cansado da rotina habitual - àquela hora: ir para casa sem desviar um palmo do habitual caminho - estacionei o carro na zona do Saldanha. De antemão sabia que a vida que me esperava no decorrer da pequena fuga à rotina haveria de ser pouco mais que o nada - ainda assim abri a porta do carro e sai. Confesso: mais não desejava do que seria lícito a vida ofertar-me - um pouco de emoção! A sua proveniência agradar-me-ia mais se da interacção com os outros - na livraria Almedina - a emoção de ver uma mulher que por lá encontrasse a ler um livro. Havia por lá algumas. Olhei todas, mas nenhuma, sentadas ou de pé, reparava os raros estranhos que as olhavam sequiosos do tom de uma voz nova. Perdida a esperança, deambulei por ali a ler os títulos dos livros expostos e porque não lesse qualquer titulo original que me tocasse eu também não lhes tocava. Então, quis o destino, a vida, que reparasse na fotografia duma capa. Era duma senhora idosa e dum outro senhor idoso, a Marguerite Duras e François Mitterrand. E mais pela idade deles do que pela fama decidi-me a ler umas linhas. Em boa hora o fiz. Nas primeiras páginas falavam da morte e dos sentimentos que experimentamos quando pensamos nela. E para que os livros ainda valessem pelo brilho das grandes frases este tinha uma que nem um sol. A frase, escrita por uma jovem vítima do holocausto, estava entre aspas e Marguerite referia-se-lhe – usava-a – realçava-a – quando a li eh pá emoção pura. – Receei logo ir-me dali embora sem a levar – tentei decorá-la – parecia-me que seria capaz – mas porque confio pouco na minha memória um tanto quixotesca transcrevi-a para o telemóvel – “O verdadeiro sofrimento é aquele que tememos.” – não precisei de ler mais, aquilo bastou-me. Como vos disse, acho que não peço muito à vida, apenas que não se limite a um nada repetitivo e maquinal.
O que não pude encontrar das e nas pessoas – a emoção - encontrei-a numa frase dum livro. É uma razão mais que válida para se escrever e editar um – espero que não depois da vida - já houve um que o fez - Kafka -
O que não pude encontrar das e nas pessoas – a emoção - encontrei-a numa frase dum livro. É uma razão mais que válida para se escrever e editar um – espero que não depois da vida - já houve um que o fez - Kafka -
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