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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

o escritor tem uma história para vos contar…

não era uma vez um homem feliz, era um farrapo de um ser humano que vasculhava o lixo com profundidade, enfiando os braços e as mãos dentro dos contentores... quando acontecia vê-lo tinha o cuidado de ser discreto para lhe poupar a vergonha que pudesse sentir ao ver-me; notei depois o erro em ter para com ele esse cuidado, porque quando uma vez me viu foi como se eu não estivesse ali… Era imune a essa vergonha… aprendera a não esperar que não houvesse ninguém para o ver… A sua total indiferença remetia-me para a frase os outros sempre serão outros… e o desprezo que lhes dava (a quem o pudesse estar a ver) era bem patente ao continuar a vasculhar o lixo - como se não houvesse viva alma a observá-lo - em busca de algo que pudesse ter algum valor... Ao pensar que por causa da vergonha nos inibimos de agir, perdendo o valor da oportunidade, senti vontade de ter para com o mundo igual indiferença!
...Contou-me um amigo que uma vez não pediu o telefone a uma mulher que havia conhecido, e com quem conversara durante horas, por vergonha de o fazer num velório… Mas onde é que está escrito que não se pode pedir o número de telefone a uma mulher num velório?! foi o que eu lhe disse… agora ele espera o acaso de voltar a ver, apesar de dizer que tem quase a certeza de isso não vir mais a acontecer… perdeu a oportunidade e não terá outra!, é como ir atrás de uma mulher bonita e não entrar no mesmo metro!... é um fenómeno comum entre os homens, aproximarem-se de um desconhecida com ganas de a conhecer para depois recuarem… sem se conseguirem apresentar…
outro dia um politico qualquer apareceu na TV com um corte de cabelo desacertado, e ouvi o comentário do meu amigo sexagenário…
- há cada corte de cabelo, lá para os meus lados - referindo-se aos Punks - vejo cada galo de Barcelos…
Achei-lhe piada porque tenho bem presente a imagem de um galo de Barcelos e a crista enorme… enfim quando menos se espera ouve-se um dizer um comentário com piada…
Quando os oiço tento memorizá-los para depois deixá-los escritos!... é caso para dizer que a Arte é filha da memória…
Jantava outro dia um amigo meu com uma senhora que angaria para ela mesma clientes na rua, confessando-lhe ela que lhe doíam as nádegas porque caíra de bêbada numa discoteca…
- Como é que foi isso possível, não bebes um vinho maduro às refeições porque tem álcool e embebedas-te num sábado à noite…
- Dói-me isto tudo – tocando com a palma da mão nas nádegas – hoje não vou poder trabalhar…
- Ah pois não vais não!
Conta-me que lhe pergunta como é que ela foi parar àquela vida…
- Como é que vieste parar à prostituição? Conta-me!
(…)

1 comentário:

  1. Caro Difamador,

    Seguem os melhores momentos:

    1. “...não era uma vez um homem feliz, era um farrapo de um ser humano...”

    2. “...aprendera a não esperar que não houvesse ninguém para o ver… a sua indiferença remetia-me para a frase os outros sempre serão outros…”

    3. “...Arte é filha da memória...”

    4. “...não bebes um vinho maduro às refeições porque tem álcool e embebedas-te num sábado à noite...”

    Considerações:

    Esses quatro diferentes pensamentos sugerem desdobramentos e infinitas deliberações, mas como tudo em demasia é veneno para o espírito e eu não pretendo antecipar a decisão do Sol vou me ater aos itens 2 e 3...

    Sem dúvidas é filha da memória, na sua concepção, mas na sua “erupção” descontrolada, na larva que ao passar transforma para sempre o local maculado pela emoção de uma obra original ela é produto de vários elementos interligados naturalmente e inconscientes da sua importância... universos particulares... os mais sensíveis não simplesmente olham... eles são hipnotizados, adentram por lugares onde outras pessoas não ousariam... são porta-vozes do que percebem em seus mais aguçados sentidos, traduzem isso em forma de ARTE! Um artista não dorme, não desperta... ele flui... ele simplesmente existe, mesmo contra a sua vontade, seus sentidos são apurados e isso não se limita ao horário comercial... tudo ganha um ponto de vista original sob a ótica do artista... como se apenas ele ouvisse uma longínqua flauta que insiste em tocar... num ritmo bem particular... não há escolas, ensino formal, manuais... ninguém ensinou a Camões, a Dickens, a Tolstoi etc... a serem artistas... eles já carregavam em suas células esse dom próprio do estilo, da beleza, da ousadia... degredados, bem-sucedidos, incompreendidos... o que importava? Era mais poderoso do que eles... era o talento que lhes tinha o domínio não o contrário... é difícil entender isso? O resto... bem o resto é apenas convenção de críticos invejosos e pouco corajosos... A arte é incontrolável, não é comercial, nem adaptável, ela revela o contexto social, histórico e em especial o estilo do artista! Por isso, há tantas interpretações quantas forem as pessoas, mas isso não quer dizer que haja uma opinião mais nobre ou correta... são apenas opiniões e as mais semelhantes ao perfil do público acabam sendo acatadas... é uma espécie de democracia pseudo-intelectual... sim pois a democracia é o direito conquistado pela maioria... mas e se essa maioria for composta de doentes, frustrados, covardes e hipócritas??? Eles realmente estariam em melhores condições de decidirem qualquer coisa que seja em detrimento de uma minoria marginalizada, livre e pensante que se nega a seguir o curso do rio??? (Dissertaria horas, dias, vidas sobre o tema, mas o sono chega... e não pretendo aborrecer ao nobre escritor)

    Ponto dois... o meu favorito!

    Que frieza a sua em escrever isso! O fato é que se espera muito dos semelhantes, refiro-me aos semelhantes mesmoooo... aos que estão num patamar social, cultural e intelectual nivelado ao de cada um... o que vier deles, geralmente incomoda, mas dos demais... o que vier é lucro... porque não se espera muita coisa mesmo! Eis uma lição sábia que aprendo de uma vez por todas por meio dessa passagem... “o desdém a quem nos desdenha nos dá liberdade de agir como bem desejamos”... essa é a real liberdade, não se prender a nada (especialmente a opiniões de quem não nos considera)... percebo que se criam elos pesados ao longo da vida e para rompê-los é um sofrimento! E a principal prisão é a mental a intelectual! Por que a opinião de terceiros deveria ser tão valorizada? Por que o maltrapilho deveria se envergonhar da sua condição diante de alguém que em nada contribuiu para a sua melhoria? Quanta sabedoria latente... às custas sem dúvidas de tanta dor e rejeição ao longo de uma jornada nada doce, mas plena de aprendizados!


    Impressões de um Girassol muito sonolento...
    Zzzzzzzzzzzzzzzzzzz

    P.S. Seja bem-vindo ao lar! É bom lê-lo!

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