é no mínimo frustrante constatar da observação do comportamento das pessoas normais como se indispõem tão facilmente se algum estranho as aborda; de imediato o julgam como louco chegando mesmo a temê-lo, a injuriá-lo ou até mesmo a incriminá-lo; não dão tempo a que o tempo, as palavras proferidas, os enquadre na “normalidade” higiénica. Todavia são elas as ditas pessoas normais as primeiras a elogiarem filmes que retractam personagens que na vida real considerariam de loucas, por “invadirem” a esfera da vida alheia e, com a sua energia, preencherem o vazio quotidiano dos burgueses… pois são muitos os argumentos dos filmes onde tudo gravita em torno de um excepcional personagem. A lista é grande, são filmes rentáveis. Vendem. Ora não venderiam se o povo burguês, não os apreciasse. Mistério!, porque gostam de elogiar no cinema os extraordinários comportamentos que repudiam no seu quotidiano? Se se vêem interpelados por um semelhante louco não lhes ocorre jamais que possa ser tão ou mais interessante que a pessoa retratada no filme do realizador tal. Isso não lhes ocorre. De imediato o temem e do mesmo se apreçam a afastar-se, a não ser que previamente o reconheçam como um VIP, ou uma qualquer figura do Jet Set… Mas porque vos falo disto? É que eu e muitos outros eus que são outros que não eu fomos somos e haveremos de continuar a ser exactamente um dessas personagens loucas, que os burgueses não sabem apreciar senão no cinema. Talvez porque sejamos mais loucos que artistas, ou mais artistas que loucos, o certo é que quando interpelamos alguém na rua que desconhecemos totalmente somos alvo de muita hostilidade. As suas expressões e os seus olhos não deixam azo a dúvidas. Então nós afastamo-nos tal qual cão envergonhado, orelhas baixas, olhar baixo e cauda entre as pernas...
Há nas histórias dos filmes europeus ou americanos, uma certa relutância em apresentar o louco sem uma primária justificação. Há quase sempre a preocupação de primeiro anunciar o “Louco”, uma explicação da origem do seu carácter, quase sempre um misto de um destino sócio-infeliz e e de um dom obstinado. Cervantes no seu não menos famoso D Quixote, relata-nos que a sua loucura se devia ao facto curioso de ler, de dia, desde o nascer do sol ao pôr do sol, e de noite, desde o pôr do sol ao nascer, e desse modo, de tanta leitura, lhe secou o cérebro. Todavia é esse mesmo cérebro, seco ou louco, a força de uma personagem que passou para a esfera do real e se tornou tão ou mais real que alguém que verdadeiramente existiu. Resta saber agora se não é legítimo e crível que os loucos não possam sê-lo sem causa ou explicação, porque eu tenho encontrado alguns que o são sem qualquer razão. Não tiveram infâncias traumáticas, não leram demais, não foram vítimas de nenhum erro da natureza, antes foram por ela favorecidos em inteligência e energia. Rotulam-nos dos “Nervosos”, dos que acordam mais cedo do que a vida, dos que aceleram as frases e os actos, pela sua busca incessante do prazer na vida, cientes da sua brevidade. É por eles e pela humanidade que aqui levo a minha embaixada, porque eles são, e haverão de ser, sementes que dariam muito fruto se o mundo os soubesse cultivar. Todavia caiem mais das vezes no valado improdutivo de onde raramente saem pelos seus próprios meios; estendem eles a mão a quem passa perto do curso das suas vidas… cansados de ouvir dizerem-lhes terem dentro de si as forças que não sente… salvam-se mui poucos… a ousaria dizer aqueles a quem uma musa generosa lhes agarra a mão...
Flora disse...
ResponderEliminarO medo de viver assusta a própria vida...
A verdade é que todos têm os seus fantasmas, suas frustrações, seus receios etc. A vida, nem sempre, segue o curso que se deseja e para proteger-se das influências “nocivas” dos bem-humorados (sim, eles são intoleráveis por insistirem rir em meio às calamidades), maldosos ou simplesmente chatos de plantão, pode-se notar que a maioria das pessoas protege-se, repelindo-se umas às outras (a pior defesa é o ataque)... Vivem numa espécie de "redoma blindada" que lhes desobriga da necessidade de contato, mas não é só do contato puro (conversar, cumprimentar, solidarizar-se...)... Há mais a ser revelado... Muito mais, pq cada caso é um caso e cada um é produto das suas experiências (alegrias, conquistas, tristezas, incompreensões... cada qual sabe de si...).
Lembrei-me de um filme que assisti, há muito tempo, cujo nome não consigo recordar... Era alguma coisa relativa ao "encanto das rosas" a protagonista tinha muito receio de viver, de se abrir para a vida. Nem ela, nem ninguém percebia o quanto ela era superficial nos seus relacionamentos. Certo dia conheceu um homem que tinha uma floricultura e aí a vida passou a se mais colorida e perfumada... Aliás, apenas parecia mais colorida, pq ela não se permitia internalizar aquelas cores. Enfim, o tal homem lhe propôs casamento... ela se viu no momento da decisão, tal como David Ames na última cena do “Vanilla Sky”... David escolheu “abrir os olhos” e saltou de um arranha-céu, enfrentando o maior dos seus medos... mas a mulher do outro filme se fechou em sua “concha”. Ela declinou... Não aceitou a proposta, deixando o seu pretendente desolado... bem, bem, bem... não há vilões nem mocinhos... assim é a vida. E a vida é o espetáculo único cheio de improvisações e que não permite ensaios... Ela o recusou, mas não pq não quisesse sentir o amor que ele tão naturalmente lhe oferecia... ela apenas sentiu medo e errou... e quem não erra??? Ela voltou ao seu casulo para não sair da sua "zona de conforto", solitária, mas familiar, ela estaria a salvo se pudesse controlar a situação... e alguém só consegue controlar plenamente alguma situação se a conhecer bem.
No entanto, vendo uma peça de teatro infantil, ela se inspira em uma cena específica. Uma garotinha dormia e alguém dizia que ela, daquele modo, estaria a salvo do sofrimento, pq estava em paz sonhando... maaaaaaaaaaas outra pessoa fala que isso é uma pena pq apesar de realmente não ser tocada pelo sofrimento, ela também não poderia ser tocada pela felicidade do amor. A-bra-ca-da-bra!!! Plim!!! Epifania... epifania... ela despertou do encanto e se refez... a mulher desperta no sono da alheia garotinha.
O mundo pode parecer um mau lugar, talvez ele seja difícil mesmo, mas não se deve julgar um lugar pelas pessoas insensíveis, cruéis ou apenas frágeis e temerosas... todos estão tentando evoluir... talvez poucos consigam, mas a caminhada segue. Se as pessoas não sorriem com o seu sorriso, tb não lhes chore as lágrimas. Afinal de contas é preciso ter a certeza de que se escolheu ser a pessoa certa... então, nada mais importa tanto...
... Impressões de um pensamento que não sossega... Devaneios... Talvez sim... Talvez não... “hi stranger” deixou-me com um gosto amargo nos lábios por ser real demais, à queima roupa e ao mesmo tempo cheio de arabescos... Tentei adoçá-los com o meu ponto de vista.
Eu sei que “falei” demais, mas ainda sinto que não foi o suficiente, nunca é...