… Qual a combinação de factores na vida de uma mulher até à prostituição?
...os factores que levaram a V. a prostituir-se foram: primeiro: a relação afectiva com um homem violento! Ainda não tinham celebrado o primeiro mês de namoro e já ela o ouvia ameaça-la de morte, - a amiga cabeleireira sua confidente escutava-a - com ódio nos olhos diz que me mata caso eu termine a relação! – ontem puxou o cortinado da janela e enrolou-mo no pescoço com violência! - chorei a minha desgraça e depois disse-lhe o que ele queria ouvir, prometi-lhe que o não deixaria!...
durante um mês, todos os dias, jurava que nunca o iria deixar! não bastou, a violência continuava... duas a três vezes por semana ele possuía-a e cinco e seis vezes por mês ele ameaçava-a…
Até quando?
… até que ele veio para Portugal trabalhar, deixando-a no Brasil grávida. Uma jovem mulher que conheceu um único amante não se liberta facilmente da carne… e grávida ainda menos, porque agora ele é será sempre o pai. A violência e o medo eram mais que razões para não ir atrás dele... Mas foi! e porquê? Porque a mãe disse-lhe que o filho tinha mudado! Todavia em Portugal a brasileira teve do brasileiro mais do mesmo! Porrada à quinta-feira quando não era à quarta e ameaças de morte à segunda-feira, quando não era Domingo… A saudade dos entes queridos, uma vida de guerra aprisionada pelo medo e a falta de amigos a quem recorrer minaram-lhe a saúde… foi ao fundo do abismo e para não enlouquecer subiu-lhe o suicídio à cabeça… pensou-o e fê-lo!, com comprimidos! O seu acto não teve uma desfecho trágico por uma unha negra, foi socorrida a tempo…
… dias depois, sem qualquer estratégia - enquanto trabalhava com o marido em cima dum andaime no 7º piso a lavar vitrinas – disse-lhe que o ia deixar. O homem reagiu como sempre reagia, mal – com ódio. Agarrou-a pelas costas e levou-a à força para a beira do andaime. Lá de cima fê-la olhar cá para baixo. Não fosse a pronta reacção de uma terceira pessoa e o seu corpo teria feito no trajecto da queda uma perfeita linha recta. Já tinha escapado da morte 3 vezes! do cortinado enrolado no pescoço, dos comprimidos misturados no estômago e de uma potencial queda do sétimo andar... então, um dia decidiu que estava disposta a tudo, esperou pela oportunidade de estar sozinha e saiu do lar das ameaças sem saber ao certo para onde… bateu em muitas portas blindadas... procurava uma nova casa, um novo trabalho, alguém que a acolhesse... e dias depois, a olhar-se ao espelho, temeu o frio de ser arrastada para baixo do limiar da pobreza... por isso, para manter a dignidade foi trabalhar para um bar de engate!,
… Os bares de engate que eu espreitei há anos atrás, eram escuros, com musica ambiente a meio som e tinham como clientes grupos de homens com as mais variadas profissões, desde mecânicos de automóveis a empresários da construção civil. Assim que eles se sentavam vinham duas ou três meninas perguntar se lhes pagavam algo de beber… elas explicavam-lhes que era a condição para poderem ficar a conversar com eles… se pagassem uma ou duas garrafas de champanhe permaneceriam com eles mais tempo… entre elas havia as que se prostituíam e as novas na profissão que o não faziam ainda…
… a decisão de trabalhar num desses bares de alterne foi um dos factores para a prostituição de facto… desse trabalho de empregada de bar de alterne até ao de se prostituir na rua foi um passo… disseram-lhe que ganhava mais...
... é cómica! quando o amigo lhe pergunta qual a posição que gosta mais, diz que é a sinto, a sinto muito! No quarto da pensão para onde leva os clientes, se lhe pedem para se pôr de quatro para mostrar o rabo, nega-se a fazê-lo – diz que não gosta de se sentir mulher objecto!, se lhe perguntam se engole, diz que sim mas só leite de vaca… não geme porque diz que é ridículo… e não goza porque não sente prazer com homens desconhecidos… se lhe dão palmadas no rabo vira-se para trás e diz ao cliente – pare com isso!
... tem um rosto belo de traços finos mas não deixa que lhe tirem uma foto... receia decerto... o quê não sei... diz como se fosse de admirar, que o pai do seu segundo filho com quem se juntou, era seu cliente!, - fala no filho com ternura - mostra as fotos dele que guarda da carteira às pessoas de quem gosta! revela sentido orgulho em afirmar que a irmã é uma mulher direita e bem casada!
… passado alguns anos neste trabalho que ela alcunha de tourada tem hoje menos pudor em confessar o que faz...
“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento.”
ResponderEliminarFlorbela Espanca
Caro Difamador,
Palavras irônicas...
Situações irônicas...
Uma protagonista irônica ...
Um autor irônico?
Certamente a vida é a própria ironia! A mais perfeita manifestação do falso acaso...
Não desviemos do texto:
“...Duas a três vezes por semana ele possuía-a e cinco e seis vezes por mês ele ameaçava...”
Palavras irônicas descrevem a dualidade da protagonista. A mesma q afirma não querer ser “mulher objecto”, aceitava ser amada assim... espero q tal pobre ser tenha sim mudado... concordo com Heráclito ao dizer q ninguém atravessa duas vezes o mesmo rio...
“...Já tinha escapado da morte 3 vezes! do cortinado enrolado no pescoço, dos comprimidos misturados no estômago e de uma potencial queda do sétimo andar...”
Situações irônicas... tantos tentam viver e não conseguem, tantos outros desejam o contrário e o inverso acontece! Ironia, ironia, ironia... talvez a solução seja “trapacear” fingir não almejar o q ardentemente se quer... ironicamente algo me diz q não daria certo...
“... passado alguns anos neste trabalho que ela alcunha de tourada tem hoje menos pudor em confessar o que faz...”
“... sente orgulho em afirmar que a sua irmã é uma mulher direita...”
Eis uma protagonista irônica... na sua tourada particular ela parece vencer dentro das suas próprias regras, seria ela o touro? A quem entrega as orelhas? Uma tourada sem capa, touro, toureiro... ou olé? Dizem q os irmãos são geneticamente os parentes com maior proximidade genética... (qdo do mesmo pai e mãe) e o q os diferenciam??? A ironia das oportunidades? A sabedoria das escolhas? Quem poderia dizer? Quem quer saber? Quem não gostaria d o saber?
A sua coletânea, revelaria o seu estilo irônico ou um modo “fotográfico” d ser fidedigno ao q se percebe? Quem saberia dizer?
Uma história triste, ironicamente bem contada...
Deliberações d um Girassol...