hoje na fila de uma padaria antiga de Lisboa, das que têm ainda uma pedra mármore as paredes pintadas de branco e o cheiro característico da farinha e do pão quente acabado de cozer, eu e mais 4 clientes mulheres aguardávamos para sermos atendidos. Uma delas pediu quatro bolos e um pãozinho quente se houvesse. Havia muitos mas frios. Para lho dar a padeira ausentou-se e «foi lá para dentro» como as clientes depois diziam a quem ia chegando e que perguntavam por ela. Três minutos depois a cliente atrás de mim dizia impaciente: - Tanta demora! Deve estar a fazer o pão.
Aproveitou a deixa quem primeiro havia pedido o pão quente - para mostrar que partilhava a indignação das clientes por causa da demora da boa da padeira que dali se ausentara para lhe fazer a vontade - e disse : - sim só pode estar a fazê-lo! Pedi um pão quente apenas, pensei que mo traria depressa. Se soubesse que demoraria tanto não teria pedido...
E disse logo outra:
- É esta padeira que é diferente das outras; de vez em quando dá-lhe uns vaipes umas manias e esquece-se aqui da gente..
- Se isto já se viu!... A fila já aumentou... e por este andar vai chegar à rua...
- É um bocado tresloucada... – disse outra. - Eu calado, caladinho, ouvia. Pensei: tenho que escrever isto para os digníssimos leitores do meu Blog lerem... Enquanto assim meditava as mulheres continuaram a caluniar a padeira... Nisto chega a padeira de rompante, apressada... consciente da demora e do incómodo que causara às clientes, mas com o pão quente para a cliente que lho tinha pedido. Calaram-se de imediato todas como se com medo... Foi então que me lembrei dos Humilhados e Ofendidos de Dostoievski...
Lembro-me sempre de Dostoievski quando me acontece testemunhar episódios na essência análogos, quero dizer quando a falta de bom senso das pessoas, perante a vítima, toma o partido dos carrascos; e quantos aproveitando-se do chavão “por vezes temos que dizer as verdades” não se fazem passar por falsos moralistas para não serem notados de atiçar o grupo contra o indivíduo acusando-o de anti-social, quando é na verdade o próprio ao atiçar o grupo que se revela anti-social e xenófobo. Estes agitadores que falam para linchar o indivíduo com a ajuda da ignorância e da tendência dos sujeitos para adquirirem o comportamento da maioria, reconheço-os a léguas. E digo é esta a diferença entre eu e eles... eu tomo o partido do indivíduo... e penso devo ser diferente por ter interiorizado Dostoievski... Mas apesar do orgulho pessoal de ter escolhido Dostoievski para meu guia, não estou imune da tristeza de constatar que no meio do grupo - seja ou não a vitima - devo afastar-me – julgando-me depois o grupo - na figura dum escorraçado doente – quando na verdade me afasto de escorraçadores doentios.
A solidão não é apenas a fuga dos doentes, pode ser também a fuga aos doentes...
Assim escutei do sábio Zaratustra.
Amanhã certamente voltarei a ir à padaria testemunhar a rapidez com que a padeira atende as clientes e faz os trocos...
Aproveitou a deixa quem primeiro havia pedido o pão quente - para mostrar que partilhava a indignação das clientes por causa da demora da boa da padeira que dali se ausentara para lhe fazer a vontade - e disse : - sim só pode estar a fazê-lo! Pedi um pão quente apenas, pensei que mo traria depressa. Se soubesse que demoraria tanto não teria pedido...
E disse logo outra:
- É esta padeira que é diferente das outras; de vez em quando dá-lhe uns vaipes umas manias e esquece-se aqui da gente..
- Se isto já se viu!... A fila já aumentou... e por este andar vai chegar à rua...
- É um bocado tresloucada... – disse outra. - Eu calado, caladinho, ouvia. Pensei: tenho que escrever isto para os digníssimos leitores do meu Blog lerem... Enquanto assim meditava as mulheres continuaram a caluniar a padeira... Nisto chega a padeira de rompante, apressada... consciente da demora e do incómodo que causara às clientes, mas com o pão quente para a cliente que lho tinha pedido. Calaram-se de imediato todas como se com medo... Foi então que me lembrei dos Humilhados e Ofendidos de Dostoievski...
Lembro-me sempre de Dostoievski quando me acontece testemunhar episódios na essência análogos, quero dizer quando a falta de bom senso das pessoas, perante a vítima, toma o partido dos carrascos; e quantos aproveitando-se do chavão “por vezes temos que dizer as verdades” não se fazem passar por falsos moralistas para não serem notados de atiçar o grupo contra o indivíduo acusando-o de anti-social, quando é na verdade o próprio ao atiçar o grupo que se revela anti-social e xenófobo. Estes agitadores que falam para linchar o indivíduo com a ajuda da ignorância e da tendência dos sujeitos para adquirirem o comportamento da maioria, reconheço-os a léguas. E digo é esta a diferença entre eu e eles... eu tomo o partido do indivíduo... e penso devo ser diferente por ter interiorizado Dostoievski... Mas apesar do orgulho pessoal de ter escolhido Dostoievski para meu guia, não estou imune da tristeza de constatar que no meio do grupo - seja ou não a vitima - devo afastar-me – julgando-me depois o grupo - na figura dum escorraçado doente – quando na verdade me afasto de escorraçadores doentios.
A solidão não é apenas a fuga dos doentes, pode ser também a fuga aos doentes...
Assim escutei do sábio Zaratustra.
Amanhã certamente voltarei a ir à padaria testemunhar a rapidez com que a padeira atende as clientes e faz os trocos...
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