e (por nos saberem a atravessar o luto da morte de um filho) “As pessoas com coragem vêm-nos perguntar se podem fazer alguma coisa, mas nós não queremos que façam nada, só que estejam ao nosso lado, queremos pessoas na nossa vida”. Curioso é reconhecer que aquelas pessoas de quem outras tanto fazem questão de se afastarem são as mesmas sobre quem outras tanto gosto têm em tê-las próximas! Concluo assim que a qualidade das pessoas é mais relativa que absoluta, e que não basta amar ou odiar esta e não aquela pessoa, é preciso saber o porquê e em nome de que ideal ou fim se ama ou odeia…
Mas acerca disso quem se auto-interroga?
Na primeira aula se bem recordo, para se apresentar disse-nos que o seu maior defeito era a sua maior virtude - e vendo-nos com cara de querermos desvendado o mistério - revelou-o - Falo demais! De facto falava! Duas ou mais horas seguidas, que passavam depressa. Cedo em toda a Universidade o elegi como um dos meus professores preferidos – A sua eloquência, o seu vasto saber, o seu bom gosto eram admiráveis. E com o tempo somando momentos e visitas fui tornando-me próximo. Era uma pessoa pouco dada a demonstrações de afectividade, mas tinha um riso franco. Recordo-me de uma vez, subíamos um dos corredores da UTAD, ele dizer-me que eu lhe havia dado um dos melhores elogios que um professor pode receber, que assistir às suas aulas mais do que transmitir-nos o saber aumentava-nos a inteligência.
Por essa altura, eu contava uma anedota que havia lido num pequeno livro acerca de música, escrito pelo Maestro Vitorino de Almeida. Num fim de tarde contei-lha e tive pela primeira vez a satisfação de o ter feito rir. Em poucas palavras posso também contá-la a vós. Não sei se já viram pautas de música. Talvez já tivessem reparado existir nessas pautas palavras como, piano, pianíssimo, forte, fortíssimo! Pois é acerca delas, do significado delas, apesar de claro, poder ser erradamente interpretado a razão do riso desta anedota real. Aconteceu de facto algures numa sala com boas qualidades acústicas. Enquanto a orquestra ensaiava, o maestro que a dirigia interrompeu e exclamou: Forte! – Pediu depois que retomassem. Bateu com a batuta, os músicos encheram o peito e recomeçaram a tocar. Quando chegaram ao trecho onde tinham sido interrompidos, o Maestro voltou a interrompê-los e exclamou: Desculpem, parece que não entenderam, eu disse Forte! Fez-se silêncio. Os músicos olharam todos uns para os outros e tacitamente concordaram em mostrar ao Sr. Maestro o quanto o tinham entendido bem!, e todos se compenetraram. O maestro levantou a batuta e quando passaram pelo mesmo trecho os músicos tocaram com o máximo de força e fôlego. Todavia o maestro interrompeu de novo e de novo exclamou: Meus caros eu disse FORTE!, Desta vez um dos músicos indignado ousou responder ao maestro: Mas maestro nós já não conseguimos tocar mais Forte!, e responde-lhe o maestro: Eu pedi forte porque logo no início vocês tocaram fortíssimo.
O meu professor preferido rira-se desta anedota, e se bem recordo disse-me uma vez que já conhecia muitas pessoas e que não via grande razão em querer conhecer mais. Foi uma exclamação que batia de frente com os meus ideais. Sou daqueles seres, quiçá estranhos, que adora conhecer pessoas, por inúmeras razões… Mas porque me veio esta lembrança à memória? Por viver num mundo onde há tantas pessoas que fazem enorme questão em afastar da sua vida esta ou aquela determinada pessoa, e por ler um jornal esta entrevista com Helen Browns e (por nos saberem a atravessar o luto da morte de um filho) “As pessoas com coragem vêm-nos perguntar se podem fazer alguma coisa, mas nós não queremos que façam nada, só que estejam ao nosso lado, queremos pessoas na nossa vida”. Curioso é reconhecer que aquelas pessoas de quem outras tanto fazem questão de se afastarem são as mesmas sobre quem outras tanto gosto têm em tê-las próximas! Concluo assim que a qualidade das pessoas é mais relativa que absoluta, e que não basta amar ou odiar esta e não aquela pessoa, é preciso saber o porquê e em nome de que ideal ou fim se ama ou odeia…
Mas acerca disso quem se auto-interroga?
"...não basta amar ou odiar esta e não aquela pessoa, é preciso saber o porquê e em nome de que ideal ou fim se ama ou odeia..."
ResponderEliminarSeria o ideal descobrir isso, mas não somos exatos nem tão previsíveis quanto gostaríamos. Penso que na verdade, sequer queremos que nos entendam, realmente apenas importa que alguém esteja por perto, pelo menos, em sintonia, em pensamento, deixando a plena sensação que num mundo tão insensível há, de fato, alguém próximo sem julgamentos precipitados ou rispidez nas palavras... alguém cujo poder surreal, metafísico consegue, em poucas frases, aliviar as dores tão absurdas e inesperadas que a vida dá.
É preciso coragem para seguir, para continuar aberto ao mundo, à generosidade da vida, às pessoas, aos amores, enfim ao que realmente significa algo, mas isso é bastante particular... o sol renasce a cada dia, às vezes, queima, noutras apenas aquece ou não... pessoas são personificações do sol... lamento que algumas se recusem a brilhar. Eu sigo sendo um intenso girassol... olho sempre na direção mais iluminada.