…do banco da carruagem do metro onde estou sentado costumo ver uma jovem atraente retirar da malinha uma pequena caixa de plástico transparente, contendo drageias coloridas. Com cuidado agarra-as com a ponta dos dedos leva-as aos lábios, ajeita-as na boca e engole-as uma a uma sem água….
Ela está ali mas não está; não sente o mundo que a rodeia, não o vê, não o ouve; tão absorta e alheada está da vida ao seu redor... os passageiros olham para ela, mas ela olha para o chão… ou melhor não olha, tem apenas a cara virada para baixo…
Se o destino quisesse que eu a ajudasse a reerguer-se decerto que a ajudaria, mas uma barreira invisível de receio e timidez separa-nos como um vidro e sinto que para lhe tocar precisaria do saber quebrar com subtileza – mas como? se ela está ali como se não estivesse – para falar-lhe precisaria primeiro de a acordar e isso seria notado por todos!, - ela assustar-se-ia, faria aquela cara de estupefacção – ou pior ainda - apontar-me-ia o dedo e diria: - Vejam não o conheço e o louco ousa falar-me!!!
... e Eu? imobilizado, penso, não consigo deixar de pensar, preso da fobia do estranho tímido... doloroso querer tanto falar-lhe... insuportável a tensão crescente, até perder a vontade de estilhaçar as vidraças negras da apatia; derrotado, olho-a uma vigésima vez...
...penso «o inferno são os outros, eu falar-lhe-ia se estivéssemos a sós… »
ajudá-la a ser era ajudar-me a ser também… os pensamento nesse sentido confrontam-se com as forças das mil correntes que me atam de mãos e pés…
se ao menos ela levantasse os olhos…
dez minutos passaram, ela nem os moveu…
a espessura do vidro aumentou - é insuportável o fracasso…!, não irei nunca ajudá-la, ela seguirá a sua vida e eu a minha… mais dia menos dias voltará à consulta com o Psiquiatra – ele não saberá explicar-lhe a solução para o mal de que padece porque de igual mal nunca padeceu - deveria mostrar-lhe um espelho e dizer-lhe : veja para ali, é você! - viu!? a dimensão do seu alheamento!? – mas não! do espelho só existe mesmo o medo ao espelho -
Se ela interagisse com o mundo o mundo a salvaria – mas o Psiquiatra não a ajudará a conseguir esse feito – não a ensinará a dar por ela própria esse pequeno passo – antes lhe prescreverá mais consulta e muitas drogas - em forma de drageias coloridas - e ela vai tomá-las uma a uma!
leva o tratamento à risca, ao segundo, chega àquela hora esteja onde estiver abre a mala, tira a pequena caixinha, e com a ponta dos dedos leva as drageias à boca e engole-as todas, sentada no banco da carruagem do Metro, sem reparar em mais nada...
Ela está ali mas não está; não sente o mundo que a rodeia, não o vê, não o ouve; tão absorta e alheada está da vida ao seu redor... os passageiros olham para ela, mas ela olha para o chão… ou melhor não olha, tem apenas a cara virada para baixo…
Se o destino quisesse que eu a ajudasse a reerguer-se decerto que a ajudaria, mas uma barreira invisível de receio e timidez separa-nos como um vidro e sinto que para lhe tocar precisaria do saber quebrar com subtileza – mas como? se ela está ali como se não estivesse – para falar-lhe precisaria primeiro de a acordar e isso seria notado por todos!, - ela assustar-se-ia, faria aquela cara de estupefacção – ou pior ainda - apontar-me-ia o dedo e diria: - Vejam não o conheço e o louco ousa falar-me!!!
... e Eu? imobilizado, penso, não consigo deixar de pensar, preso da fobia do estranho tímido... doloroso querer tanto falar-lhe... insuportável a tensão crescente, até perder a vontade de estilhaçar as vidraças negras da apatia; derrotado, olho-a uma vigésima vez...
...penso «o inferno são os outros, eu falar-lhe-ia se estivéssemos a sós… »
ajudá-la a ser era ajudar-me a ser também… os pensamento nesse sentido confrontam-se com as forças das mil correntes que me atam de mãos e pés…
se ao menos ela levantasse os olhos…
dez minutos passaram, ela nem os moveu…
a espessura do vidro aumentou - é insuportável o fracasso…!, não irei nunca ajudá-la, ela seguirá a sua vida e eu a minha… mais dia menos dias voltará à consulta com o Psiquiatra – ele não saberá explicar-lhe a solução para o mal de que padece porque de igual mal nunca padeceu - deveria mostrar-lhe um espelho e dizer-lhe : veja para ali, é você! - viu!? a dimensão do seu alheamento!? – mas não! do espelho só existe mesmo o medo ao espelho -
Se ela interagisse com o mundo o mundo a salvaria – mas o Psiquiatra não a ajudará a conseguir esse feito – não a ensinará a dar por ela própria esse pequeno passo – antes lhe prescreverá mais consulta e muitas drogas - em forma de drageias coloridas - e ela vai tomá-las uma a uma!
leva o tratamento à risca, ao segundo, chega àquela hora esteja onde estiver abre a mala, tira a pequena caixinha, e com a ponta dos dedos leva as drageias à boca e engole-as todas, sentada no banco da carruagem do Metro, sem reparar em mais nada...
Pelo menos duas relevantes reflexões me atormentam: Quantas pessoas passam por isso todos os dias? Como poderia ajudá-las?
ResponderEliminarE para aumentar a minha angústia, a minha mente ecoa um sonoro: Não seiiiiiiiiiiiii!!
A garota da vida cinza, anestesiada e apática, não consegue escapar do seu próprio mundo...Ela me comove e me faz ressaltar as cores da minha vida!!! Pq nenhum problema é tão grave quanto o de se estar anestesiado, entorpecido d forma a não ser tocado pelos acontecimentos alegres ou não... a sua angústia é tão severa consigo q ela não suportaria esperar por um simples copo d'água para ajudar a ingerir o bálsamo para a felicidade em forma das tais drágeias coloridas... quisera eu ser esse copo d'água... bom seria se ela visse os mesmos girassóis q eu vejo pelo caminho e q percebesse a brisa morna, suave e constante q sinto ao caminhar sem destino ou razão, numa vida que jamais se torna cinza nem com o tempo mais fechado... lindo texto.