o velho índio-negro dono da Pousada Paraíso, sentado na sua cadeira de plástico branco, bebia tranquilo a sua cerveja enquanto mirava os transeuntes a caminho da praia. Vavá volta e meia rodava a cabeça e inclinava-se para a frente para poder ver as bundas das mais vistosas bahianas passar pleo meio do trânsito e da azáfama
- Olhe ai Português. Vocês não têm disto lá em Portugal.
Eu não respondia; andava apaixonado e tão desesperado que já nem pensava em ver outra bunda que não a da minha amada.
- Você anda preocupado Português. Você devia ir à praia de... tem lá muita mulher pelada.
- Onde é essa praia?
- Já está interessado né português... Você tá de carro?
- Não.
- A pé é mais difícil explicar. Tem que apanhar o autopic ou o mototaxi quem vai para Ipitanga...
Não era muito longe, mas eu como andava triste tudo me parecia longe.
Deixava-me estar na companhia do Vavá, atento às suas palavras....
- Que se passa com Você Português!! Qual é o seu drama?
- Tenho a minha amada e o filho aqui no Brasil, faz este ano três anos que não os via. Vim para os levar. Mas ela ora diz que quer ir ora me diz que não vai. Já não sei o que fazer para a convencer.
- Você faz-me lembrar um paulista que há uns anos passou por aqui pela pousada. Via-o sempre cabisbaixo e pesaroso a beber cerveja, sem falar com ninguém. As noites passava-as ai sentado; tomava muito café; pouco tempo ficava no quarto. Andava muito triste. Parecia doença. Até que um dia que lhe perguntei o que é se passava com ele... Não falou dessa vez, mas passado que foi um dia, enquanto bebíamos um suco contou-me que quando a mulher se decidira a sair de casa para se separarem de vez, vendo-o ela a chorar agarrado ao filho de cinco anos – falou-lhe assim - Porque é você está chorando por um filho que não é seu?
O índio Vavá mal acabou de contar rebentou num riso alto... Eu também me ri, apesar de não gostar de me rir da desgraça alheia. Pensei que altura mais macabra para saber a verdade; então comparei a desgraça dele, porque é esta a sina do Homem, comparar tudo com tudo, com a minha e quase me esqueci que sofria.
O meu sorriso desaparecia depressa, sem dar por isso afundava-o em pensamentos de medo. Talvez por isso Vavá continuava me contando as suas histórias…
- Você anda triste. Mas olhe não mude a sua natureza por causa dela. Conhece o conto do Mestre do aprendiz e do Escorpião? Dizem que escorpião queria atravessar o riacho que ia cheio e caudaloso. Então o mestre perguntou ao aprendiz se ele queria ajudar o escorpião. Quer? Quero! Ajude então. O aprendiz agarrou com cuidado o escorpião mas este sentindo-se agarrado picou-o tão dolorosamente que teve que o largar. Por três vezes ele tentou e por três vezes foi picado. Então porque a dor desespera o aprendiz decidiu não querer ajudar mais o escorpião - porque não merecia. Então o Mestre disse-lhe: merece sim ser ajudado. Não o julgue, a sua natureza é picar, como a sua é de ajudar, espero. Faça-o subir para cima desta folha de bananeira, assim ele não lhe pica. Ajude-o Use a inteligência, não permita que a natureza dele o fira… Não mude a sua boa natureza por causa da dele.
- Olhe Vavá, a minha natureza sempre foi a de ajudar, desde pequeno. Sou ateu mas deve ter-me ficado das aulas da catequese e dos livros... O que é que ela por vezes deixa-me tão desesperado... quando me compara com o ex., quando fala do que vai perder por deixar o Brasil... diz-me coisas que me magoam tanto...
- Talvez seja a natureza dela, magoar! Acha que deve também magoá-la?
- Nunca a magoei, nunca lhe bati! Só que por vezes, com os nervos, elevo o tom de voz, grito-lhe!
- Português, a gente não grita para quem ama!
Fez-se um silêncio profundo. Deixei de ouvir a azáfama de tudo o que nos rodeava.
- Português quer um suco da maracujá?, Você precisa muito de tomar suco de maracujá, acalma muito os nervos. Não deve andar atrás dela. Faça como o pescador; quer pescá-la? Dê-lhe linha!!! Linha!!!! Se ela o escolheu, ela lá saberá porquê!!! Mostre-se mais seguro! Sem medo de a perder... vai ver que ela o procura... Com carinho a gente leva uma mulher aonde quer... até as levamos á lua!
- Levá-las à lua é o mais fácil!
e Vavá continuava falando... aproveitando a companhia de um ouvinte atento…
- olhe Português eu já vi uma coisa que Você nunca viu...
- conte lá Vává o que é que Você viu que eu ainda não...
- foi no dia em que eu acreditei na ciência. Eu era crente, só acreditava em Deus... a ciência eu não compreendia por isso, eu duvidava. Ainda hoje eu não entendo isso da ciência, mas acredito.
- A ciência é exacta!
- Pois foi por isso que eu acreditei... Quando eu era guri, há sessenta anos atrás já havia quem falasse da ciência, mas eram muito poucos; as pessoas começaram a passar umas às outras «Amanhã às 10 da manhã o dia vai virar noite», As pessoas riam, todas perguntavam como e poucas acreditavam... eu mesmo não acreditei... e porque é que tinha que ser às 10 horas? Porque é que tinha que ser às horas que a ciência dizia?? Você sabe??
- Era o destino...
- Mas eu vi no relógio! Aconteceu mesmo. Começou perto das 10 horas da manhã a escurecer, as galinhas subiram para o poleiro, começou a ver-se as estrelas, e às 10 horas certas fez-se uma escuridão que o povo temeu que fosse o fim do mundo... eu fiquei mudo... O dia tinha virado noite!
- Vává, foi um eclipse. Acontece quando a lua encobre a luz do sol...
- Foi o dia em que acreditei na ciência...
- Olhe ai Português. Vocês não têm disto lá em Portugal.
Eu não respondia; andava apaixonado e tão desesperado que já nem pensava em ver outra bunda que não a da minha amada.
- Você anda preocupado Português. Você devia ir à praia de... tem lá muita mulher pelada.
- Onde é essa praia?
- Já está interessado né português... Você tá de carro?
- Não.
- A pé é mais difícil explicar. Tem que apanhar o autopic ou o mototaxi quem vai para Ipitanga...
Não era muito longe, mas eu como andava triste tudo me parecia longe.
Deixava-me estar na companhia do Vavá, atento às suas palavras....
- Que se passa com Você Português!! Qual é o seu drama?
- Tenho a minha amada e o filho aqui no Brasil, faz este ano três anos que não os via. Vim para os levar. Mas ela ora diz que quer ir ora me diz que não vai. Já não sei o que fazer para a convencer.
- Você faz-me lembrar um paulista que há uns anos passou por aqui pela pousada. Via-o sempre cabisbaixo e pesaroso a beber cerveja, sem falar com ninguém. As noites passava-as ai sentado; tomava muito café; pouco tempo ficava no quarto. Andava muito triste. Parecia doença. Até que um dia que lhe perguntei o que é se passava com ele... Não falou dessa vez, mas passado que foi um dia, enquanto bebíamos um suco contou-me que quando a mulher se decidira a sair de casa para se separarem de vez, vendo-o ela a chorar agarrado ao filho de cinco anos – falou-lhe assim - Porque é você está chorando por um filho que não é seu?
O índio Vavá mal acabou de contar rebentou num riso alto... Eu também me ri, apesar de não gostar de me rir da desgraça alheia. Pensei que altura mais macabra para saber a verdade; então comparei a desgraça dele, porque é esta a sina do Homem, comparar tudo com tudo, com a minha e quase me esqueci que sofria.
O meu sorriso desaparecia depressa, sem dar por isso afundava-o em pensamentos de medo. Talvez por isso Vavá continuava me contando as suas histórias…
- Você anda triste. Mas olhe não mude a sua natureza por causa dela. Conhece o conto do Mestre do aprendiz e do Escorpião? Dizem que escorpião queria atravessar o riacho que ia cheio e caudaloso. Então o mestre perguntou ao aprendiz se ele queria ajudar o escorpião. Quer? Quero! Ajude então. O aprendiz agarrou com cuidado o escorpião mas este sentindo-se agarrado picou-o tão dolorosamente que teve que o largar. Por três vezes ele tentou e por três vezes foi picado. Então porque a dor desespera o aprendiz decidiu não querer ajudar mais o escorpião - porque não merecia. Então o Mestre disse-lhe: merece sim ser ajudado. Não o julgue, a sua natureza é picar, como a sua é de ajudar, espero. Faça-o subir para cima desta folha de bananeira, assim ele não lhe pica. Ajude-o Use a inteligência, não permita que a natureza dele o fira… Não mude a sua boa natureza por causa da dele.
- Olhe Vavá, a minha natureza sempre foi a de ajudar, desde pequeno. Sou ateu mas deve ter-me ficado das aulas da catequese e dos livros... O que é que ela por vezes deixa-me tão desesperado... quando me compara com o ex., quando fala do que vai perder por deixar o Brasil... diz-me coisas que me magoam tanto...
- Talvez seja a natureza dela, magoar! Acha que deve também magoá-la?
- Nunca a magoei, nunca lhe bati! Só que por vezes, com os nervos, elevo o tom de voz, grito-lhe!
- Português, a gente não grita para quem ama!
Fez-se um silêncio profundo. Deixei de ouvir a azáfama de tudo o que nos rodeava.
- Português quer um suco da maracujá?, Você precisa muito de tomar suco de maracujá, acalma muito os nervos. Não deve andar atrás dela. Faça como o pescador; quer pescá-la? Dê-lhe linha!!! Linha!!!! Se ela o escolheu, ela lá saberá porquê!!! Mostre-se mais seguro! Sem medo de a perder... vai ver que ela o procura... Com carinho a gente leva uma mulher aonde quer... até as levamos á lua!
- Levá-las à lua é o mais fácil!
e Vavá continuava falando... aproveitando a companhia de um ouvinte atento…
- olhe Português eu já vi uma coisa que Você nunca viu...
- conte lá Vává o que é que Você viu que eu ainda não...
- foi no dia em que eu acreditei na ciência. Eu era crente, só acreditava em Deus... a ciência eu não compreendia por isso, eu duvidava. Ainda hoje eu não entendo isso da ciência, mas acredito.
- A ciência é exacta!
- Pois foi por isso que eu acreditei... Quando eu era guri, há sessenta anos atrás já havia quem falasse da ciência, mas eram muito poucos; as pessoas começaram a passar umas às outras «Amanhã às 10 da manhã o dia vai virar noite», As pessoas riam, todas perguntavam como e poucas acreditavam... eu mesmo não acreditei... e porque é que tinha que ser às 10 horas? Porque é que tinha que ser às horas que a ciência dizia?? Você sabe??
- Era o destino...
- Mas eu vi no relógio! Aconteceu mesmo. Começou perto das 10 horas da manhã a escurecer, as galinhas subiram para o poleiro, começou a ver-se as estrelas, e às 10 horas certas fez-se uma escuridão que o povo temeu que fosse o fim do mundo... eu fiquei mudo... O dia tinha virado noite!
- Vává, foi um eclipse. Acontece quando a lua encobre a luz do sol...
- Foi o dia em que acreditei na ciência...
"(...) Ajude-o Use a inteligência, não permita que a natureza dele o fira… Não mude a sua boa natureza por causa da dele.(...)"
ResponderEliminarNinguém surge nas nossas vidas sem um propósito específico, às vezes, os nossos sentidos e necessidades tendem a idealizar situações q de fato (em alguns casos) não chegam a se materializar. Quero dizer q td é experiência e aprendizado, acredite, estou me tornando Phd em assuntos de refinamento espiritual por relevar comportamentos absurdamente contra a minha tolerância de educação... paciência, tolerência, amor... É fácil dizer q as pessoas e as situações não devem mudar a nossa natureza, e creio q isso é o correto e um sábio pensamento, entretanto... enquanto "carne" somos frágeis e geralmente precisamos ou queremos precisar d alguém... aí é q td desanda... geramos expectativas em qem temos apreço e como ninguém saber ler pensamentos (pelo menos não q eu o saiba) as frustrações vão surgindo. O importante é fortalecer na certeza de q realmente td é aprendizado e sermos maduros o suficiente para nos conhecer e não sentir medo ou pudor de mostrar quem de verdade somos.
Falo por mim, eu perdi o medo, na realidade, fico me perguntando se algum dia tive tanto medo assim de ser quem eu sou... não saberia viver simulando sentimentos... ora... o q eu sinto os meus olhos revelam, mesmo q o meu sorriso tente disfarçar... (não é assim com todo mundo?) Para q usar máscaras? Talvez a falta de malícia em simular certos sentimentos exponha muito, mas a vida é para valer, não há tempo para ensaios... louco é quem tenta controlar o mais natural q existe em si. Intensidade e verdade... sem anestesia ... assim deve ser a vida! Para q na velhice possamos lembrar d td q passou e um leve e juvenil sorriso brote, contradizendo as marcas deixadas pelo tempo na pele "Não sei dos outros, mas eu vivi com paixão!" Só não erra quem não se arrisca... Sendo assim tão consciente de quem somos e sabendo q o limite está na sutil linha imaginária dos sentimentos alheios (pensar em si sem fazer grandes estragos aos outros)... façamos sempre o melhor, como se só houvesse hj, pq um dia, realmente só vamos ter o hj... já lamentei mto por pensar assim, por não saber "jogar" o jogo medíocre da vida, mas hj apenas sigo em frente e penso q a prisão d ninguém pode me deter... Viver é bom e para saber se estamos vivos é preciso sentir td com plenitude, seja euforia ou dor... esse é o prazer d estar vivo... td é movimento e se ficarmos presos em nós, se mudarmos o nosso melhor q tão delicadamente foi esculpido pelas mãos da experiência por causa de pessoas com sintonia inferior... então... isso não seria bem viver... apenas sobreviver.
Deliberações de um Girassol sem Sol...